sexta-feira, 26 de abril de 2013

O caos na Síria pode durar por muitos anos


"Basta". O derramamento de sangue na Síria precisa parar, dizem cinco funcionários de alto escalão da ONU. Em um breve texto publicado no dia 16 de abril pelo "New York Times", eles observam: "Depois de 70 mil mortos, incluindo milhares de crianças, depois de 5 milhões de deslocados, sendo que um milhão deles foram obrigados a fugir para fora do país, depois que bairros inteiros foram arrasados, escolas, hospitais viraram ruínas, sistemas de água foram destruídos, depois de tudo isso, os governos ainda não se deram conta da urgência que há em cessar essa carnificina."

É uma constatação amarga, mas correta. A maior parte dos líderes mundiais está assistindo ou acertando contas na Síria. Os chefes das cinco grandes agências humanitárias da ONU não podem declarar isso tão cruamente. No entanto, de forma subentendida é exatamente isso que estão dizendo.


Durante a Guerra Fria, afirmava-se que a ação coletiva ficava paralisada devido ao confronto entre EUA e URSS. Seguiram-se alguns anos de uma preponderância quase absoluta da hiperpotência americana, que logo foi encoberta pelos escombros do colapso iraquiano. Juntamente com outros, a França clamava então pelo advento de um mundo multipolar: o equilíbrio nasceria da coexistência de quatro ou cinco grandes polos de poder. E aqui estamos. Por enquanto, é um mundo de impotência ou de caos.

A guerra na Síria é prova disso. Ela pode ainda durar alguns meses, alguns anos. O regime de Bashar Assad controlaria hoje aproximadamente 40% do território. Mas ele tem o monopólio das armas pesadas, da artilharia, dos mísseis, da aviação e não hesita em usá-los contra seu povo, uma barbárie com prováveis poucos precedentes na História. Fiel aliada, a Rússia garante o abastecimento contínuo do regime em material militar. Outro cúmplice, o Irã também fornece armas e conselheiros, quando não combatentes.

Mesmo derrotado em Damasco, Bashar Assad tem conseguido se segurar com o apoio de sua comunidade. A queda do regime não marcará necessariamente o fim da guerra. Esta já ultrapassou muitos limites considerados intoleráveis pela "comunidade internacional". O exército israelense confirmou por diversas vezes esta semana o uso de armas químicas pelas forças de Assad. Presidente do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha), Peter Maurer acusa os dois lados de impedirem o envio de ajuda humanitária. Ele denuncia o uso de metralhadoras contra ambulâncias, comboios de enfermeiros e médicos. Mais tarde será feita a contagem dos crimes de guerra. Possivelmente serão encontrados muitos deles.

O que está em jogo com essa guerra vai bem além de uma mudança de direção política em Damasco. O fluxo de refugiados desestabiliza os vizinhos da Síria. A desintegração do país, segundo linhas comunitárias, exacerba também as divergências étnico-religiosas no Líbano e no Iraque – onde volta a despontar o fantasma da guerra civil. O destino das armas de destruição em massa acumuladas pelo regime – graças a seu fornecedor russo – desperta todo tipo de preocupação. Israel já bombardeou um comboio na fronteira com o Líbano: ele tentava encaminhar algumas dessas armas, ou alguns de seus componentes, para os extremistas xiitas do partido Hezbollah. A possibilidade de que essas armas, químicas ou biológicas, caiam nas mãos de jihadistas ativos na rebelião tem tirado o sono de muitos estados-maiores. Em uma hipótese mais sombria, a guerra daria à luz um Estado desmembrado, falido, sob influência islamita no coração do Oriente Médio. Nada animador.

Nenhuma das grandes potências quer esse desenlace, sejam os Estados Unidos, a Rússia, a China ou a União Europeia. Isso iria de encontro a seus objetivos estratégicos a longo prazo. Washington quer um Oriente Médio estabilizado, para se voltar para a Ásia. A Europa tem tudo para temer um foco islamita em sua periferia ao sul. Moscou teme perder junto com a Síria um de seus poucos pontos de apoio na região. Pequim também teria muito a perder: com o tempo, a economia chinesa será a maior dependente do petróleo do Oriente Médio e por isso a estabilidade da região é muito importante.

Todos deveriam trabalhar para uma solução negociada entre o regime e a oposição em seu componente (ainda majoritário?) mais moderado. Todos deveriam trabalhar por um cessar-fogo e apadrinhar uma transição política. Os chefes de agências da ONU citados acima exortam que os grandes líderes mundiais exerçam "uma influência coletiva" nesse sentido. Eles imaginam que os protagonistas não resistiriam por muito tempo a uma pressão conjunta da China, dos Estados Unidos e da Rússia. Mas ela não existe, e aqueles que ainda a esperam são taxados de ingênuos.

