terça-feira, 2 de julho de 2013
Base russa entra em declínio
No remoto oeste do Cazaquistão, Baikonur já orgulhou soviéticos ao abrigar o cosmódromo de Baikonur, local de lançamento do Sputnik, da cadela Laika e do primeiro homem ao espaço, Iúri Gagárin. Mas, hoje, pastores nômades das estepes próximas estão se instalando em edifícios abandonados.
Esse é apenas um dos sinais do longo declínio da cidade na direção dos problemas socioeconômicos pós-soviéticos, o que é ainda mais notável levando em conta que grande parte do mundo, inclusive os Estados Unidos, ainda depende de Baikonur para lançar voos espaciais tripulados. O único outro local para esse tipo de lançamento é em Jiuquan, no deserto de Gobi, na China.
"É doloroso pensar na minha cidade", disse Anna Khodakovskaia, editora do jornal local, referindo-se ao estado melancólico local. Os primeiros celulares chegaram aqui em 2004, e a primeira máquina de ressonância magnética, em 2011. "Não estamos à frente do planeta em nada além do espaço", disse ela.
Hoje, 70% dos moradores de Baikonur são cidadãos cazaques, mas a cidade continua sendo um enclave russo arrendado a US$ 515 milhões por ano e administrado sob jurisdição russa.
Na época da dissolução soviética, as proporções eram inversas: os cazaques eram apenas um terço da população.
Pastores, trabalhadores diaristas e feirantes andam pelas ruas. Só se vê um ou outro engenheiro russo de meia-idade.
Quase todos os prédios da cidade estão decorados com o mosaico de um foguete, de um cosmonauta em caminhada espacial ou de estrelas e representações irreais de planetas. Nas fontes, a água borbulha de chafarizes com formato de foguete, e retratos autografados de astronautas adornam as paredes dos cafés.
Baikonur é um problema remanescente da dissolução soviética que, estranhamente, tornou-se extraordinariamente importante para todos os programas espaciais tripulados, exceto os da China.
Em maio, a Nasa prorrogou por um ano, até meados de 2017, o contrato para lançamentos de astronautas em Baikonur, por uma quantia adicional de US$ 424 milhões. Atualmente, todos os astronautas americanos decolam desta cidade, substituta do Cabo Canaveral durante uma fase de interrupção das verbas para missões tripuladas nos Estados Unidos. Por causa dessa dependência, a Nasa exige que todos os astronautas em treinamento se tornem proficientes em russo antes de se formarem.
As agências espaciais da União Europeia, do Japão e do Canadá também fazem lançamentos daqui, com foguetes russos, sob um acordo com a Nasa para recomprar aproximadamente metade dos seis assentos que a Nasa adquire anualmente dos russos.
Vendo tudo isso, Baikonur poderia parece um próspero polo da atividade espacial. Mas todos os países, inclusive a Rússia, que está construindo uma nova plataforma chamada Vostochni, no extremo leste do seu próprio território, veem essa situação como temporária. Por isso, a cidade de Baikonur foi ignorada e está caindo aos pedaços.
"A Rússia não será capaz de abrir estradas e levá-las embora quando partir", disse Khodakovskaia.
Problemas sociais típicos da Ásia Central atual, como o abuso de heroína contrabandeada do Afeganistão, a migração de trabalhadores e a ascensão do fundamentalismo islâmico, estão se infiltrando na cidade.
Há alguns anos, a polícia prendeu um homem em Tura-Tam, aldeia cazaque vizinha à cerca vigiada de Baikonur, por distribuir panfletos do grupo fundamentalista islâmico Hizb-ut-Tahrir.
Tensões étnicas também fervilham em fogo brando na cidade, onde os russos detêm quase todos os empregos espaciais bem-pagos. Até mesmo o presidente Vladimir Putin, em discurso no Dia do Cosmonauta (12 de abril), referiu-se a Baikonur como "fisicamente envelhecida".
Jene Ragan, engenheira americana de software, veio como turista em maio para assistir a uma decolagem e ficou abanando as formigas voadoras enquanto observava a saída de um foguete do hangar. "Essa gente está montando foguetes, mas a cidade em si é como um país do Terceiro Mundo", observou.
Baikonur deveria ser declarada Patrimônio da Humanidade, sua importância histórica é inegável,mas os russos não podem correr o risco de depender de um sítio de lançamentos agora fora de seu território !
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