sexta-feira, 12 de julho de 2013

Melhorias repentinas no Egito sugerem campanha orquestrada para enfraquecer Mursi

As ruas têm fervilhado com protestos e os antigos ministros do governo fugiram ou estão na prisão. Mas desde que os militares depuseram o presidente do Egito, Mohammed Mursi, a vida de alguma maneira ficou melhor para muitas pessoas em todo o país: as filas para comprar gasolina desapareceram, os cortes de energia elétrica pararam e a polícia voltou às ruas.

O fim aparentemente milagroso dos incapacitantes apagões e o ressurgimento da polícia parecem atestar que as legiões de funcionários públicos que mantiveram seus empregos após o ex-presidente Hosni Mubarak ter sido deposto, em 2011, desempenharam um papel significativo --intencional ou não-- para minar a qualidade de vida da população durante o governo islâmico de Mursi.

E, enquanto o governo interino se esforça para unir uma nação dividida, a Irmandade Muçulmana e os partidários de Mursi dizem que essa súbita reviravolta é prova de que os adversários do governo islâmico conspiraram para que Mursi fracassasse. Não só os policiais pareciam ter desaparecido durante o governo de Mursi, como também as agências estatais responsáveis pelo fornecimento de energia elétrica e de gasolina falharam tão terrivelmente que as filas para comprar combustível e os constantes apagões alimentaram revolta e frustração generalizadas.

"Todos esses acontecimentos constituíram preparativos para o golpe de Estado", disse Naser el-Farash, que atuou como porta-voz do Ministério do Abastecimento e Comércio Interno durante o governo Mursi. "Diferentes círculos dentro do Estado, que vão das instalações de armazenamento até os caminhões que transportam combustíveis e os postos de gasolina, todos participaram a fomentar a crise."

Trabalhando nos bastidores, os membros do antigo "establishment", alguns deles próximos de Mubarak e dos principais generais do país, também ajudaram a financiar, fornecer consultoria e organizar quem estava determinado a derrubar a liderança islâmica. Entre essas pessoas estão Naguib Sawiris, bilionário e inimigo declarado da Irmandade Muçulmana, Tahani El-Gebali, ex-juíza do Supremo Tribunal Constitucional, próxima dos generais que assumiram o governo, e Shawki al-Sayed, consultor jurídico de Ahmed Shafik, o último primeiro-ministro de Mubarak, que perdeu a disputa presidencial para Mursi.

Mas foi o retorno da polícia às ruas que ofereceu o sinal mais evidente de que as instituições que um dia foram leais a Mubarak cruzaram os braços enquanto Mursi estava no poder. Durante todo o seu mandato de um ano, Mursi se esforçou para apaziguar a polícia, mesmo ao custo de alienar seus próprios aliados, em vez de tentar fazer uma reforma no Ministério do Interior. Mas, enquanto as taxas de crimes aumentavam e as ruas ficavam cada dia mais congestionadas, comprometendo não só a qualidade de vida, mas também a economia do Egito, a polícia se recusava a colocar na rua todo o seu efetivo. Até agora.

Os policiais vestidos de branco voltaram às ruas do Cairo, e as forças de segurança, amplamente desprezadas antes e depois da revolução, intervieram usando gás lacrimogêneo e armas de fogo contra os islâmicos durante os confrontos de rua generalizados da semana passada, levando os manifestantes contrários a Mursi a enaltecê-las, como se seus membros fossem verdadeiros heróis. Outdoors que foram instalados por toda a cidade mostram um policial cercado por crianças sorridentes e as palavras: "Sua segurança é a nossa missão, sua segurança é o nosso objetivo".

"Havia policiais e civis que trabalhavam seguindo uma política específica, que era contrária aos extremistas islâmicos e aos islâmicos em geral", disse Ihab Youssef, policial aposentado que dirige uma associação profissional das forças de segurança. "Então, de repente, o governo muda e um regime islâmico se instala no poder. Psicologicamente, essas pessoas nunca conseguiriam aceitar isso."

Em 2011, quando Mubarak foi deposto, após quase 30 anos no poder, a burocracia que ele criou se manteve, em grande parte, do mesmo jeito. Muitos líderes empresariais, que também atuavam como pilares do antigo governo, mantiveram sua riqueza e influência no novo governo.

Apesar de ter chegado ao poder por meio das eleições mais livres da história do Egito, Mursi era incapaz de estender sua autoridade sobre o extenso aparato do Estado egípcio, e seus aliados reclamaram que o que eles chamavam de "estado profundo" estava minando os esforços de Mursi para governar. Apesar de Mursi ter fracassado em ampliar seu apelo e em criar qualquer tipo de consenso nacional, ele também enfrentou uma campanha ativa travada por aqueles que eram hostis à sua liderança, incluindo alguns dos sustentáculos mais ricos e poderosos da era Mubarak.

