Martin Sonneborn, presidente do partido "Die Partei" |
Há apenas uma forma da chanceler Angela Merkel, contando com uma vantagem imensa nas pesquisas de opinião, perder na eleição geral em 22 de setembro: ela teria que contratar a equipe de campanha do desafortunado rival social-democrata, Peer Steinbrück, diz o líder do Die Partei (O Partido), um pequeno partido político irreverente que promete animar aquela que está se tornando a eleição geral mais maçante em uma geração.
Em uma entrevista para a "Spiegel Online", o presidente do partido, Martin Sonneborn, 48, coeditor da "Titanic", uma revista satírica, disse que colocaria Merkel em julgamento em uma jaula se chegasse ao poder, por sua suposta contribuição para a queda do Muro de Berlim. É um tema muito importante para ele porque o Die Partei, fundado em 2004, já fez campanha com a plataforma de reconstrução do Muro. "Nós já retiramos essa política de nosso manifesto, mas ela continua popular", disse Sonneborn.
Na sexta-feira passada, o Die Partei foi aprovado oficialmente pela agência responsável por supervisionar as eleições federais alemãs como um dos 38 partidos que podem concorrer. Seu maior sucesso eleitoral até o momento ocorreu em maio, quando um de seus membros foi eleito para o conselho municipal de Lübeck, uma cidade no norte. Foi a primeira vez que ele saboreou o poder desde que um membro de conselho municipal pelo Partido de Esquerda, na cidade de Leverkusen, desertou para o Die Partei.
Sem debate e nenhum no horizonte
"Nós somos o partido que deseja conquistar o poder como qualquer outro partido, mas estamos tentando conseguir isso em parte com métodos satíricos", diz Sonneborn. O Die Partei envolve uma organização plena com diretórios regionais, um tesoureiro e nada menos que oito candidatos a chanceler. Ele conta até mesmo com uniformes para seus membros --"ternos cinza C&A, à venda por 49 euros".
Pode ser que a campanha ainda decole, é claro, mas ela carece até o momento tanto de valor como de entretenimento quanto de um discurso político firme. Não há nenhuma batalha real, e nenhuma no horizonte, a menos que o escândalo da Agência de Segurança Nacional americana exploda na face de Merkel.
A sagaz chanceler empurrou sua União Democrata Cristã (CDU) para a esquerda, se apropriando de muitas das políticas favoritas do Partido Democrata Cristão (SPD). E os principais partidos concordam de modo geral em como lidar com a crise do euro. Ela também está bem à frente de Steinbrück em termos de popularidade pessoal. Os alemães a consideram uma aposta segura e eles apreciam a forma como ela conduziu a Alemanha em meio à crise do euro sem impor-lhes um fardo financeiro excessivo.
A CDU conta com 16 pontos percentuais de vantagem sobre o SPD na mais recente pesquisa de intenção de voto. Mas ela pode ter dificuldade em formar uma coalizão estável. Na verdade, a composição de seu governo é no momento a única incógnita, porque seu atual parceiro, o Partido Democrático Livre (FDP), pró-empresas, perdeu dramaticamente apoio desde a última eleição em 2009. Ainda assim, poucas pessoas acreditam seriamente que Merkel não conquistará o terceiro mandato.
''Ela representa ainda menos posições do que nós"
Quando lhe é pedido para explicar o segredo do sucesso dela, dada a ausência quase total de grandes políticas ou reformas em seu atual mandato, sua inclinação por guinadas radicais, sua frequentemente criticada falta de liderança ou visão, e as recentes revelações de que ela foi uma secretária para "Agitação e Propaganda" na organização jovem FDJ na Alemanha Oriental comunista, Sonnenborn disse: "Ela representa ainda menos posições do que nós. E isso diz algo."
Além disso, nem mesmo o próprio partido de Steinbrück parece acreditar que ele tem alguma chance. O único destaque real da campanha até o momento ocorreu em junho, quando Steinbrück, conhecido como um cavalo de guerra político, calejado e que fala sem rodeios, chegou perto das lágrimas quando sua esposa, Gertrud, em uma conferência do SPD, disse a todos para que parassem de atacá-lo. A mídia tem criticado duramente o candidato propenso a gafes, cuja frase mais memorável até o momento foi a exigência de melhores salários para os chanceleres.
Logo, se você quiser uma controvérsia séria, é preciso recorrer ao Die Partei, ao que parece. Sonneborn está disposto a fazer sua parte.
Manifesto controverso
"Frau Merkel faz parte da gangue perigosa de três alemães orientais que são responsáveis pela abertura do Muro. O plano deles era dominar o país e transferir todo nosso dinheiro para o Leste", disse Sonneborn. Os outros dois são o presidente Joachim Gauck e Matthias Sammer, o diretor de esportes do clube de futebol Bayern de Munique. Sonneborn não elaborou nas acusações. Em vez disso, ele esboçou outras promessas de campanha:
- Construir um muro em torno da Alemanha para enfrentar a globalização, a turbulência no mercado financeiro e a crise do euro.
- Limitar o salários dos diretores a 25 mil vezes o salário do trabalhador comum.
- Usar o controverso método de mineração por fratura hidráulica, ou "fracking", em Peter Altmaier, o corpulento ministro do meio ambiente da Alemanha, para liberar os "tremendos recursos de energia" dentro dele.
- Proibir as maratonas de bares por turistas estrangeiros nas cidades interioranas alemãs.
- Complicar ainda mais o sistema tributário alemão, para que as grandes empresas não possam mais encontrar brechas para economizar dinheiro.
- Seguir o exemplo da Grécia e fechar emissoras públicas como a "ARD" e a "ZDF", fazê-las pagarem retroativamente suas taxas de licença e pedirem desculpas por sua programação.
- Levantar 5 milhões de euros por meio de crowdfunding para financiar a dinamitação do palácio municipal barroco de Berlim assim que for reconstruído. E para erguer em seu lugar um grande "Palácio do Die Partei", supostamente em estilo comunista, ou uma grande piscina. "Nós promoveríamos um concurso de ideias para isso", explicou Sonneborn.
- Reduzir para 10 anos a idade de término da escola para resolver o problema demográfico de uma sociedade em envelhecimento.
- Reduzir a idade de votar visando estimular o apoio eleitoral ao Die Partei.
"Fascismo humanista"
Mas o Die Partei só tornará seu manifesto plenamente conhecido após a eleição, diz Sonneborn. Ele reconhece que algumas medidas seriam dolorosas, insinuando vagamente para os planos de nacionalização forçada e expropriação de bancos, assim como uma redistribuição radical da riqueza.
"Só é possível enfrentar as multinacionais e os bancos de uma posição de força", diz Sonneborn, que segue uma ideologia que ele descreve como "fascismo humanista" ou "ditadura com uma face humana". O sistema político da Alemanha, ele diz ominosamente, precisa ser "modificado".
Ele desdenhou o Partido Pirata pró-internet e o novo partido antieuro Alternativa para a Alemanha como carentes de seriedade, apontando que o Die Partei é bem mais estabelecido, por ter sido fundado há nove anos.
"Esta campanha eleitoral está tão tediosa porque ainda não estamos participando dela", disse Sonneborn. "Nós vamos mudar isso."
Nenhum comentário:
Postar um comentário