sexta-feira, 5 de abril de 2013

Opinião: ausência alemã na Síria serve aos interesses de Assad


Deir ez-Zor
Os líderes ocidentais –e os alemães, em particular– apresentaram inúmeros motivos para não fornecer apoio militar aos rebeldes sírios. Mas isso atende bem aos interesses de Assad, que não tem nada a ganhar, mas muito a destruir.

Dedique um momento a imaginar de outra forma: um ditador sírio barbado –um islamita com simpatia pela Al Qaeda– permite que população cristã de seu país seja baleada, passe fome e seja bombardeada, permite que milícias fanáticas massacrem os não fiéis e reduza o país a cinzas. Se esse fosse o caso, uma aliança de países ocidentais interviria mais rapidamente do que você poderia dizer "Mali".

Mas a população da Síria vem tentando se livrar de um ditador há dois anos. Ela passou meses sendo baleada enquanto participava de manifestações pacíficas, antes de começar a armar uma resistência violenta, e agora está enfrentando um regime que busca aniquilá-la. Mas ao que parece ela está simplesmente sem sorte.

Não é difícil de ver o motivo: a maioria desses rebeldes é sunita ou, mais amplamente, muçulmana. Muitos deles também têm barba e gritam "Allahu akbar" (assim como o número muito menor de ismaelitas, drusos e cristãos que lutam ao lado deles). Os sunitas também vivem nas áreas que estão sendo bombardeadas quase diariamente quando a visibilidade é boa.

Muçulmanos se erguendo contra seus governantes para exigir justiça simplesmente não se enquadra em nossa visão de mundo. Ao longo das últimas décadas, essa visão foi alimentada por notícias do Taleban, dos clérigos radicais islâmicos pregando mensagens de ódio, dos assassinatos em nome da honra, das batalhas em torno de uma charge dinamarquesa e dos eventos do 11 de Setembro. Responsabilizados pela soma total de tudo o que ouvimos ao longo dos anos, os muçulmanos da Síria estão descobrindo que o mundo vê sua luta com suspeita e como outra tentativa de estabelecimento de uma teocracia muçulmana.

Se eles fossem tibetanos, as coisas poderiam ser diferentes. Mas, como está, a força aérea de Bashar Assad tem sido autorizada a bombardear com impunidade. Mísseis Scud arrasam quadras inteiras de cidades, enquanto a Síria é gradualmente esvaziada. Mais de 70 mil pessoas morreram no conflito e mais de 1 milhão fugiu do país.

Desde o início, o regime de Assad tem explorado habilmente os temores do Ocidente. Ele condenou os manifestantes sírios como jihadistas estrangeiros –libertando ao mesmo tempo centenas de apoiadores da Al Qaeda das prisões. Ele fingiu ataques e trabalhou para incitar os vários grupos religiosos do país uns contra os outros, apenas para então se apresentar como sendo um baluarte secular contra o radicalismo.

E a mensagem do regime encontra ouvidos dispostos no Ocidente, onde o fato de Assad ser o principal responsável por todas essas mortes é devidamente mencionado. Mas, é claro, isto é feito apenas como um prelúdio para enumerar, incidente por incidente, os abusos de direitos humanos por parte dos rebeldes, visando chegar à conclusão de que ambos os lados do conflito são terríveis.

Deveríamos... deveríamos... deveríamos

O Ocidente não quer intervir. Na Alemanha, tanto o governo quanto a oposição assumiram a posição de que, além de não fornecer ajuda militar aos rebeldes, o embargo de armas da UE deve ser rigidamente mantido. Mas não se trata da oposição síria sempre ter pedido armas a todo custo. Em vez disso, pedi-las é mais um último recurso, agora que todos seus outros apelos à comunidade internacional –de tudo, de uma intervenção militar a uma zona de exclusão aérea– foram recusados.

Apesar dos vários sucessos por parte dos rebeldes, as tropas do regime ainda mantêm os centros de quase todas as grandes cidades. Elas também mantêm aeroportos suficientes para realizarem ataques a outras regiões do país que foram libertadas, algo que fazem continuamente. Assad não tem nada mais a ganhar neste conflito, mas ainda tem muito o que destruir.