Ao final de alguns dias de confrontos árabe-israelenses, em 1967 e em 1973, em plena guerra fria, o Kremlin e a Casa Branca intervinham e anunciavam o fim dos combates após um vaivém intenso de seus diplomatas estrelados. Dessa vez não tem sido assim. No caso da Síria, "onde estão os telefonemas de chefe de Estado para chefe de Estado, as consultas entre Estados-maiores, onde estão os enviados especiais de emergência, com carta branca do presidente, para preparar uma cúpula de alto nível e organizar uma solução para a crise?", pergunta o analista Nader Mousavizadeh, ex-colaborador de Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU ("International Herald Tribune", 17 de abril).

Herdeiro de aventuras militares fracassadas, tanto no Afeganistão quanto no Iraque, Barack Obama se mantém cauteloso. Chineses e russos carregam a maior parte da responsabilidade: eles são contra tudo aquilo que lembre uma ingerência nos assuntos externos de um país fora da UE; ao apoiar Damasco, eles irritam o Ocidente, o que é sempre bom; por fim, por razões diplomáticas, chineses e russos temem a ascensão do islamismo sunita, que movimenta parte da rebelião síria.

A soma dos interesses conjunturais de todos os lados é o que se chama de mundo multipolar, que se mostra incapaz de dar um fim à tragédia síria, assim como de conter a ascensão do programa nuclear iraniano e a chantagem atômica da Coreia do Norte.

5 comentários:

  1. Três detalhes nesse texto estão bem fora da realidade. O 1 seria que o Assad controlaria 40% do terriutorio, o Assad controla 13 das 14 capitais de província, e segundo a OSDH em Londres, o Assad controla 70%. O texto falar dos bombardeios contra população civil, como crimes, ou mostra ignorância militar ou querer fazer propaganda política, os rebeldes cansam de colocar vídeos mostrando o quanto eles são bons em batalhas urbanas, o quanto eles sabem usar bem de se esconderem em casas, por acaso população civil vive aonde no meio do mato ou nas cidades/ E obvio que uma guerrilha urbana seja qual for ela, usa dos civis como escudos humanos, e quem for atacar esses redutos, vai fazer o que por acaso, enviar seus soldados como touros para o matadouro ou bombardear a região ignorando os efeitos colaterais? Muito se falam do governo ter q proteger a população civil, e por acaso não deve proteger suas tropas? O outro detalhe sobre o texto quando ele questiona esse impasse no CS da ONU, que direito por acaso alguém tem de se meter nos problemas internos de outros países? A desculpa para toda exploração sempre foi essa, a hipocrisia em dizer que estava ajudando, antigamente tinha a desculpa de civilizar os outros, agora vem a desculpa de levar democracia e direitos humanos e blá blá blá, se esse levante fosse em qualquer país europeu que fossem querer mudar não apenas o chefe de estado mais todo um sistema político, duvido muito que alguém questionaria o país que estivesse reprimindo, mais ai teria a desculpa de combater terroristas, se vc detona uma bomba nos EUA ou na Europa e terrorista, se detona em uma mesquita síria e rebelde que luta por democracia, grande mídia que temos ual.

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  2. Se ele querem parar a guerra na Síria, é só os patrocinadores dos terroristas parem de enviar armas para eles. Arabia Saudita , Kwait, EUA , Inglaterra, Israel, são os grandes patrocinadores e fornecedores de armas para os rebeldes.

    Usam civis para fazer chantagem emocional , mas não mencionam que a maioria dos locais de combates não existem civis e a maioria já fugiu. Além disso, os rebeldes usam civis como escudos. O Exército Sírio não tem interesse em matar civis, muito pelo contrário, visa combater os terroristas.


    Jorge

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  3. Falou e disse Anonimous, e os judeuss,turcos, sauditas,iangless e outros, tirem seus dedos podres da vida dos Sirios...os Rússos/Chineses deveriam ser + pró ativos e na moita passar cerol fininho em quem se meter na briguinhad domestica dos sirios...p ontem.Sds.

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    1. tbm acho que os russos/chineses deveriam ser mais ativos....pelo menos o iranianos vão pra chibata.....queria entender o porque da russia e china não intervirem diretamente....mesmo que secretamente.....

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  4. O mais engraçado é que ainda tem gente que cai nesse papo de ISRAEL/EUA e do resto do ocidente de ''democratizar'' um povo..

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