segunda-feira, 22 de abril de 2013

Democracia deixa a desejar para as mulheres árabes


A intenção desta coluna era explorar minhas impressões da Primavera Árabe após vários meses em Harvard como bolsista. Eu estava revirando minhas memórias quando surgiram as notícias das explosões na Maratona de Boston. Neste momento, os pensamentos se voltam inevitavelmente para o terror sentido após os ataques do 11 de Setembro de 2001 e, para mim, aos relatos do Afeganistão, Paquistão,  Espanha, Marrocos e Reino Unido.

Mas escrever esta coluna,  coloco em foco questões importantes sobre as implicações a longo prazo da instabilidade no Oriente Médio e no Norte da África. Como isso afetará a segurança como um todo, e os direitos das mulheres em particular?

As economias nos países pós-Primavera Árabe, como a Tunísia e o Egito, estão em declínio e as tensões políticas e sociais estão aumentando. Em algumas regiões da Líbia, várias tribos assumiram o comando e não respeitam a liderança em Trípoli.

Os países afetados têm várias características em comum: os líderes pós-revolta são mais religiosos, as mulheres são mais presas à tradição e os militantes com laços com a Al Qaeda são mais visíveis, talvez mais notadamente na guerra civil em andamento na Síria.

Jessica Stern, membro da Escola de Saúde Pública de Harvard e ex-membro do Conselho de Segurança Nacional, me disse que a Primavera Árabe tem sido, na melhor das hipóteses, uma bênção ambígua para os povos da região. "A democracia não é a panaceia que muitos americanos imaginam que seja", ela disse, notando que uma transição de um governo autocrático para um sistema que acomode o desejo por mais liberdade é especialmente delicada e perigosa.

"O conflito civil e o terrorismo tendem a aumentar e, a menos que proteções sejam implantadas para as minorias e mulheres, as coisas frequentemente pioram para esses grupos", disse Stern. "As mulheres estão particularmente em risco na Síria, onde o estupro se tornou uma arma de guerra e intimidação."

O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados relatou que o estupro, ou a ameaça de estupro, é frequentemente citado como um dos principais motivos que levaram as famílias a fugirem da Síria – como mais de um milhão de pessoas já fizeram.

Fotini Christia, uma professora associada de ciência política do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, viajou recentemente à Síria para entrevistar mulheres, muitas delas parte dos milhões que foram deslocados pelos dois anos de guerra.

Christia disse que muitas mulheres que ela entrevistou participaram dos protestos pacíficos contra o regime do presidente Bashar Assad em 2011.

Elas sabem que provavelmente terão de travar outra batalha por sua própria liberdade e direitos, ela disse no que elas preveem que será um espaço político muito mais conservador quando a guerra finalmente terminar.

"Elas não são ingênuas e nem revolucionárias românticas", disse Christia. "Elas viram as mulheres serem marginalizadas no Egito, Iêmen e Líbia pós-Primavera Árabe."

Tawakkol Karman, que dividiu o Prêmio Nobel da Paz de 2011 por sua coliderança da revolução do Iêmen, agora está de fora do chamado diálogo nacional sobre o futuro de seu país.

Na Líbia, as mulheres viram a reinstituição da poligamia. No Egito, as mulheres perderam mais de 50 cadeiras no Parlamento, restando apenas nove mulheres parlamentares.

Soha Bayoumi, uma professora de história da ciência na Faculdade de Artes e Ciências de Harvard, chamou a situação das mulheres no Egito de "muito perturbadora, com assédio sexual desenfreado, ataques sexuais, e a erosão dos direitos e status das mulheres na Constituição". Ela se referiu ao que chamou de "remoção de figuras históricas do feminismo egípcio do currículo escolar".

Bayoumi, que ainda tem familiares no Egito, disse que ficou impressionada pelo senso de solidariedade logo após a revolução.

Isso mudou, ela disse, com a má gestão da transição e com a ascendência da Irmandade Muçulmana ao poder.

"A incompetência, arrogância, autoritarismo e bullying (da Irmandade Muçulmana), combinada com a situação econômica difícil, certamente mudou o humor", ela disse.

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

"A situação no Egito não é sustentável", ela disse. "Um momento de explosão certamente acontecerá. Eu acho que mais cedo do que tarde."

Uma questão agora muito discutida é se a democracia ou sufrágio universal é necessariamente o caminho certo para todas as sociedades no Oriente Médio e no Norte da África, onde em alguns países a ligação com a liderança tribal ou religiosa é maior do que a lealdade às instituições políticas, particularmente as novas e fracas.

"Na verdade, a questão é: o Ocidente e especialmente os Estados Unidos realmente querem a democracia no Oriente Médio, quando eleições livres podem levar a vencedores que odeiam os Estados Unidos e Israel?" me disse Noam Chomsky, o linguista e crítico político, em seu escritório no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Em países como o Bahrein, que instituiu oficialmente um diálogo entre o governo e os manifestantes, não está claro se o processo político pode superar a divisão sentida intensamente entre os muçulmanos xiitas e sunitas.

Nesta semana, enquanto a Fórmula Um volta ao Bahrein, os protestos que marcaram grande parte dos últimos dois anos no país aumentaram novamente em intensidade.

Uma mulher bareinita que está estudando para seu doutorado nos Estados Unidos, e que disse que não queria ser identificada, estremeceu ao ver as explosões em Boston, mas então notou: "Por que quando carros-bomba explodem no Bahrein, como nos últimos dias, as pessoas no Ocidente chamam de busca pela democracia, mas quando o mesmo acontece em Boston, é um ato de terrorismo?"

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