segunda-feira, 8 de abril de 2013

Corrupção freia a modernização do exército indiano


É altamente simbólico. Os helicópteros eram destinados às elevações himalaias, ou seja, à fronteira com a China. Só que o contrato está sem definição. Na quarta-feira (3), a imprensa indiana confirmou que a conclusão final sobre a licitação para a entrega de 197 helicópteros leves ao Exército indiano havia sido adiada sem nova data, enquanto não saem os resultados de uma investigação sobre suspeitas de corrupção.

A questão diz respeito aos europeus, uma vez que o Fennec da Eurocopter – a filial de helicópteros da EADS – estava competindo juntamente com o aparelho KA226 da russa Kamov. Uma primeira versão desse contrato, vencido pela Eurocopter, já havia sido cancelado em 2007 por suspeitas de irregularidades.

Antes desse novo contratempo houve a anulação, em meados de fevereiro, de um contrato para a entrega de 12 helicópteros da Agusta Westlands, filial do grupo italiano Finemeccanica, cujo presidente, Giuseppe Orsi, foi preso em Roma, acusado de ter pago propina a políticos italianos antes da conclusão do contrato. Nova Déli abriu um inquérito para saber se comissões ilegais também teriam sido pagas na Índia.

Eleições legislativas previstas para a primavera de 2014
Esses dois casos comprometem a assinatura anunciada do enorme contrato de aquisição pela aeronáutica indiana de 126 caças Rafale em um valor que oscila entre US$ 10 e 15 bilhões (cerca de R$20 a 30 bilhões), pelo qual a diplomacia francesa se mobilizou fortemente. A oferta da Dassault já havia sido aceita em janeiro de 2012 para negociações "exclusivas" visando finalizar os detalhes comerciais, tecnológicos e industriais.

Mas a assinatura do contrato ainda está sendo aguardada, e, embora nenhuma acusação de desvios tenha sido lançada até agora nesse caso, o clima de paranoia que domina em Nova Déli sobre as suspeitas de corrupção envolvendo as compras de armamentos tem um efeito paralisante sobre a tomada de decisão. Como a Índia está em ano pré-eleitoral – as legislativas são previstas para a primavera de 2014 - , o Partido do Congresso no poder em Déli está tomando cuidados redobrados.

O partido da dinastia Nehru-Gandhi ainda vive assombrado pelo caso de Bofors, nome da firma sueca cujo contrato assinado em 1986 para a venda de armamentos deu lugar a um estrondoso escândalo de corrupção. A credibilidade do primeiro-ministro na época, Rajiv Gandhi, filho de Indira Gandhi, sofreu bastante com isso e o Partido do Congresso perdeu as eleições de 1989. "A Índia ainda vive nessa síndrome de Bofors", explica Jasjit Singh, diretor do Centre for Air Power Studies. "Resultado, ninguém quer assinar e o processo de aquisição está caótico".

Maior país importador de armas no mundo
Essa série de turbulências tem seu impacto sobre o ritmo da modernização militar da Índia, um assunto observado muito de perto pelos círculos estratégicos do mundo inteiro. Diante de um ambiente regional considerado ameaçador (a China e o Paquistão são identificados como as duas principais ameaças potenciais), os indianos pensam muito grande, com um programa de compras de armamentos avaliado entre US$ 100 e 200 bilhões.

A Índia já foi alçada ao primeiro lugar entre os países importadores de armas do mundo. Entre 2008 e 2012, suas compras representaram 12% das importações do mundo, à frente da China (6%). Esse programa de aquisição é destinado sobretudo a renovar equipamentos obsoletos, como mostra o estado da aviação, que nos últimos anos perdeu um quarto de seus aparelhos.

A extensão das necessidades da Índia faz com que o país pareça o novo eldorado dos comerciantes de armas. Mas a multiplicação de incidentes nas negociações de contratos em razão de suspeitas de corrupção complica a questão. Na defensiva, o governo reage a cada escândalo banindo do país as empresas estrangeiras incriminadas.

Já a China vem se modernizando sem entraves
Assim, fornecedores da Rússia, da Alemanha, da África do Sul, de Cingapura e de Israel entraram para uma lista negra. Em Nova Déli, analistas consideram que isso prejudica gravemente a modernização do aparelho militar. "O estado de preparação de nossos exércitos sofre de maneira incomensurável", lamenta Subhash Kapila, consultor estratégico do círculo de reflexão South Asia Analysis Group.

A situação é ainda mais preocupante porque a China, não sujeita ao controle democrático, vem se modernizando sem entraves. "O abismo entre a China e a Índia está se aprofundando," alerta o marechal de reserva da aviação V.K.Bhatia. "A Índia não pode se dar ao luxo de deixar essa tendência continuar".

Um comentário:

  1. Um país onde tem "Párias & Intocáveis " , q são + 63% da populção, até q estão bem...Que elite voraz...Sds.

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