terça-feira, 23 de julho de 2013

EUA leva para África combate a extremistas

Quase todos os dias, ou ocasionalmente duas vezes por dia, um "drone" (avião não tripulado) americano desarmado decola de uma isolada pista de pouso militar em Niamey, iniciando uma missão de vigilância de dez horas ou mais para localizar combatentes ligados à Al Qaeda e outros militantes no vizinho Mali.

Os dois "drones" MQ-9 Reaper baseados aqui enviam vídeos e dados ao vivo a analistas americanos que trabalham em cooperação com comandantes franceses. Segundo estes, as informações colhidas pelos "drones" têm sido cruciais para o sucesso de seu esforço, nos últimos quatro meses, para expulsar jihadistas do norte do Mali.

Estabelecida em fevereiro e operada por 120 membros da Força Aérea americana, a base de "drones" é o indicativo mais recente de como a África vem se tornando prioridade para os Estados Unidos, num momento em que esse país reduz sua presença no Afeganistão. Isso faz parte de um novo modelo para o contraterrorismo -uma estratégia que visa ajudar forças locais (e, neste caso, um aliado europeu) a combater militantes, para que tropas americanas não precisem fazê-lo.

Mas a abordagem tem limitações num continente tão grande, onde a escassez de recursos é crônica e os parceiros regionais são fracos. A introdução de "drones", mesmo que desarmados, corre o risco de gerar o mesmo tipo de reação negativa já vista no Paquistão e em outras partes do mundo.

"Na África -não apenas no Senegal, mas em todo o continente- precisamos da capacidade militar para resolver esse problema. Precisamos de treinamento, de materiais e de inteligência", afirmou o presidente senegalês, Macky Sall, depois de se reunir com o presidente Obama, em junho, para discutir os temores de uma ameaça islâmica crescente no Saara.

"Os EUA enfrentam um ambiente de segurança na África que é cada vez mais complexo e, portanto, mais perigoso", disse Michael R. Shurkin, ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA) e hoje membro do Rand Corporation. "Além disso, respostas eficazes requerem conhecimentos excepcionais sobre as populações locais e sua política -o tipo de conhecimento que, muitas vezes, está fora do alcance do governo e das Forças Armadas dos EUA."

As ameaças que o Níger enfrenta são típicas das que preocupam o presidente do Senegal. O governo do presidente Mahamadou Issoufou luta para impedir a travessia de insurgentes pelas fronteiras pouco vigiadas do Níger com o Mali, com a Nigéria e com a Líbia. Em 23 de maio, terroristas suicidas usando carros-bomba atacaram um complexo militar nigerino em Agadez e uma empresa de urânio operada por franceses em Arlit, ambos no norte do país.

Esses ataques, somados à fuga de 32 detentos do maior presídio da Niamey em junho, deixaram o governo de Issoufou aberto a críticas de que seria incapaz de garantir a segurança, apesar de permitir os "drones" americanos em solo nigerino.

O governo nigerino está tão preocupado com a ameaça dos combatentes extremistas expulsos do Mali que inicialmente pediu que os "drones" fossem armados, segundo um ex-funcionário dos EUA. Autoridades da administração Obama acharam isso desnecessário.

Para africanistas, ainda existe uma possibilidade real de os "drones" desencadearem uma reação negativa. "O que se teme é que boa parte dessa reação se expresse através de canais aos quais não temos muito acesso, como as mesquitas salafistas", disse Alexis Arieff, africanista junto ao Serviço Congressional de Pesquisas, em Washington.

De acordo com um funcionário do Pentágono, autoridades francesas, americanas e nigerinas participam das decisões sobre as missões diárias dos "drones", mas uma das prioridades delas vem sendo dar suporte à campanha francesa no Mali. Os EUA já lançaram mais de 200 missões de apoio às forças francesas. Há a possibilidade de que expanda suas operações para dar apoio a uma força das Nações Unidas composta principalmente de tropas africanas, que em 1° de julho assumiu o controle da missão de manutenção da paz.

Em março, em alguns dos combates entre as forças lideradas pela França e os combatentes islâmicos, os "drones" sobrevoaram uma região do Mali, fornecendo informações sobre alvos que seriam atacados desde o ar.

Nas últimas semanas, enquanto os combatentes que sobreviveram desapareceram no deserto e nas montanhas, os Reapers têm vasculhado grandes extensões do norte do Mali em busca de sinais de infiltração militante ou de novos redutos secretos. Autoridades do Pentágono dizem que as missões com "drones" vão continuar mesmo depois que a França reduzir sua força no Mali.

A França ficou impressionada com os Reapers, tanto que pretende comprar pelo menos dois dos EUA. "Eles têm sido absolutamente necessários para nós", falou um funcionário francês em Paris, "não temos 'drones' suficientes para proteger nossas tropas e ter visibilidade permanente do que acontece em terra."

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