Enquanto em torno da praça Taksim continuavam os protestos populares no sábado (13), a mídia turca se voltava para o Cairo. Há vários dias a agência oficial de notícias Anatolie vem transmitindo ao vivo as manifestações da praça Rabia al-Adawiya, onde estão reunidos os partidários do presidente deposto Mohammed Mursi. A questão egípcia tem ocupado amplamente a agenda política turca. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan realizou várias reuniões de crise: com o presidente da República, Abdullah Gül, na quinta-feira; com o chefe dos serviços de inteligência (MIT), Hakan Fidan, no sábado.
"Meu presidente no Egito é Mohammed Mursi, pois ele foi eleito pelo povo. Considerar as coisas de outra forma seria desprezar o povo", ele declarou no mesmo dia, durante o ritual jantar de quebra do jejum de ramadã, o iftar. Já o ministro das Relações Exteriores, Ahmed Davutoglu, reuniu os embaixadores de países do Oriente Médio para um briefing regional que durou mais de catorze horas.
O diplomata turco no Cairo foi convocado na terça-feira pelo ministério egípcio para ser repreendido. A Turquia foi alertada contra tentativas de "ingerência" nos assuntos internos egípcios depois de ter sido um dos países mais críticos em relação à intervenção do exército contra Mursi. Davutoglu declarou como "inaceitável" esse "golpe de Estado", e todos os partidos políticos turcos, do partido kemalista até o partido pró-curdo, condenaram em uníssono a manobra dos militares.
Dentro da rede islamita, de onde saiu o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder na Turquia, a esfera próxima da Irmandade Muçulmana se mostra a mais virulenta. O Partido da Felicidade (Saadet Partisi), vestígio do movimento islamita turco Milli Görüs, organizava na noite de domingo uma grande manifestação "contra os golpes de Estado" para "mostrar que somos milhões ao lado do povo egípcio", declarava Selman Esmerer, oficial da região de Istambul. Uma delegação da Irmandade Muçulmana egípcia estava presente.
No sábado, um coletivo de organizações islamitas organizou um iftar em frente ao consulado do Egito em Istambul, no elegante bairro de Bebek, bem como em uma dezena de cidades por todo o país.
A Fundação pelos Direitos Humanos e Socorro Humanitário (IHH), a ONG que havia fretado o Mavi-Marmara em 2010 para tentar forçar o bloqueio israelense de Gaza, também lutou por seus "irmãos egípcios" e por Mursi. Uma delegação da IHH exigiu "explicações" à Justiça do Cairo e ofereceu seus serviços para uma assistência jurídica aos líderes do Partido da Liberdade e da Justiça e da Irmandade Muçulmana, detidos desde a intervenção militar. No sábado, um pedido de visita foi feito oficialmente junto ao procurador-chefe egípcio.
Queixa por "golpe de Estado"
Organizações dessa esfera islamita, de acordo com o jornal pró-governamental "Sabah", prestaram queixa por "golpe de Estado" contra o general Al-Sissi e os principais oficiais militares egípcios junto ao procurador de Ancara. Ahmet Faruk Ünsal, o presidente da ONG Mazlum-Der, confirmou sua vontade de ver os "golpistas" sendo julgados. Um processo simbólico poderia ser aberto, assim como o que levou à Justiça os oficiais militares israelenses após o ataque fatal contra o Mavi-Marmara.
Para o primeiro-ministro Erdogan, prefeito de Istambul em 1997, no momento do último golpe de Estado militar contra o governo islamita de Necmettin Erbakan, o último dos quatro golpes desde 1960, o paralelo é evidente. No Egito, assim como outrora na Turquia, o exército se colocou como responsável pelas instituições e interrompeu à sua maneira um processo democrático ao se opor ao veredicto das urnas.
Então os oficiais turcos, traumatizados pelas experiências recentes, se identificam com a Irmandade Muçulmana egípcia. "Um golpe de Estado militar ocorreu no Egito, ainda que eles não aceitem o fato. Sofremos muito com golpes militares. Não queremos que nossos irmãos egípcios sofram disso também. É a única coisa que importa", declarou Erdogan na semana passada, ao pedir pela libertação imediata de Mohammed Mursi. Sua proximidade com este último, principal convidado em Ancara durante o último congresso do AKP, em setembro de 2012, no qual Erdogan foi reeleito triunfantemente, provavelmente é um outro motivo da mobilização.
Por fim, para o jornalista turco Cengiz Candar, especialista em Oriente Médio, a deposição da Irmandade Muçulmana é "uma questão existencial para Erdogan e para o AKP". Foi um golpe dado na ascensão de partidos saídos do islamismo político na região e, portanto, no AKP, que chegou ao poder em 2002 e pretendia se tornar um modelo. "É como se houvesse um temor nas fileiras do AKP," diz Candar, " de que o partido possa ter de enfrentar acontecimentos similares". Os deputados turcos votaram no sábado uma emenda para o artigo 35 do Código das Forças Armadas, algo que o exército interpretava até então como um direito de intervenção nos assuntos políticos.
O Turcos estão certos, ainda q os iankSS queiram mudar de nome esse acontecimento...trágico.Sds.
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