Sawiris, um dos homens mais ricos do Egito e um titã do antigo "establishment", disse na quarta-feira passada que apoiou um grupo recém-formado, chamado "tamarod" (que significa "rebelião" em árabe). Esse grupo liderou uma petição cujo objetivo era retirar Mursi da presidência. Sawiris permitiu que o tamarod usasse gratuitamente os escritórios em todo o país e a infraestrutura do partido político que ele criou, o Free Egyptians (Liberdade para os Egípcios). Ele também permitiu que o grupo exibisse anúncios em sua popular rede de televisão e no principal jornal privado do Egito, do qual é acionista majoritário. Sawiris até chegou a encomendar a produção de um vídeo de música popular que tocou muito em sua rede.

"O tamarod nem sabia que eu era o doador", disse ele. "E eu não me envergonho disso."

Ele disse ter previsto publicamente que a derrubada de Mursi reforçaria a combalida economia do Egito, pois traria bilhões de dólares em ajuda das ricas monarquias do petróleo, que estão temerosas que o movimento islâmico possa se espalhar e alcançar seus territórios. Até quarta-feira passada, um total de US$ 12 bilhões já tinham sido enviados ao Egito por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. "Essa quantia deverá nos manter por 12 meses sem nenhum problema", disse Sawiris.

Gebali, a ex-juíza, disse em entrevista concedida por telefone na quarta-feira passada que ela e outros especialistas em direito ajudaram o tamarod a elaborar sua estratégia de apelar diretamente aos militares para derrubar Mursi e entregar a presidência interina a Hazem el-Beblawi, ex-chefe do Tribunal Constitucional.

"Nós percebemos que havia uma movimentação e uma criatividade por parte da população. Por isso, queríamos ver se esses fatores poderiam ter um efeito e uma base constitucional", disse Gebali.

Farash, o porta-voz do Ministério do Comércio do governo Mursi, atribuiu a escassez de combustível às pessoas que vendiam o produto no mercado negro e que estavam ligadas a Mubarak --que desviava carregamentos de combustível subsidiado pelo governo e o exportava para obter lucro no exterior. Funcionários corruptos contrários à introdução, levada a cabo por Mursi, de um sistema de cartões inteligentes para rastrear os carregamentos de combustível boicotaram a iniciativa ao se recusarem a utilizar os dispositivos, disse Farash.

Mas nem todos concordaram com essa interpretação dos fatos. Os partidários do governo interino disseram que as melhorias observadas nos últimos dias são reflexo da incompetência de Mursi, e não uma conspiração. Meios de comunicação estatais disseram que a escassez de combustíveis ocorreu porque os consumidores compraram gasolina extra por medo, sentimento que aparentemente evaporou após a queda de Mursi. Na quarta-feira passada, o Al Ahram, o principal jornal estatal, disse que, pela primeira vez em meses, a rede de energia elétrica do país havia registrado um excedente na semana passada graças às "medidas de economia de energia adotadas pela população".

"Eu me sinto como se o Egito estivesse de volta", disse Ayman Abdel-Hakam, juiz de um tribunal criminal de um subúrbio do Cairo, depois de esperar apenas alguns minutos para encher o tanque de seu carro em um posto de gasolina do centro da cidade. Ele acusou Mursi e a Irmandade Muçulmana de tentarem se apropriar de todo o poder do Estado e de provocar a crise dos combustíveis devido à exportação de gasolina para o Hamas, grupo militante islâmico da Faixa de Gaza.

"Nós tínhamos uma doença, mas nos livramos dela", disse Abdel-Hakam.

Ahmed Nabawi, gerente de um posto de gasolina, disse que tinha ouvido várias explicações para a crise da gasolina: problemas técnicos em uma instalação de armazenamento, a importação de um carregamento de gasolina de baixa qualidade e a estocagem desnecessária realizada por parte da população. Mesmo assim, Nabawi ficou surpreso com a rapidez com que a crise desapareceu.

"Nós fomos dormir uma noite e acordamos no dia seguinte e a crise tinha ido embora", disse ele, casualmente tomando chá em seu escritório com seus colegas.

Segundo ele, independentemente das razões por trás da crise, o governo de Mursi não ajudou.

"Ninguém queria cooperar com o pessoal de Mursi, pois ninguém não o aceitava", disse Nabawi. "Agora que Mursi se foi, as pessoas estão novamente trabalhando como deveriam."

Um comentário:

  1. A irmadade agr tem certeza q foi golpe. E p q a mesma ñ volte ao poder terá ser lançada na clandestinidade, caso contrario, sempre terá o poder ...Quem viver verá.Sds.

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