Eles invadiram bairros inteiros da capital tunisiana. Todo mês, seu número aumenta. Milhares de camelôs estão tomando conta das calçadas de Túnis, oferecendo a quem passa toda espécie de artigos: camisetas, óculos, utensílios de cozinha… todos "made in China". Em certos setores, eles são tolerados. Em outros, são proibidos e somem rapidamente cada vez que aparece a polícia.
Em todas as grandes cidades tunisianas, o mesmo fenômeno vem se reproduzindo. A economia informal está estourando. "Isso mata o comércio e também a economia. É a chaga da Tunísia de hoje!", esbraveja Riad Ben Fadhel, diretor do Groupe Impact, uma consultoria em publicidade.
Pouco mais de dois anos após a queda de Ben Ali, a economia pena para voltar a decolar. Porém, a Tunísia está longe de ser a "nova Grécia", como o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) admite. Mas os 4% de crescimento anunciados para 2013 pelo governo --uma coalizão dirigida pelos islamitas do Ennahda-- seriam bem difíceis de atingir, acreditam os observadores. Para eles, o mais realista seria 2,7%.
Ainda que criticado, o setor informal constitui uma válvula de segurança em um país onde o desemprego atinge oficialmente 17% da população, mas 50% nas regiões do interior e mais ainda entre os jovens formados.
Clima tenso
Entre seu crescimento inerte, uma inflação jamais registrada até então (6,5%), a depreciação do dinar e os investimentos em ponto morto, a Tunísia ultimamente vem acumulando dificuldades. O clima não é explosivo, mas está tenso. "Com a desaceleração do turismo e a produção de fosfatos paralisada por causa das greves, a cada ano perdemos entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2,5 bilhões (R$ 3,3 bilhões a R$ 5,5 bilhões)", ressalta Mustapha Kamel Nabli, ex-presidente do Banco Central. "É claro, a crise na Europa não nos ajuda, mas a maior parte de nossos problemas se deve à nossa situação interna."
Anunciado no início de junho, o plano de ajuda de US$ 1,7 bilhão do FMI não chega a tranquilizar os economistas. "Se esse empréstimo for para investimentos, será algo bom. Mas, se servir ao consumo, é preocupante. Na mesma tarde do dia 8 de junho, quando foi feito o acordo com o FMI, nós começamos a pagar US$ 150 milhões para o orçamento, prova de que estamos atravessando sérias dificuldades!", se preocupa Hassine Dimassi, professor de economia na Universidade de Sousse.
Só a caixa geral de compensação (que amortiza o custo dos produtos de primeira necessidade, mas primeiro o dos combustíveis), agora absorve um quinto do orçamento do Estado. Um nível "insustentável", acredita o atual presidente do Banco Central, Chedly Ayari, que diz lamentar o fato de que as autoridades de transição não tenham adotado uma política de austeridade logo após a revolução, em janeiro de 2011. "Chegaram a fazer o contrário!", ele condena, em alusão aos amplos aumentos de salário e aos recrutamentos de servidores públicos.
Empresários e empreendedores não falam em outra coisa. Nasr Ali Chakroun, diretor do grupo de engenharia informática 3S, não tem palavras duras o suficiente para criticar a classe política inteira, monopolizada pela elaboração da nova Constituição, de olho nas eleições gerais que deverão ser realizadas ao longo de 2014.
"Não votei no Ennahda, no entanto não considero que ele tenha destruído a economia tunisiana, mas sim a esquerda e os sindicatos. O Ennahda é somente culpado de não ter conseguido resistir", afirma Chakroun, lamentando que os islamitas só tenham uma preocupação: "manterem-se no poder", e que a oposição de esquerda só tenha um assunto: "Tudo menos o Ennahda!".
Em seu escritório em frente à Kasba, Elyes Fakfakh, o ministro das Finanças (do partido Ettakatol, centro-esquerda), está tentando reduzir o drama das coisas: "A situação é difícil, mas de forma alguma catastrófica. Nossas reservas de câmbio ainda são de três meses de importações. Quanto à bacia mineradora de Gafsa, o pior já passou: 80% da produção e da exportação de fosfatos já foram retomados." Para ele, a hora é de "política" e não se deve "apressar a reta final", pois a economia sofre com essa transição caótica.
Para Antonio Nucifera, economista-chefe para a Tunísia no Banco Mundial, o país terá de enfrentar sem demora um "grande desafio": encontrar para si um novo modelo de desenvolvimento. Ele acredita que o antigo sistema instituído por Ben Ali, baseado em um crescimento off-shore, de pouco valor agregado, e em um sistema de privilégios, está ultrapassado.
Será preciso mudar para um modelo que se apoie em "concorrência e mérito", único meio de ter uma economia competitiva e não somente de "oficinas de montagem". Para ele, a virada será difícil, mas é algo urgente. Senão, ele prevê que a Tunísia se afundará em seus problemas de desemprego e de revoltas com todos os riscos de um descontrole generalizado.
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