Lentamente, o Ocidente está mudando de posição. Os Estados Unidos vêm fornecendo ajuda secretamente desde o final do ano passado, enviando armas e munição para a Turquia –3.500 toneladas, segundo o jornal "The New York Times"– a serem entregues dali para os grupos rebeldes sírios. Mas não muitas delas parecem ter chegado até o final de janeiro, quando os comandantes rebeldes no norte da Síria ainda estavam distribuindo aos seus combatentes um número cuidadosamente contado de munição. Os rebeldes precisavam urgentemente de mísseis antiaéreos para se defenderem dos ataques aéreos, mas Washington teme fornecer essas armas, com medo de que possam cair em mãos erradas. O Reino Unido e a França agora desejam fornecer armas aos rebeldes, mas o embargo da UE ainda está em vigor –e a Alemanha ainda o apoia.

Como, então, o inferno nesta terra que já foi a Síria pode chegar ao fim? Os defensores do embargo apresentaram toda sorte de declarações, todas parecendo empregar o mesmo verbo: "Assad deveria renunciar!" "Nós deveríamos apoiar uma missão da ONU na Síria!" "Nós deveríamos impedir a Rússia de armar Assad!" "Nós deveríamos deixar claro para aqueles que apoiam os islamitas que seria melhor pararem de fazê-lo."

Nós deveríamos, mas aparentemente não podemos –e aí está o problema. Basear nossas políticas em apelos irreais que não produziram nenhum resultado nos últimos dois anos significa apenas enganar a nós mesmos.

9 comentários:

  1. Texto ridículo. Esse texto só serve para desinformação geral.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O texto é da seríssima revista alemã Der Spiegel, que fique claro.

      Excluir
    2. Até poderia ser do Le Monde, do New York Times que eu acharia bastante parcial ao menos, Assad claramente nao é um tipo bom neste conflito, mas os rebeldes nao sao nada melhores, pelo contrário, muitos sao mercenarios contratados, servindo interesses de outras nações. Não estou a denegrir a revista, estou é a denegrir este texto. Tem de pôr tb textos a denegrir os rebeldes, nao só assad senao isto nao é imparcial, embora isso só apareça em videos na maior parte.

      Excluir
    3. Quem é imparcial? Eu nunca quis ser imparcial. Mas o fato d'eu deixar vocês exporem vossas opiniões, me faz ser democrático e isso é muito melhor que a 'imparcialidade' que jamais existiu. Há texto aqui que metem o pau nos rebeldes e mais. Em tempo, como um Exército Árabe Sírio tem milhares e mais milhares de deserções pelos mais variados motivos, fica difícil defender Assad e olha que eu sempre fui fã dele, hein?

      Excluir
    4. Sinceramente estou-me nas tintas para qual lado vença, nem deveria ser nenhum deles, deveriam formar outro tipo de governo sem ser de Assad, que nao acho asim tao mau, embora haja essas questões por exemplo de deserções (na minha opinião desertores, mesmo por quaisquer motivos que tenham são sempre traidores). Sim michel, eu sei disso de falar mal aqui dos rebeldes, foi por isso que pus o exemplo dos videos e dos crimes feitos pelos rebeldes, que nao aparecem na midia ocidental.
      De facto, ja suspeitava que nao havia mesmo grande imparcialidade nos conteúdos mostrados, é preciso sempre comentar para passar a haver essa imparcialidade. E alias, ja provou que nem sempre concorda com algumas publicações... bem isso seria óbvio, nunca se concorda om tudo.

      Excluir
    5. Eu sou imparcial do ponto de vista que traduzo com fidelidade as notícias que julgo interessante para o blog, mas sempre me posiciono a favor de um lado, isso é inerente a personalidade do ser humano.

      Excluir
  2. Fábio, concordo com teu raciocínio ...


