terça-feira, 23 de abril de 2013

EUA decepcionam Marrocos após cancelamento de envio de tropas ao país para missão da ONU


As relações entre o Marrocos e os EUA esfriaram subitamente, a ponto de que a operação militar conjunta African Lion - 1.400 militares americanos eram esperados em abril em Agadir para exercícios conjuntos - foi suspensa. Revelada em 16 de abril pelo site marroquino Lakome, essa informação não foi comentada em Rabat, mas sim confirmada por Washington, segundo a Agência France Presse.

Ela ocorre depois da apresentação ao Grupo de Amigos do Saara Ocidental (EUA, Reino Unido, Rússia, França e Espanha) de um projeto de resolução redigido por Susan Rice, embaixadora americana na ONU, que prevê pela primeira vez incluir os direitos humanos no mandato da Missão da ONU para Organização de um Referendo no Saara Ocidental (Minurso na sigla em francês).

O texto, no qual figura a instauração de um mecanismo de vigilância e de prestação de contas de direitos humanos na parte do Saara dominada pelo Marrocos, mas também nos campos de refugiados de Tinduf controlados pela Frente Polisário, em território argelino, pegou desprevenido o pequeno círculo de "amigos". "Os americanos não avisaram ninguém, foi uma desfeita aos marroquinos", protesta o diplomata francês.  

Posição delicada de Paris  
Aliada tradicional do Marrocos, Paris encontra-se em uma posição delicada: para a França, que não utilizou só seu direito de veto na ONU desde 1976. É impossível opor-se a uma resolução sobre os direitos humanos. "Não bloquearemos, é uma questão entre o Marrocos e os EUA", esquiva-se o diplomata, de mau humor.

A resolução para a renovação anual do mandato da Minurso, instalada desde 1991 no Saara Ocidental, onde perdura um dos últimos conflitos pós-coloniais, deveria ser adotada na quinta-feira (25) depois da apresentação, na segunda-feira (22), ao Conselho de Segurança, do relatório de Christopher Ross, o enviado pessoal do secretário-geral da ONU. Ora, em um discurso de introdução ao relatório, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, entreabre a porta para a adoção de um capítulo de direitos humanos da Minurso, qualificando de "urgente" "a necessidade de uma vigilância independente, imparcial, global e sustentada da situação dos direitos humanos no Saara".

Evocada diversas vezes no passado por seus partidários, entre os quais o Reino Unido, que salientou que todas as missões da ONU desde os anos 1990 comportam esse aspecto direitos humanos, essa hipótese sempre foi rejeitada diante das hostilidades veemente do Marrocos, que vê aí um atentado a sua "soberania nacional".

Vontade de mostrar uma união sagrada
Na semana passada,  uma reunião de crise se realizou no palácio de Mohamed 6º na presença dos conselheiros do rei, do chefe de governo, Abdelillah Benkirane, dos chefes de partidos políticos e vários membros do governo. A presença destes últimos, embora sempre mantidos à distância desse caso pilotado pelo palácio, notadamente por Fouad Ali El Himma, um próximo do rei, diz muito sobre a vontade de demonstrar uma união nacional sagrada. E sobre a cólera de Rabat.

"A parcialidade desse tipo de medida unilateral e sem consulta prévia, em termos de conteúdo, de contexto e de procedimento, só pode provocar incompreensão e rejeição", informou o Marrocos em um comunicado divulgado depois da reunião consagrada, segundo os termos oficiais, aos "últimos desenvolvimentos referentes à questão nacional no seio da ONU, e mais particularmente a certas iniciativas que tendem a desnaturalizar o mandato da Minurso".

Em nenhum momento os EUA, encarregados pelo jogo das alternâncias de redigir a futura resolução da ONU, são mencionados. Mas Rabat rejeita "categoricamente essas iniciativas". O ministro da Comunicação, Moustapha El Khalfi, voltou ao ataque. Tal medida, declarou, "só pode favorecer as manobras dos inimigos da integridade territorial do reino, que não param de instrumentalizar a questão dos direitos humanos".  

"Muita coisa vai mudar"
Furioso, o Marrocos, que salienta os "esforços" que recentemente consentiu, notadamente ao acolher Juan Mendez, o relator especial da ONU sobre a tortura, tem a sensação de ter sido traído por um de seus melhores aliados regionais na luta da segurança. Mas várias fontes ocidentais lembram também a imperícia do reino, que, descontente com o relatório anterior de Ross, havia retirado sua "confiança" em maio de 2012 do emissário de Ban Ki-moon, antes de dar marcha à ré.

Apresentado em setembro de 2012, outro relatório grave sobre a situação no Saara Ocidental, da Fundação Kennedy, considerada próxima do governo democrata americano, também teria pesado na meia-volta dos EUA. "Isso vai mudar muitas coisas para a Minurso, que poderá receber as queixas e fazer os relatórios", alegra-se Mohamed El Moutawakil, membro do birô executivo da Codesa, um coletivo de militantes dos direitos humanos saarauís.

"O problema", ele prossegue, "é a França que sempre foi contra, mas é preciso apoiar esse tipo de iniciativa em uma região frágil, onde a democracia é totalmente ameaçada por grupos terroristas." Em uma carta divulgada na quarta-feira (17), a Human Rights Watch pressiona os membros do Conselho de Segurança para "pôr fim a essa situação anormal" que priva a Minurso de um capítulo de direitos humanos.

Um comentário:

  1. Poxa os EUA estão tão preocupados com direitos humanos
    Tráfico de orgaõs rolando solto na Síria em regiões ocupadas por rebeldes
    Tráfico de heroína aumentou em 2000% pós queda Talibãs e 80% dessa droga passa pelo Kosovo, lembram da colônia da OTAN chamada Kosovo?
    Isso sem contar toda droga q rola solta na Colombia eterna aliada dos EUA
    Realmente os EUA estão brigando pelos direitos humanos
    Ass: Elton

    ResponderExcluir