quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cidade libanesa fica atordoada após combates entre exército e líder sunita

Soldado libanês fica ferido em embate com a milícia sunita
O crepitar de armas nas mãos de franco-atiradores do xeque salafista Ahmed al-Assir vai enfraquecendo no final da tarde de segunda-feira (24). Já o exército metralha com virulência o último bolsão de resistência, a algumas centenas de metros de lá. Ao lado de blindados enviados para uma das últimas saídas que levam até Abra, um subúrbio no alto de Sídon (sul do Líbano), soldados ajustam seus fuzis.

Fugindo dos combates, civis avançam de carro com medo de serem alvejados, cantando pneus. Não há nem sombra de pedestres. O chão está repleto de cartuchos de munição. Timidamente, Salam caminha até sua sacada. Um tanque se encontra diante de seu prédio, e pratos deixados pelos soldados se espalham pelo saguão.

A professora de inglês Salam, 54, segura as lágrimas enquanto conta sobre a loucura que tomou conta de Sídon, durante mais de 24 horas, antes que o exército assumisse o controle do reduto islamita, na noite de segunda-feira.

"Estávamos vivendo sob a ameaça de ataques de atiradores emboscados. Ninguém podia nos proteger. Mesmo quando o exército enviou seus tanques, isso não deteve os franco-atiradores. Sem contar as granadas! Era impossível colocar o nariz para fora. Foi assustador!", ela lembra.

Não há água, nem eletricidade, tudo foi cortado durante o cerco. São detalhes para Salam, que está angustiada por sua filha que mora no coração de Abra, epicentro dos combates. "Graças a Deus, o exército vai proteger a área!" Salam não quer exprimir suas opiniões políticas. Ela não se importa que o xeque Ahmed al-Assir e seus asseclas tenham a barba longa, que suas mulheres usem o niqab, cada um é livre. Mas ela se revolta contra suas armas. "Infelizmente, está escrito que o Líbano viverá sempre em guerra!"

Militares apreenderam armas pesadas na mesquita de Abra, onde havia se entrincheirado parte dos cerca de 300 combatentes de Ahmed al-Assir, que incluíam sírios. Foi no meio de cascalhos que o exército avançou, depois de ter apertado o cerco contra o baluarte do líder radical: a mesquita e vários prédios, guardados há meses por milicianos.

As forças de segurança não encontraram nenhum sinal do xeque, alvo de um mandado de prisão, nem de seus colaboradores mais próximos. Ele havia jurado que estava disposto a morrer como mártir diante do exército, mas fugiu. O saldo dos combates foi muito pesado: 16 mortos e uma centena de feridos dentro do exército, vários milicianos mortos, dezenas de civis feridos. Foi no domingo que Sídon, onde a tensão era latente, entrou em ebulição. Partidários de Ahmed al-Assir atacaram então uma barreira do exército e três militares foram mortos. O xeque garantiu que estava reagindo à prisão de várias pessoas do seu círculo, o que o exército nega. Este decidiu "acabar" com o líder salafista. Foram enviados reforços.

Esse religioso radical, que havia organizado uma manifestação em Sídon durante o verão de 2012 para exigir o desarmamento do Hezbollah, mergulhou a cidade em um estado de violência jamais visto em anos. A ascensão do xeque ao longo dos meses foi alimentada pelo conflito sírio. Ele condenava incansavelmente o banho de sangue, criticando os tradicionais líderes sunitas libaneses, se colocou como defensor da "dignidade" da comunidade e fez várias provocações.

Ele foi se tornando cada vez mais virulento contra o Hezbollah, sua nêmesis. A onipotência do partido xiita no Líbano consolidava a frustração dos sunitas. Quando o Partido de Deus reconheceu seu envolvimento militar ao lado de Bashar al-Assad, o xeque fez um apelo para combatê-lo na Síria.

"Queremos viver!"
O ataque que ele conduziu contra o exército foi condenado por figuras proeminentes da cidade, totalmente paralisada na segunda-feira pelos combates. Estes se estenderam para a região do campo de refugiados palestinos de Ain al-Heloué, onde o salafista possui simpatizantes, antes de serem contidos no meio da segunda-feira. Na estrada à beira do mar, a presença de cartuchos lembrava os confrontos da manhã.

Ayman Nasr, 44, gerente do restaurante Arouss al Baher ("A casada do mar"), assistiu à cena. "Homens armados e encapuzados desceram do centro antigo de Sídon e a briga com o exército começou."

Ambulâncias carregadas de feridos passam em grande velocidade. O comerciante, um palestino de Sídon, detesta o Xeque Assir. "Atos de violência equivalem à falta de trabalho. Dois dos meus filhos deveriam fazer provas esta segunda-feira, mas tudo foi adiado. Quando ele se limitava a rezar em sua mesquita, gostávamos muito dele. Mas quando ele começou a falar de maneira sectária, degringolou. Não aguentamos mais tensões religiosas, já conhecemos isso de cor. Queremos viver, viver juntos."

A algumas mesas de lá, Bilal, 40, acompanha os desdobramentos pela televisão. Ele hesita em falar. Para ele, "Ahmed al-Assir é a vítima. Por que o Hezbollah tem armas e não está preocupado? O exército está contra os sunitas."

Em Trípoli e em Beirute, os combates de Sídon provocaram a raiva de certas facções sunitas. Na grande cidade do Norte, homens com kalashnikovs na mão intimaram comerciantes a baixar suas portas, relata uma testemunha. Houve atos de violência no final do dia. O xeque Salem al-Rafei, uma figura salafista popular de Trípoli que havia tentado bancar o mediador entre o exército e Ahmed al-Assir, afirmou na segunda-feira que ele "não tentará mais controlar as reações de seus apoiadores", revoltados com "o que estão fazendo com os sunitas".

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