    Há uns 3 anos atrás, a Síria era um país traquilo. Depois dos EUA se retiraram do Iraque, OBAMA começou a dizer que a hora de Assad sair do poder chegou. A partir dai começar a fazer trama para tirar Assad do poder a força. O EUA começaram a incentivar a oposição do país a fazer protesto. Como não surtiu o efeito esperado, a oposição pegou em arma e o maldito rei da Arábia Saudita começou a patrocinar os rebeldes e incentivar alguns chefes militares se desertar do Exército Sírio.

    A partir dai, o Assad começou a combater os Rebeldes e a guerra ganhou uma proporção grande. A mídia Ocidental começou a apoiar os rebeldes e meter pau no Assad. Começou a fazer campanha de desinformação que Assad é criminoso os terroristas são os santos.

    A mídia ocidental com apoio dos EUA , vem fechando olho para os crimes que os terroristas vem cometendo a Síria. Explodindo prédios públicos, matando jornalistas , matando autoridades militares e civis.

    Assad não é Santo, mas ele não é esse monstro todo que a mídia ocidental tenta criar. Ele é apenas um presidente que está lutando contra vários mercenários patrocinados pelos EUA, Arabia Saudita, Kuait e Inglaterra.

    A população em geral da Síria está ao lado de Assad, mas a mídia tentar esconder esse lado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A Síria nunca foi um país tranquilo, de onde você tirou isso? A Síria teve envolvida em tensões.

      A Assad só caiu porque Irã, Síria e outros fizeram pressão para o Mubarak cair. Apoiaram a Primavera Árabe e se deram mal.

      Assad começou a reprimir protestos civis com força, algo que o Khaddafi fizera. Isso aconteceu bem antes das armas chegarem.

      A mídia ocidental nunca chamou os rebeldes de Santos. Quantos e quantos artigos de jornais e revistas americanas eu vi falando da influência da Al-Qaeda na resistência síria? Muitos! Quantos artigos de jornais e revistas americanas eu vi sobre o extremismo dos rebeldes? Muitos.

      Uma rápida pesquisa no Google mostra que você está sendo leviano de levantar uma questão fantasiosa:
      https://www.google.com.br/search?q=syrian+rebels+war+crimes+the+new+york+times&aq=f&oq=syrian+rebels+war+crimes+the+new+york+times&aqs=chrome.0.57.18676j0&sourceid=chrome&ie=UTF-8

      Assad não é presidente, é ditador. Ele não foi eleito pelo povo, logo não tem que lutar contra nada. Sua família enriqueceu ilicitamente as custas do povo sírio, que moral ele tem? Sempre gostei de Assad mais por ele ser anti-imperialista e anti-Israel e, é só.

      E antes de criticar os governos americanos, saudita, inglês e cia, lembre-se que a Síria financiou a resistência no Iraque, Líbano e Palestina.

      Excluir
  3. Assad x oposição financiada por Monarquias saudita e qatariana......Até onde vai a capacidade de síntese de que um "movimento" de oposição que a 2 anos em luta armada contra o exército sírio por apenas oposição teria "meios" financeiros, técnicos, logística etc para se manter esse tempo sem o financiamento de potências externas com interesse na implantação de "seu" gasoduto para abastecimento da europa em detrimento do gasoduto iraniano ?
    Se Assad é ditador é um fato....se o apoio do povo sírio aumentou a Assad depois que islamitas fanaticos do norte da áfrica , caucaso , península arabe estão indo "lutar' na Síria para a implantação de estado islamita governado sobre a sharia é outro fato,,,,mas quem controla o resultado dessa equação é outra história . A mídia é cão adestrado desses interesses. Santa ingenuidade fazer da mídia ocidental a bíblia desse conflito.......o mais importante para os povos e´sua existência....e isso as invasões patrocinadas por Usrael destruiram o "estado" no Iraque, Líbia, Síria etcetc...porque ? Porque temos aí contratos bilionários para "reconstrução" paga pelas riquezas dessas terras arradas......a oposição nos EUA vão para "instalações" militares onde não existe legislação de proteção individual....

    ResponderExcluir