sexta-feira, 19 de julho de 2013

Cuba reconhece que navio norte-coreano detido no Panamá levava armas soviéticas dos anos 1960

Houve tempos melhores para as 240 toneladas de armamento cubano encontradas na terça-feira (16) nos porões do navio norte-coreano Chong Chon Gang, escondido entre 10 mil toneladas de açúcar, quando a nave que zarpou de Cuba tentava, sem êxito, atravessar o Canal do Panamá rumo à Coreia do Norte.

Tratava-se, segundo informou mais tarde Havana na tentativa de diminuir a importância do assunto, de dois sistemas de foguetes antiaéreos Volga e Pechoga; nove foguetes desmontados em peças; dois aviões Mig-21 Bis e 15 motores usados por esses aviões. Equipamento "defensivo obsoleto", segundo o Ministério das Relações Exteriores cubano, "fabricado em meados do século passado" pela União Soviética.

Um sistema de foguetes como esse foi empregado em 27 de outubro de 1962 para derrubar o avião U-2 da Força Aérea americana que sobrevoava o território cubano, pilotado pelo major Rudolf Anderson, único oficial americano morto durante a crise dos mísseis de Cuba. A morte de Anderson é lembrada como um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, que então esteve a ponto de desembocar em um conflito nuclear.

O velho parque de guerra viajaria para a Coreia do Norte "para ser reparado e devolvido a nosso país", informou o governo de Havana no comunicado de apenas 15 linhas para explicar a origem e o destino da carga, que não tinha sido declarada às autoridades portuárias do Panamá. A nave norte-coreana foi detida no sábado (13) após denúncia de que transportava substâncias ilícitas. Até quarta-feira, Pyongyang não tinha dado qualquer explicação sobre o incidente.

Estima-se que o navio Chong Chon Gang já estava atracado em um porto cubano em 28 de junho quando ocorreu em Havana uma cúpula de comandos militares cubanos e norte-coreanos. Nesta sexta-feira, o chefe do Estado-maior do Exército Popular coreano, Kim Kyok Sik, começou uma visita de três dias à ilha, durante a qual foi recebido pelo presidente cubano, Raúl Castro, e pelo ministro das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, Leopoldo Cintra Frías.

O general Kim Kyok Sik e sua comitiva tiveram reuniões com a cúpula militar da ilha, que o levou a percorrer várias unidades militares acantonadas em Havana, entre elas a unidade de tanques Gloria Combativa Rescate de Sanguily. O encontro, segundo informou na época a mídia oficial cubana, foi uma iniciativa do Ministério das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba.

"Visito Cuba para me encontrar com os companheiros da mesma trincheira, que são os companheiros cubanos", disse o general Kim em um dos discursos publicados pelo jornal "Granma" para agradecer as honras recebidas. A Coreia do Norte tem pouquíssimos companheiros, especialmente desde outubro de 2006, quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou um embargo de armas e equipamento bélico que se acentua e se prolonga cada vez que Pyongyang realiza um teste nuclear. Somente Cuba, China, Irã e Síria rejeitaram as sanções contra a Coreia do Norte e mantêm, apesar delas, uma estreita relação política com o regime hoje liderado por Kim Jong-un.

De acordo com os termos das sanções da ONU, a Coreia do Norte está proibida de importar e exportar qualquer tipo de armamento. A proibição inclui o fornecimento, venda ou transferência de mísseis ou sistemas de foguetes, sistemas de artilharia de grande calibre, aviões de combate, helicópteros de ataque, navios de guerra, carros e veículos blindados, não importando o ano de fabricação. Cuba, por sua vez, está sujeita ao embargo comercial e econômico imposto pelos EUA na década de 1960. No quadro dessas medidas, em outubro de 1962 Washington informou a todos os governos da América Latina e dos países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que fecharia seus portos a todos os navios, de qualquer bandeira, que fossem descobertos transportando armas para Cuba.

Washington agradeceu na terça-feira às autoridades panamenhas pela detenção do navio norte-coreano, que, segundo relatórios do Instituto Internacional de Estudos para a Paz (Sipri), de Estocolmo, já havia sido capturado antes por traficar munições e drogas. O governo dos EUA não indicou, entretanto, como o incidente do Chong Chon Gang afetará a tímida aproximação com Cuba que vinha se desenvolvendo nos últimos meses; e, em particular, se esse episódio levará novamente à suspensão do diálogo migratório entre EUA e Cuba, que deveria ser retomado na quarta-feira em Washington, depois de dois anos e meio de suspensão das conversações.

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