terça-feira, 2 de abril de 2013

Os Brics exigem sua cota de poder

Chefes de Estado dos Brics posam para foto oficial do encontro, realizado em Durban, na África do Sul. Da esquerda para a direita: premiê da Índia, Manmohan Singh, presidente da China, Xi Jinping, presidente da África do Sul, Jacob Zuma, presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e presidente da Rússia, Vladimir Putin

Os líderes das grandes economias emergentes, reunidas no grupo conhecido como Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), inauguraram na terça-feira (27) na cidade sul-africana de Durban uma cúpula em cuja agenda de trabalho estão não só as relações comerciais e políticas entre algumas das economias do mundo que crescem mais rapidamente, apesar da crise, como também o futuro da ordem global.

Os governantes dos cinco países trabalham na criação de um banco destinado a financiar projetos de desenvolvimento --que representará um desafio a sete décadas de domínio do Banco Mundial-- e de um mecanismo de reservas para reforçar a estabilidade financeira dos Brics. O presidente russo, Vladimir Putin, pediu inclusive que o grupo assuma um papel maior e se envolva mais na geopolítica mundial.

Essa é a primeira vez, desde a reunião inaugural dos Brics, há quatro anos, que os países apoiam suas demandas de uma ordem global mais igualitária com planos concretos, com o que enviam um sinal alto e claro aos EUA e à Europa de que o atual equilíbrio de poder global não vale mais.

Os Brics, que englobam 43% da população mundial e 21% do PIB, se queixam de atualmente depender do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional). Dizem que essas instituições, nascidas dos acordos de Bretton Woods depois da Segunda Guerra Mundial, continuam refletindo os interesses dos EUA e dos países industrializados, e não a nova realidade internacional.

Os projetos desenvolvidos pelos Brics são sem dúvida ambiciosos, mas o diabo está nos detalhes. Embora exista a vontade de criar o banco, na terça-feira à noite persistiam discrepâncias sobre seu financiamento, a localização de sua sede central e como deve ser administrado. "Há uma dinâmica positiva, mas não se fechou acordo para a criação do banco", disse à agência Reuters o ministro russo das Finanças, Anton Siluanov. Cada uma das partes pretende ajustar a instituição a seus objetivos de política nacional ou internacional e garantir um retorno justo do investimento.

A Índia defende um banco que recicle os superávits orçamentários em investimentos em países em desenvolvimento, enquanto a China gostaria de ver a entidade investir em projetos que multipliquem o comércio. Em princípio, está sendo considerado que cada um dos cinco países faça uma contribuição inicial de US$ 10 bilhões. O banco dos Brics contribuirá para as crescentes necessidades de financiamento dos países emergentes e em desenvolvimento na construção de estradas, portos, ferrovias ou redes de distribuição de energia.

Embora a quantia de US$ 50 bilhões possa parecer pouco comparada às grandes necessidades de infraestrutura dos países em desenvolvimento, são mais que os US$ 29 bilhões que o Banco Mundial comprometeu em 2010 para infraestrutura nesse tipo de projeto. Países como a China investiram grandes quantias em infraestrutura, mas outros países mais pobres encontraram muita dificuldade para financiá-la. O Banco de Desenvolvimento da África calcula que o continente poderia se transformar em uma região de renda média se gastasse US$ 90 bilhões por ano em infraestrutura.

"Desejo discutir os planos de cooperação com os líderes de outros países do Brics e nações africanas. Creio que com os esforços coordenados de todos os participantes a reunião terá êxito e levará a solidariedade e a cooperação dos países em desenvolvimento a uma nova altura", afirmou o presidente chinês, Xi Jinping, em Johanesburgo, em uma declaração escrita antes do início do encontro, informa a agência chinesa Xinhua.

Xi Jinping marcou assim o tom da reunião, ao mesmo tempo em que pareceu sugerir que também existem diferenças entre os cinco países membros. Ele ressaltou a importância dos Brics ao fazer da cúpula o eixo de sua primeira viagem ao exterior como chefe de Estado. Um fracasso na constituição do banco teria sido um grave revés para os Brics, pois teria dado voz aos que consideram que os membros desse grupo têm pouco em comum.

