segunda-feira, 18 de março de 2013
Novas forças políticas
A ruidosa entrada em cena de uma nova espécie política está abalando a política partidária tradicional na Europa. Enquanto governos liderados por conservadores e social-democratas utilizam um remédio amargo para salvar o euro agonizante, eleitores descontentes procuram novos rostos e ideias.
Os grupos neopopulistas são a última moda. Eles combinam a fúria contra o centro político, como a praticada pelos populistas de direita, com a atitude rebelde dos movimentos alternativos de esquerda -uma estranha mistura dos movimentos Tea Party e Ocupe Wall Street. Suas primeiras incursões na arena política tiveram um efeito colateral inesperado: elas contiveram a ascensão dos populistas de direita. Mas resta ver qual será seu impacto na política europeia.
Enquanto a crise financeira da Europa entra em seu quinto ano, as políticas de centro-direita e centro-esquerda tornaram-se quase idênticas, criando uma abertura para políticos ousados.
Os Piratas, que defendiam a liberdade na internet e o fim da lei de direitos autorais, foram os primeiros dos novos partidos a dispensar deliberações políticas secas e uma estrutura hierárquica. Depois que os Piratas da Suécia conquistaram 7% dos votos em seu país, o Partido Pirata da Alemanha recebeu 9% na eleição para o Estado de Berlim em 2011. Desde então, as rixas políticas internas reduziram suas chances de uma votação decente na eleição nacional da Alemanha, em setembro.
Beppe Grillo, que fez nome como comediante na Itália, e Frank Stronach, um austríaco-canadense que ganhou bilhões no negócio de peças para carros, criaram novos movimentos de sucesso. Mas seu foco está em criticar a situação vigente, mais que apresentar plataformas políticas viáveis, por isso é provável que o entusiasmo que eles provocaram esfrie.
Outros países também estão sendo atingidos por novas forças políticas. A Syriza, que ficou em segundo lugar na Grécia no ano passado, é uma coalizão de partidos de esquerda tradicionais. Nas eleições parlamentares na França no ano passado, um terço dos eleitores apoiaram um partido de linha radical, tanto à direita como à esquerda. O Partido Alternativo Alemão, formado por acadêmicos e funcionários públicos aposentados, será lançado no mês que vem e se opõe a qualquer plano que obrigue os contribuintes alemães a salvar o euro. Mas ele não tem o apelo rebelde de Grillo e Stronach e não deverá atrair um amplo apoio.
Apesar de todas as suas diferenças, o Movimento Cinco Estrelas de Grillo na Itália e a Equipe Stronach da Áustria têm em comum uma convicção. "Ambos são contrários ao aprofundamento da União Europeia e das obrigações que derivam da integração europeia", diz Anton Pelinka, especialista em partidos políticos que é professor na Universidade Central Europeia em Budapeste (Hungria). "É a tentação de renacionalizar a política."
Stronach, nascido em uma família de trabalhadores na Áustria há 80 anos, emigrou para o Canadá em 1954, onde fez fortuna com uma distribuidora de peças para carros.
De volta à Áustria, a experiência de Stronach na indústria automotiva o levou a se queixar da burocracia e dos políticos "ignorantes". Ele atrai os eleitores agindo como um patriarca autoritário, mais que como um político. A Equipe Stronach promove valores simples: "Verdade, transparência e justiça".
Apoiada por seus milhões de euros, a Equipe Stronach ganhou 10% dos votos em dois Estados, Áustria Inferior e Caríntia, que tinham sido o baluarte do Partido da Liberdade, grupo de extrema direita que fez incursões na política austríaca há mais de uma década. Liderado por Jörg Haider, que morreu em um acidente de carro em 2008, o Partido da Liberdade é uma mistura de sentimentos antieuropeus e de ódio aos estrangeiros. