No domingo (2), o despertar dos habitantes de Beirute foi perturbado por um estrondo que eles conhecem bem: o dos aviões de caça israelenses sobrevoando a capital em baixa altitude. Algumas horas mais tarde, eles descobriram que houve confrontos fatais na fronteira libanesa-síria entre o Hezbollah e rebeldes sírios, resultando em quinze mortes, incluindo um miliciano do movimento libanês.
Desde o dia 19 de maio, data do início da ofensiva do exército sírio para retomar a cidade de Qusair dos rebeldes, para a qual o Hezbollah enviou centenas de combatentes em ajuda ao regime, não se passa um dia sem que haja algum motivo de ansiedade para o vizinho Líbano, com sua estabilidade fragilizada.
Há incertezas em torno dos confrontos que ocorreram na noite de sábado, a alguns quilômetros de Baalbek (planície do Bekaa), bastião do Hezbollah.
Primeiro sobre a identidade dos insurgentes, que instalavam um ponto de lançamento de foguetes tendo como alvo o Líbano, segundo fontes de segurança locais. Segundo elas, seriam rebeldes do Exército Livre Sírio (ELS). Já o canal de televisão Al-Mayadine, próximo do Hezbollah, afirma que os mortos foram membros do Jabhat al-Nusra, grupo unido à Al Qaeda que combate com o ELS em Qusair.
Segundo, sobre o território dos conflitos, que ocorreram perto de Ain Jouzé, cidade libanesa próxima da fronteira síria. Nessa região montanhosa, é difícil de notar a linha de demarcação. Os combates, confirmados por fontes da oposição, aparecem como uma extensão da batalha de Qusair. Na terça-feira (28), o líder rebelde Selim Idriss havia intimado o presidente libanês, Michel Suleiman, a fazer com que o Hezbollah retirasse seus homens da cidade síria próxima do Líbano. Uma declaração sem efeito, pois diante da onipotente milícia xiita o chefe do Estado é completamente impotente.
Ao longo dos últimos dias, os disparos dos rebeldes se intensificaram contra a região de Hermel, um bastião do Hezbollah a cerca de dez quilômetros de distância de Qusair. No sábado, várias cidades vizinhas de Baalbek também foram atingidas.
O "partido do diabo"
Os libaneses temem cada vez mais que o antagonismo entre o Hezbollah e o Jabhat al-Nusra vá tomar conta de seu país. O medo de que as regiões xiitas, controladas pelo Partido de Deus, paguem pela sua ingerência na Síria, vai aumentando. Um sinal de que o conflito em Qusair está assumindo um viés cada vez mais sectário é o fato de o pregador Yussuf al-Qaradawi, astro da Al-Jazeera, ter convocado os muçulmanos sunitas a combaterem na Síria, chamando o Hezbollah de "partido do diabo". "Como 100 milhões de xiitas em todo o mundo podem vencer 1,7 bilhões de sunitas? É só porque os muçulmanos sunitas são fracos", afirmou o religioso qatariano de origem egípcia.
Os países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), dos quais vários membros, como o Qatar e a Arábia Saudita, são os principais fornecedores de armas para a rebelião síria, de maioria sunita, condenaram no domingo "a flagrante interferência do Hezbollah na Síria" e anunciaram possíveis sanções contra o partido.
À noite, em uma sequência que se tornou familiar, a Al-Manar, a televisão do Hezbollah, listava ao final do noticiário os nomes dos novos "mártires" que caíram em Qusair, onde prosseguem os combates.
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