terça-feira, 9 de abril de 2013

Thatcher libertou as forças de mercado e a Europa ainda está se ajustando

Margareth Thatcher

Com a notícia da morte de Margareth Thatcher na segunda-feira, seu sucessor distante, o primeiro-ministro David Cameron, interrompeu uma viagem à Espanha visando tratar de uma das maiores preocupações dela –as suspeitas do Reino Unido a respeito de laços mais profundos com a Europa.

Mas a marca de Thatcher na política e na economia de seu país, da Europa e do mundo vai muito além de seu nacionalismo orgulhoso. A abordagem que ela impôs a um Reino Unido dividido e relutante a partir de sua eleição como primeira-ministra, em 1979, continua ecoando mesmo em sua morte. Ela foi baseada na fé nas forças de mercado, uma disposição de impor austeridade a curto prazo visando a prosperidade a longo prazo, e ceticismo, até mesmo hostilidade, aos custos fiscais e sociais de um Estado de bem-estar social apreciado em grande parte da Europa.

Juntamente com o presidente Ronald Reagan, com quem ela ajudou a definir o conservadorismo moderno, Thatcher desenvolveu uma linha de capitalismo que se tornou dominante em todo o mundo com a queda do comunismo. Mas ela também ajudou a libertar forças de mercado e a desfazer pactos sociais de um modo que muitas sociedades ainda não conseguiram se adaptar. Até mesmo no dia de sua morte, líderes e cidadãos de Chipre até Portugal e Washington estão envolvidos em debates emocionais em torno das políticas que definiram seu legado. Essas correntes cruzadas continuam se desenrolando em seu próprio país, um laboratório no momento para políticas de austeridade.

Thatcher, 87 anos, como muitos dos obituários dedicados a ela disseram, transformou o Reino Unido, lutando por um papel menor do Estado na economia, abrindo o caminho para uma ampla privatização e desregulamentação, legitimando a riqueza, e despertando paixões aquisitivas e empresariais entre seus compatriotas que ainda parecem deixar o restante da Europa desconfortável.

Ela também defendeu passionalmente sua visão do Reino Unido como uma potência significativa no mundo, com interesses e influências próprias independentes daqueles dos 27 países da União Europeia. Assim como Thatcher declarou "Não! Não! Não!"  famosamente no Parlamento a uma pressão liderada pela França por uma integração europeia mais estreita, e via o "relacionamento especial" do Reino Unido com os Estados Unidos como forma de alavancar o peso do Reino Unido nos assuntos internacionais, Cameron, desposando publicamente o legado dela, tem trilhado um caminho semelhante.

Ele recuou da pressão europeia por restrições legais obrigatórias aos bônus dos banqueiros e à imposição de taxas mais rígidas às transações financeiras, anátema para o Partido Conservador de Cameron e para o setor financeiro baseado em Londres, que é uma das principais fontes da agora sitiada prosperidade britânica.

De modo mais amplo, ele tem lutado contra a determinação francesa e alemã de criar uma Europa federalizada mais forte, com mais poderes intrusivos para regular as economias nacionais e fortalecer o euro, a moeda europeia, e ele esboçou um caminho à frente no qual o Reino Unido moldaria seu próprio futuro, que reverteria para uma versão anterior da Europa como um bloco comercial, não um clube tamanho único ao qual as soberanias nacionais ficariam submissas.

Com a interrupção de Cameron de sua viagem pela Europa para retornar para Londres na segunda-feira, para supervisionar os preparativos para o funeral de Thatcher, o governo anunciou que o funeral, que ocorrerá na semana que vem, incluiria uma cerimônia com honras militares plenas, e uma missa na Catedral de São Paulo. As autoridades não deram maiores detalhes, além de dizerem que o cerimonial seria semelhante ao realizado após a morte, em um acidente de carro em Paris em 1997, de Diana, princesa de Gales, cujo caixão foi conduzido à cavalo em meio à população em Londres e escoltado pela guarda de honra militar.


O último primeiro-ministro a receber honras semelhantes foi Winston Churchill em 1965, uma semelhança que mostra a percepção no Reino Unido de Thatcher como uma figura histórica, e como muitos de seus admiradores disseram na segunda-feira, como talvez a maior líder do país em tempos de paz.

Por todo o mundo, assim como na Europa, a resposta à morte de Thatcher pareceu oscilar entre pólos semelhantes. Muitos líderes e comentaristas estrangeiros falaram sobre ela da mesma forma que o presidente Obama, como "uma das maiores campeãs da liberdade" e como um exemplo para as mulheres de que "não há teto de vidro que não possa ser quebrado".

Mas esses comentários foram acompanhados por lembranças mais cáusticas, algumas até mesmo virulentas, por parte da esquerda política, que a viam como uma figura destrutiva, que rasgou o tecido econômico e social do Reino Unido no pós-guerra e deixou um país ainda mais dividido, mais egoísta e, para as pessoas carentes, mais ressentido do que em qualquer outro momento em sua história recente.

Outros falaram como amargura da moda política que se espalhou pelo mundo em nome do thatcherismo, com a reversão do socialismo e o desmanche das economias planificadas em virtualmente todos os continentes, em prol de uma abordagem que via o livre mercado como um veículo para geração de riqueza e disseminação da prosperidade de uma forma que a redistribuição socialista nunca conseguiu.

Mas, onde esse legado teve seu impacto mais forte, na Europa, isso não aproximou o Reino Unido de seus primos continentais. Desde a aposentadoria de Thatcher da política em 1990, derrubada pela elite de seu próprio partido, o Reino Unido se afastou ainda mais da Europa. Ele não é membro dos veículos chave de integração –do euro, do acordo de Schengen para trânsito livre pelas fronteiras internas do continente. De fato, cedendo às poderosas correntes eurocéticas em seu próprio partido, Cameron prometeu um referendo a respeito da continuidade do Reino Unido como membro da UE.

