Quando ele recebeu o alerta em seu celular, Kgomotso Nkwana sentiu um "aperto no coração". No último sábado (8), Nelson Mandela acabara de ser internado no hospital pela quarta vez desde dezembro de 2012, novamente por uma infecção pulmonar.
"Mas li nos jornais que ele estava em um ótimo hospital, cercado dos melhores médicos, e acho que ele está forte o bastante para sair dessa, como tantas vezes no passado", explica esse estudante de comunicações na saída da Universidade de Johannesburgo.
Mas se isso não acontecer? E se dessa vez "ele não sair dessa"? "Ficarei triste, mas aceitaria, pois não adianta nada fazer de tudo para mantê-lo vivo, ele já fez muito por nós, está velho e também tem direito de descansar." Um colega que passava ao seu lado concordou: "Ele nos trouxe a liberdade e também merece ser libertado; se ele partir, devemos ficar felizes por ele e lhe desejar o melhor para sua nova vida depois desta."
Na noite de quinta-feira (13), o presidente Jacob Zuma visitou pela primeira vez o ex-chefe do Estado (1994-1999), que deve comemorar seus 95 anos no dia 18 de julho. Segundo um comunicado publicado na sequência, "a saúde de Madiba --também nome de seu clã-- continua melhorando, mas seu estado ainda é considerado grave".
"Estou preocupada, mas mesmo que ele morra, nunca mais poderão tirar de nós aquilo que ele nos deu", garante Lizzy Magagula, no município de Kliptown, situado no vasto subúrbio de Soweto, ao sul de Johannesburgo. "Agora temos os mesmos direitos que os brancos, podemos circular onde queremos, somos livres! Livres!", exclama um membro do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido que está no governo desde as primeiras eleições democráticas de 1994.
A alguns passos de lá, Promise Masingita, de colete laranja e amarelo fluorescente nas costas, vigia os carros estacionados na frente de um supermercado. "Todos os dias rezo para que Deus lhe dê forças para aguentar", conta o homem que teme pelo falecimento do combatente contra o apartheid: "É a única pessoa aqui que todos respeitam e, se ele se for, as pessoas se sentirão mais livres para fazer coisas ruins."
"Nada mudará", acredita Goodwill Mtshali, um morador de um bairro vizinho. "Não acredito mesmo nesses rumores de negros atacando brancos com a morte de Mandela, é completamente absurdo porque já faz mais de duas décadas que o apartheid caiu e que vivemos todos juntos."
No shopping center Nelson Mandela Square, situado em Sandton, o rico bairro empresarial de Johannesburgo, Bridget Barnard, executiva em uma empresa farmacêutica, considera pouco prováveis os riscos de "vingança". "Mas é verdade que a maior parte de meus amigos tem medo de que aconteça alguma coisa", diz essa sul-africana branca.
Kabelo Taukobong, 19, teme mais a atitude de dirigentes atuais do país: "Quando Nelson Mandela morrer, os oficiais do CNA se sentirão ainda mais livres para praticar a corrupção." "Mandela fez um trabalho formidável", diz Christopher Hodge, consultor em gerenciamento e morador da Cidade do Cabo. "Mas ele não tem mais nenhum papel ativo há uma década, e agora existe um problema de autoridade moral dentro do CNA que pode continuar piorando uma vez que ele tiver falecido", diz o consultor.
No Nelson Mandela Square, na praça central cercada de restaurantes e de lojas de luxo, há uma estátua de bronze do ícone mundial, com seis metros de altura. Para Frank Godfry, engenheiro civil, a morte de Nelson Mandela será a ocasião para iniciar um trabalho de inventário de suas realizações. "Ele mostrou que era possível mover montanhas, mas para mim ele negociou um acordo ruim com os brancos após a queda do regime do apartheid: a maioria negra acabou obtendo a liberdade política, mas o poder econômico continuou fora de suas mãos", analisa Frank Godfry.
Desmond Pitso, um estudante de marketing de 22 anos, não ficará triste quando Nelson Mandela se for. Desmond é um born free, ou seja, ele nasceu após o fim do apartheid. "Ele é o herói de meu avô, mas não o meu", ele resume. "No exterior vocês o adoram, mas hoje faço parte da nova geração que precisa sofrer as consequências de sua escolha no início dos anos 1990 de não redistribuir a riqueza econômica monopolizada ao longo da história por uma minoria." Ele aponta para o estacionamento da Universidade de Johannesburgo: "Olhe! Quem está na fila para tomar o ônibus? Negros. Quem está indo pegar seus carros? Brancos!"
Desmond Pitso, um estudante de marketing de 22 anos, não ficará triste quando Nelson Mandela se for. Desmond é um born free, ou seja, ele nasceu após o fim do apartheid. "Ele é o herói de meu avô, mas não o meu", ele resume. "No exterior vocês o adoram, mas hoje faço parte da nova geração que precisa sofrer as consequências de sua escolha no início dos anos 1990 de não redistribuir a riqueza econômica monopolizada ao longo da história por uma minoria." Ele aponta para o estacionamento da Universidade de Johannesburgo: "Olhe! Quem está na fila para tomar o ônibus? Negros. Quem está indo pegar seus carros? Brancos!"===== Ele vai morrer, e teremos outro ajuste de contas...espero estar mt errado. Quem viver verá. Sds.
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