Ao final de uma semana de consultas, o primeiro-ministro Hazem Beblawi revelou, na noite de terça-feira (16), a composição do governo que será encarregado de coordenar a difícil transição que aguarda o Egito. Depois de prestarem juramento perante o presidente interino, Adli Mansour, os 34 ministros realizaram seu primeiro conselho à noite, no palácio presidencial de Ittihadiya, no Cairo, na presença do primeiro-ministro, do presidente e do vice-presidente, Mohamed ElBaradei.
"É um governo de tecnocratas. A maior parte é de ex-ministros que passaram pelo governo após a queda de Hosni Mubarak, mas é difícil avaliar o desempenho deles", analisa o cientista político egípcio Tewfik Aclimandos.
Na linha de frente das manifestações do dia 30 de junho, a oposição laica e liberal, reunida dentro da Frente da Salvação Nacional (FSN), recebeu cinco importantes pastas, bem como um posto de vice-premiê para Ziad Bahaa al-Din, que por um tempo foi cogitado para ser primeiro-ministro.
"É um governo tranquilizador para os outros países, mas que carece de cobertura política. A FSN só tem um pé lá dentro, ao passo que os salafistas saíram de jogo", observa o pesquisador. O partido salafista Al-Nur efetuou sua retirada depois de ter se dissociado do plano de transição que havia contribuído para instaurar após a destituição do presidente Mohamed Mursi, no dia 3 de julho.
"Al-Sissi é o chefe"
O general Abdel Fatah al-Sissi, arquiteto desse golpe contra o presidente islamita, manteve o posto de ministro da Defesa que ocupava desde agosto de 2012 e ganhou o título de vice-premiê. "Pela força das circunstâncias, o general Al-Sissi é o chefe. Ele tem ambições presidenciais ou pelo menos de influir na escolha de um presidente, mas terá de tomar decisões impopulares na economia a contragosto", analisa Aclimandos.
Os cargos na economia estarão entre os mais expostos desse governo, juntamente com o do Interior, confiado a um homem de dentro, Mohamed Ibrahim, e o das Relações Exteriores, que coube ao ex-embaixador dos Estados Unidos, Nabil Fahmy. A injeção de mais de US$12 bilhões (cerca de R$ 26 bilhões) por três monarquias do Golfo --Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Kuait-- oferecerá ao governo um respiro para recuperar uma economia moribunda.
No entanto, ela não deverá lhe permitir adiar indefinidamente reformas dolorosas, como a eliminação progressiva de subsídios nos preços dos bens de consumo frequente e da energia, exigida pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), em troca de um empréstimo de US$ 4,9 bilhões. Talvez seja a sinalização de um gesto nesse sentido o fato de que esses postos-chave tenham sido confiados a liberais, a exemplo de Ahmad Galal (Finanças), um economista próximo dos círculos empresariais ligados a Gamal, um dos filhos de Mubarak.
Outras nomeações dignas de nota são a de três coptas e de três mulheres que estão entrando no governo. A nomeação de mulheres como ministras da Saúde e da Informação era algo inédito no Egito.
Como era de se esperar, a Irmandade Muçulmana é a grande ausente desse governo, apesar das ofertas de pastas que lhe foram feitas pelo primeiro-ministro, Beblawi. Os representantes da confraria, a partir de sua fortaleza em Rabiya al-Adawiya, no subúrbio do Cairo, imediatamente criticaram esse governo "criado pelos tanques do exército" e que usurpou sua autoridade.
Fortalecida pela mobilização, na segunda-feira (15), de dezenas de milhares de partidários da volta à "legitimidade democrática" e do presidente Mohamed Mursi, ela respondeu com um chamado para novas manifestações na quarta-feira (17), em um "dia da determinação". A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, é esperada no Cairo para o mesmo dia.
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