quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ex-ditador ainda motiva debates na Indonésia

Suharto
A arborizada rua Cendana, em um bairro próspero no centro de Jacarta, não mudou muito nas últimas décadas. Mas o antigo morador de uma casa que ocupa meio do quarteirão da rua iniciou mudanças drásticas na Indonésia.

Quinze anos depois de ele ter desaparecido do cenário político, continuam acirrados os debates sobre se as mudanças trazidas por ele foram boas ou ruins.

A rua Cendana é sinônimo de Suharto, o general que se tornou ditador e governou a Indonésia durante 32 anos.

Suharto, que morreu em 2008, salvou o país de uma calamidade política, social e econômica em meados dos anos 1960. Ele reduziu a pobreza e, no início dos anos 1990, havia transformado a Indonésia em uma das economias mais fortes da Ásia.

Mas governou de maneira implacável: mandou seus militares para regiões separatistas, prendeu e exilou inimigos políticos, sufocou as instituições democráticas e presidiu o que alguns consideram um dos governos mais corruptos da história moderna.

O dia 21 de maio foi o 15° aniversário da renúncia de Suharto.

Ele deixou o governo em meio a enormes protestos pró-democracia em Jacarta, a tumultos e ataques mortais a pessoas de origem chinesa em várias cidades e à calamidade econômica produzida pela crise financeira asiática de 1997.

Desde então, a Indonésia passou por uma transformação rumo à democracia. Hoje o país tem eleições livres e é a 16a economia do mundo. Mas, nesse país de 240 milhões de pessoas, a corrupção é endêmica, a criminalidade é maior do que sob o regime da Nova Ordem de Suharto e Jacarta e outras cidades têm problemas de trânsito crônicos.

"Ainda hoje, muita gente vê a época dele como os bons velhos tempos", disse Saprudin, guarda de segurança de 33 anos que só tem um nome. "Eu acho que, com o passar do tempo, mais pessoas vão se sentir assim."

Outros indonésios dizem que Suharto se agarrou ao poder, mesmo quando a economia desmoronava por causa de uma crise bancária em 1998, para proteger os interesses empresariais de sua família e associados. Eles continuam revoltados porque o presidente nunca foi julgado por corrupção e pelos abusos aos direitos humanos cometidos por seus militares e forças de segurança.

Essas forças não toleravam protestos de rua. Já hoje, vários protestos ocorrem por dia. Recentemente, cerca de 400 vendedores se manifestavam diante de um shopping center onde eles alugam espaços. Ivan Wijaya, 26, um gerente de loja no shopping, disse que a diretoria se recusou a se reunir com os locatários durante sete anos, o que os levou a organizar o protesto.

"Em 1998, não tínhamos liberdade de expressão", disse Wijaya. "Esse tipo de coisa ainda é ilegal em Cingapura e na China."

Em uma estação de trem próxima, um homem de 70 anos que comprava uma passagem disse que apoiava Suharto.

"A época de Suharto foi melhor -ele tinha uma estratégia e era um homem forte", disse o homem, chamado Sukirno, indiretamente criticando o atual presidente, Susilo Bambang Yudhoyono, outro ex-general do Exército cujos críticos dizem que é indeciso sobre questões políticas difíceis.

"A democracia aqui ainda está se formando", disse Sukirno.

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