sexta-feira, 24 de maio de 2013

Guia supremo controla a eleição presidencial no Irã

Ayatollah  Ali Khamenei

E no final, é sempre o guia que vence.

Ao barrar os dois candidatos mais ameaçadores para a autoridade do guia supremo, aiatolá Ali Khamenei, o Conselho dos Guardiões da Constituição bloqueou a eleição presidencial do dia 14 de junho e tirou boa parte de seu interesse. A instância encarregada de examinar o histórico dos candidatos, composta de religiosos e juristas, invalidou Akbar Hashemi Rafsandjani, ex-presidente da República Islâmica (1989-1997), e Esfandiar Rahim Mashaei, braço direito do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Se a eliminação de Mashaei não é surpreendente, de tão desprezado que ele é pelo clero conservador xiita, a de Rafsandjani foi mais audaciosa. Esse alto dignitário da República Islâmica foi presidente por duas vezes e candidato derrotado em 2005. Como justificar sua invalidação em 2013?

Mas, entre o risco de ver chegar à presidência um homem que disponha de uma certa legitimidade, de redes estendidas e diversificadas e de um reconhecimento internacional, e o de transformar a eleição do dia 14 de junho em uma mera paródia, o regime preferiu controlar tudo desde a raiz. Ainda que houvesse o risco de chocar até os meios religiosos que apoiam Rafsandjani. Prova indiscutível do trauma de 2009, quando milhões de iranianos contestaram nas ruas a suposta fraude que permitiu a reeleição logo no primeiro turno de Ahmadinejad, obrigando o guia a ordenar uma cruel repressão, que lhe custou uma considerável perda de popularidade.

Para evitar possíveis problemas, as autoridades bloquearam o envio de SMS na noite de terça-feira (21) em Teerã, segundo o website próximo da oposição, "Sahamnews". Ainda segundo esse veículo, era possível ver forças policiais nos principais eixos da capital, e diversos militantes da campanha de Rafsandjani foram presos preventivamente desde sábado.

A imprensa reformista recebeu a notícia da eliminação de Rafsandjani com incredulidade. O jornal moderado "Ebtekaar" deu como manchete "O grande choque", publicando uma foto de costas do candidato invalidado. Segundo sua filha Fatemeh, ele não vai recorrer. "Nesta manhã [terça-feira, 21 de maio] eles lhe pediram que se retirasse, e ele lhes respondeu: 'Não vou me retirar. As pessoas confiaram em mim e me pediram para vir. Como podem me pedir para renunciar? Não posso traí-las'", ela relatou.

Rafsandjani, frequentemente criticado por sua cobiça e ambiguidades, possuía vários trunfos em 2013. Seu oportunismo era então considerado uma qualidade para tirar o país da crise econômica na qual havia sido afundado pelas sanções ocidentais e pela gestão errática de Mahmoud Ahmadinejad. Sua suposta ou verdadeira simpatia pelo "movimento verde" de 2009 fazia dele o candidato dos jovens e da classe média urbana. Seu pragmatismo trazia a esperança de que ele poderia reconciliar por fim o Irã com os Estados Unidos, assim como em 1988 ele havia convencido o aiatolá Khomeini a colocar um fim à guerra contra o Iraque.

Mas a ele faltou o essencial: o apoio do guia supremo Ali Khamenei, que no entanto recebera sua contribuição para chegar ao trono em 1989, após a morte de Khomeini, e que ele procurou nunca criticar diretamente. Entre os dois homens aparentemente reinava uma "amizade de 50 anos", que hoje parece mais com uma apunhalada nas costas.

"Injustiça"
O outro invalidado famoso, Esfandiar Rahim Mashaei, é o chefe de gabinete do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O fato de ele ter sido cortado evidencia o enfraquecimento do presidente em final de mandato. Mashaei declarou imediatamente após o anúncio de sua eliminação que ele via ali "uma injustiça" e que ia pedir ao guia supremo para intervir e repará-la. O presidente Ahmadinejad contestou, na manhã de quarta-feira, a desqualificação de seu protegido.

"A meu ver, não haverá nenhum problema, graças ao guia, e eu defenderei sua reintegração até o último minuto", ele declarou. "Estou confiante de que esse problema pode ser resolvido". Uma declaração que só irritaria Ali Khamenei, mas que também soa como uma ameaça. O presidente na verdade controla o Ministério do Interior, encarregado de organizar as eleições, e poderia mostrar seu poder de dano nas próximas semanas, para vingar a eliminação de Mashaei.

Portanto, na disputa permanecem somente oito candidatos, todos próximos do número um iraniano, com exceção de um reformista sem envergadura, Mohamed-Reza Aref, e de Hassan Rohani, um moderado próximo de Rafsandjani.

"Precisamos parar de acreditar nessa criatura semi-morta que é o regime", exclamava na terça-feira à noite um internauta iraniano no Facebook, após o anúncio das invalidações. "Só falta nos dizerem: 'Você, o povo, não é importante, seu voto não conta. A opinião de um prevalece sobre a de todos os outros".

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