Logo, se havia um símbolo dos frutos do legado de Thatcher na segunda-feira, seria o do primeiro-ministro britânico abandonando uma abertura para a Europa para voltar para casa para lamentar em um templo ao euroceticismo, cuja influência ainda alimenta muitas paixões ideológicas.

Muitos britânicos lembram de Thatcher como uma figura dominante, divisora, até mesmo reverenciada, cujo impacto na vida e na sociedade britânica é duradouro e contencioso, e cuja influência penetrante no pensamento político sobre o papel do Estado nas sociedades livres se espalhou muito além das costas do Reino Unido. Thatcher não apenas liderou o Reino Unido, disse Cameron ao voltar para casa, "ela salvou nosso país".

"Ela foi uma primeira-ministra patriota", disse Cameron, ao lembrar do papel dela na moldagem do relacionamento entre o Reino Unido e a União Europeia. Ele disse  que o Parlamento seria convocado na quarta-feira para uma sessão especial em homenagem a ela.

A notícia de sua morte foi dada por seu porta-voz, Tim Bell, em uma declaração: "É com grande tristeza que Mark e Carol Thatcher anunciam que a mãe deles, a baronesa Thatcher, morreu pacificamente após um acidente vascular cerebral nesta manhã".

Thatcher, que foi a primeira mulher a se tornar primeira-ministra no Reino Unido, há meses estava com a saúde debilitada. Ela serviu como primeira-ministra por 11 anos, a partir de 1979. Ela foi conhecida como a Dama de Ferro, uma conservadora rígida que transformou o modo do Reino Unido pensar a respeito de sua vida econômica e política, quebrou o poder sindical e abriu o caminho para uma maior propriedade privada.

Momentos após o anúncio da morte de Thatcher, a rainha Elizabeth 2ª e o primeiro-ministro Cameron fizeram tributos ao que Cameron chamou de "uma grande líder, uma grande primeira-ministra, uma grande britânica".

O gabinete de Cameron disse que, de acordo com os desejos de sua família, Thatcher não receberia um funeral de Estado pleno, mas sim seria enterrada com honras militares plenas.

Uma avaliação no jornal conservador "Daily Telegraph" disse: "Ele entra para a história não apenas como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, mas como uma mulher que transformou a economia do Reino Unido, além de ser uma rival formidável no palco internacional".

"Dama Thatcher foi a única primeira-ministra britânica a deixar para trás um conjunto de ideias sobre o papel do Estado, que outros líderes e nações se esforçaram para copiar e implantar", ele disse. De fato, uma das características mais notáveis da reação política veio na generosidade e elogio que caracterizaram os comentários de muitos de seus antigos adversários políticos.

Falando para a "BBC", Henry A. Kissinger, o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, disse que Thatcher foi uma "grande líder" e "uma boa amiga dos Estados Unidos". Ele foi conhecida particularmente por sua aliança de trabalho estreita com Reagan, com quem ela compartilhava uma profunda rejeição ideológica ao comunismo da Guerra Fria.

Mas ela também conquistou o respeito de alguns interlocutores em Moscou, notadamente Mikhail S. Gorbatchov, o último líder soviético, que a descreveu na segunda-feira como "uma política cuja palavra continha um peso enorme".


"Nosso primeiro encontro em 1984 marcou o início de um relacionamento que às vezes foi difícil, nem sempre suave, mas que foi tratado de forma série e responsável por ambos os lados", disse Gorbatchov, 82 anos, segundo a agência de notícias "Reuters". "Nós gradualmente desenvolvemos relações pessoais que se tornaram cada vez mais amistosas", ele disse. "No final, nós éramos capazes de um entendimento mútuo, e isso contribuiu para uma mudança no clima entre nosso país e o Ocidente, e para o fim da Guerra Fria."

Mas mesmo na morte, a divisão ideológica de seu legado no poder também ficou evidente nas reações à notícia de sua morte. Paul Kenny, um líder sindical trabalhista, disse que Thatcher seria "lembrada por muitos por suas políticas destrutivas e divisoras".


8 comentários:

  1. Grande estadista...

    Entre tantos feitos o de salvar os habitantes das ilhas Falklands de se tornarem argentinos esta o maior no aspecto internacional.

    Chora Evita...rs

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    1. A Evita Ate ja compro um bom vinho pra comemora
      e tu que vai chora la dentro do teu sub Ingles : ) : ) : ) : )

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    2. A infame ja tava com pe na cova ,mais uma que vai com uma Estrela apagada .
      E
      Aragentina que comemora como disse o Anonymous9 de abril de 2013 23:56
      .
      COM UM BOM VINHO ainda por cima
      .
      bem colocado

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  2. O inferno está em polvorosa...satanás perdeu o trono...

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  3. "Safada". É o termo. E a globo "CBN-affiliate" venera esta mulher(que de mulher não tem nada, é um monstro) que tanto prejudicou os países em desenvolvimento, e as classes mais baixas. Pinoche foi um grandes amigos dela diga-se de passagem.

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    1. Você tem que pesquisar mais a história de Thatcher. A história que você conta não é bem assim.

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    2. "bem assim" pode não ser, mas o que o anônimo disse não foge muito da realidade.

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  4. Esses pro hermanos ... o dó

    E pensar que um único sub inglês pulveriza a Argentina toda...a milhares de milhas da costa...rsrsrs

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