sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Al Qaeda enfrenta os EUA no Iêmen

Segundo Washington, o coração do movimento jihadista Al Qaeda agora bate no Iêmen. É lá que atua sua franquia mais operacional, e é lá que os Estados Unidos mais estão ameaçados. As autoridades americanas fizeram vários anúncios alarmistas nos últimos dias. O departamento de Estado confirmou, na terça-feira (6), ter evacuado os funcionários diplomáticos "não essenciais". Um avião deixou o país na direção de uma base militar na Alemanha, com quase 70 pessoas a bordo.

Cerca de vinte missões diplomáticas americanas foram fechadas, desde o dia 4 de agosto, no Oriente Médio e na África. Essas medidas foram tomadas, no que diz respeito ao Iêmen, também pelo Reino Unido, pela França, Alemanha e Noruega, mas de diferentes formas. "Estamos agindo mais por princípio de precaução do que por uma ameaça identificada", afirmou o governo da França na segunda-feira.

Já os americanos justificam essa mobilização com um "conjunto de elementos" coletados pelos serviços de inteligência sobre planos da AQPA (Al Qaeda na Península Arábica). Entre estes figuram sobretudo mensagens trocadas entre o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, e Nasser al-Whahichi, o número um da AQPA, indicando planos de atentado, segundo o Pentágono.

"É muito sério, eu vi as informações, trata-se de uma ameaça vinda dos mais altos escalões da Al Qaeda e particularmente direcionada para a península Arábica", disse na CNN Dutch Ruppersberger, membro (democrata) da comissão de inteligência da Câmara dos Representantes.

Um golpe duro para a AQPA
Os sites islamitas radicais, sobretudo aqueles utilizados como canais habituais de comunicação pela Al Qaeda e seus aliados, estiveram bem movimentados nas últimas semanas, sobretudo após o anúncio oficial, no final de julho, da morte do xeque Said al-Chehri, mais conhecido como Sofiane al-Azdi, líder do braço militar da AQPA.

Morto por um ataque de drone americano, em outubro de 2012, ele era considerado o cofundador dos braços saudita e iemenita da Al-Qaeda, em janeiro de 2009. Al-Chehri, assim como Al-Whahichi, era um ex-prisioneiro de Guantánamo. Ele havia sido entregue em 2007 às autoridades sauditas como parte de um programa de reabilitação criado por Riad, antes de fugir e entrar para as fileiras jihadistas.

Sua morte, que havia sido revelada pelo Iêmen no dia 24 de janeiro, foi um golpe difícil para a organização terrorista. Para os serviços antiterroristas ocidentais, ele encarnava a ameaça mais profissional em termos de ação clandestina. Ele também era suspeito de ter orquestrado, em março de 2012, o sequestro do vice-cônsul da Arábia Saudita em Aden, ainda nas mãos da AQPA.

Esse duro golpe dado na organização jihadista faz parte de um contexto cada vez mais hostil e perigoso para a AQPA, que tem enfrentado uma campanha de ataques de drones americanos contínua e sangrenta. Outros membros da AQPA foram eliminados desde então. Na terça-feira, ao amanhecer, segundo Sanaa, quatro homens foram mortos por tiros dentro de um veículo, e entre eles estariam Saleh Ali Gouti e Saleh al-Tais al-Waili. Foi o quarto ataque em duas semanas.

Um número três vezes maior de ataques de drones desde 2011
Diante desses sucessos, a Al Qaeda tinha o dever de reagir, pelo menos no terreno da propaganda, ameaçando se vingar. Isso porque a adversidade só aumentou. Segundo a New American Foundation, um grupo americano que os contabiliza, os ataques de drones aumentaram três vezes desde 2011.

Depois de ter aproveitado o enfraquecimento do regime iemenita com a saída do presidente Ali Abdallah Saleh em 2012, e de ter assumido o controle de cidades no sul do país, a AQPA teve de recuar diante da ofensiva do novo governo apoiado pelos americanos e encontrou refúgio em zonas montanhosas muito acidentadas.

No dia 1º de agosto, durante uma visita oficial aos Estados Unidos, o novo presidente iemenita, Abd Rabbo Mansour Hadi, ainda reafirmou, ao lado de Barack Obama, "a sólida cooperação" entre os dois países no combate à Al Qaeda. Na noite de segunda-feira, o Ministério da Defesa iemenita divulgou uma lista das 25 pessoas procuradas no país por pertencerem à Al Qaeda.

Reduzida a uma estratégia de atos de sabotagem e de assassinatos direcionados cometidos por comandos de homens de moto e visando oficiais iemenitas, a organização hoje está em recuo, mas não sem capacidade de reação. "Ainda existem elementos muito determinados (...) e, financeiramente, eles obtiveram muito dinheiro colocando as mãos em setores inteiros da economia do sul do Iêmen", acredita Dominique Thomas, pesquisador do EHESS (sigla para escola francesa de ciências sociais).

Paradoxalmente, o discurso alarmista americano veio em um momento em que a "AQPA nunca esteve tão frágil, desde que foi criada", ressalta um membro da comunidade da inteligência francesa, que também acrescenta que nem por isso o risco é nulo. "Todos os serviços estão atrás de um ex-estudante de química, Al-Assiri, que oferece à AQPA um conhecimento bastante preciso e inovador em matéria de explosivos."

O Hotel Sheraton é transformado em bunker pelos americanos
E o fim próximo do ramadã, período tradicionalmente propício para a retomada de ações terroristas pelo mundo, acaba se somando aos motivos de preocupação entre os ocidentais. No cenário político iemenita, os últimos dias do Diálogo Nacional, aberto pelo governo para recuperar margens do país que por um tempo podem ter apoiado o campo islamita radical, constituiriam uma outra ocasião para a AQPA marcar simbolicamente sua resistência.

Nesse contexto, Washington optou então por uma comunicação que acentua os potenciais riscos ao abafar a verdade sobre o enfraquecimento da AQPA. "Esse episódio também permite que os Estados Unidos insistam na utilidade de seus meios de combate ao terrorismo em um momento em que eles são acusados de se servirem disso contra seus aliados com o Prism", observa a mesma fonte dentro da inteligência francesa.

Ainda que alguns funcionários americanos tenham deixado o Iêmen, o Hotel Sheraton, em Sanaa, transformado em bunker pelos americanos, não esvaziou. E, a exemplo de Cabul ou de Bagdá, há tempos que nenhum cidadão americano, no Iêmen, vive fora de uma zona extremamente protegida. Os deslocamentos dos ocidentais obedecem a normas muito rígidas que não mudaram desde domingo. Em 2012, o fim do ramadã já havia dado lugar a um amplo destacamento de forças de segurança no país para evitar qualquer ataque.

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