Além do banco, os Brics querem estabelecer um mecanismo de reservas estrangeiras ao qual recorrer em caso de crises financeiras. Poderia ser dotado inicialmente de US$ 90 bilhões a US$ 120 bilhões, embora não se preveja que saia uma cifra concreta dessa cúpula. O fundo daria autonomia aos países emergentes e serviria para que pudessem enfrentar dificuldades na balança de pagamentos. Também poderia ser utilizado para estabilizar economias em períodos de crise financeira global.

Alguns responsáveis dos países envolvidos afirmaram que deveria ser semelhante em tamanho à chamada Iniciativa Chiang Mai, que inclui os dez membros da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) mais China, Japão e Coreia do Sul. Esse fundo, implantado em 2010, foi duplicado para US$ 240 bilhões no ano passado. Pequim afirmou que o mecanismo dos Brics deveria ser suficientemente grande para ter efeito nos mercados financeiros.

Uma mostra do crescente peso, também geopolítico, dos Brics é a chamada que fizeram a seus líderes tanto o presidente sírio, Bashar Assad, como organizações de direitos humanos para que utilizem sua influência para pôr fim à guerra na Síria. Os Brics são contrários a uma intervenção no país e acusaram o Ocidente de querer forçar uma mudança de regime.

Pouco antes da cúpula, China e Brasil assinaram um acordo para comercializar em suas próprias moedas no valor de US$ 30 bilhões por ano. Seus intercâmbios bilaterais subiram em 2012 para US$ 75 bilhões.

6 comentários:

  1. Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional). Dizem que essas instituições, nascidas dos acordos de Bretton Woods depois da Segunda Guerra Mundial, continuam refletindo os "interesses dos EUA e dos países industrializados", e não a nova realidade internacional.
    .
    Muito bem dito, O mundo nao presiza viver de acordo com os Interesses dos EUA

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  2. O que me interessa é o Brasil. Se o pib continuar crescendo dessa forma (0,9% em 2012!), BRICS se tornará RICS

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    1. Com todo respeito, mas você precisa fazer as contas de forma correta. O PIB brasileiro, e em tempos de retração da economia dos países desenvolvidos, ""foi de R$ 4,403 trilhões"". Não estamos falando de alguns reais.
      Aplique a porcentagem de crescimento e você verá que mesmo que venhamos a continuar crescendo neste ritmo ainda estaremos na frente de muito país que se dizem de '1º.' mundo.
      Mais fé no país colega. []s.

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    2. Será que é o Brasil mesmo que está mal?:

      "...A economia da Alemanha ficou “perto da estagnação” no mês passado, enquanto a França registrou sua maior contração por quatro anos seguidos, de acordo com uma pesquisa.

      O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da empresa The Markit, que mede os setores de serviços e manufaturas, caiu para 50,6 pontos na Alemanha em março, o pior em três meses.

      Qualquer número acima de 50 indica crescimento.

      O índice da França caiu para 41,9 pontos, o pior desde março de 2009. E para a zona do euro como um todo, o índice caiu de 47,9 em fevereiro para 46,5."

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  3. Pensando aqui: de que adianta ter PIB de trilhões se o Brasil está praticamente em todas as listas de piores indicadores sociais possíveis?

    O maior e principal problema do Brasil é a falta de educação de BERÇO, a falta de educação para a vida. Se a mudança depende de cada um e o brasileiro médio não tem amor nem à própria vida, este país será para sempre o país com belas paisagens naturais, crescimento economico medíocre e indicadores sociais medonhos.

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    1. O Brasil na lista dos piores indicadores sociais? De onde você tirou isso? Certamente você não anda lendo ou assistindo jornais. O fato de caminharmos a passos de tartaruga em algumas áreas não lhe da motivos para fazer absurda afirmação.

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