quinta-feira, 2 de maio de 2013

Opinião: França e Alemanha devem buscar entendimento

Angela Merkel e François Hollande

A França e a Alemanha não enxergam sua relação da mesma forma. Os franceses a veem como amizade, parceria, fraternidade; já para os alemães ela é acima de tudo uma "relação particular". A França, além de utilizar uma língua floreada para falar de sua relação com seu vizinho germânico, hoje tem uma relação com a Alemanha completamente fora da realidade. Ela é a amante tímida de uma relação que é vista pelos alemães, sobretudo, como algo que deve ser prático e benéfico, além de se comprazer em uma celebração que parece forçada.

A França não está no nível de sua parceira alemã. E assim como em todo casal que tenta se equilibrar, o parceiro mais seguro de si nem sempre consegue carregar seu parceiro. À medida que foi se tornando independente do ponto de vista econômico e, mais recentemente, do ponto de vista político, a Alemanha soube utilizar suas alianças e se distanciar daquelas que se esvaziaram de qualquer substância prática por não passar de uma lembrança daquilo que outrora foi bom e lucrativo.

Essa analogia de dependência naturalmente é incompleta. A França não é uma parceira inútil. Ela possui inúmeros trunfos, tanto intelectuais quanto econômicos ou políticos. Ela tem um potencial gigantesco, mas totalmente subutilizado. A França, no entanto, é totalmente desprovida de autoconfiança. Hoje ela não possui nenhuma estratégia europeia (exceto por aquela que não envolve nenhum poder de decisão) ou industrial, ambiental e econômica de longo prazo.

Mas a Alemanha também não é um país da abundância. O pleno emprego deve ser relativizado por um crescimento endêmico do trabalho precário e sem garantias sociais, bem como por uma economia sem diversificação. Nosso vizinho germânico possui, no entanto, uma confiança inexorável sobre sua capacidade de agir melhor coletivamente e de sair do impasse econômico.      

Grandeza ultrapassada    
As últimas declarações de alguns membros do Partido Socialista causaram polêmica por questionarem o consenso nacional idealizado e oficial da relação franco-alemã. Essa reação mostra a incapacidade dos franceses de saírem de uma representação mental puramente abstrata. Para os socialistas europeus que nós somos, a relação franco-alemã precisa se alimentar de matéria concreta, de legislação trabalhista e da família harmonizada e, de forma geral, de igualdade na Europa, e não de refrãos que datam do pós-guerra.

Nós, franceses, disfarçamos a angústia que sentimos por ter de pensar a relação com a Alemanha de maneira realista e menos romântica através da invocação de ícones que mais nenhum dirigente alemão destaca no panteão nacional. Mas, é sobretudo, porque as elites de cada país são incapazes de pensar de outra forma senão com ferramentas de ultrapassada grandeza e porque se convencem mutuamente que não deve ser feito nenhum questionamento, que a França hoje está atrasada.

Vamos voltar a ter visão, vamos voltar a ter uma moeda de troca, vamos estabelecer bem claramente objetivos diplomáticos e econômicos de longo prazo, vamos ser estratégicos, vamos agir junto com os colegas do SPD ajudando-os no dia a dia e não uma vez por trimestre como formalidade, e assim a relação franco-alemã será algo além de uma concha sagrada, mas vazia, revirada e meio afogada nas águas pacíficas do Reno.

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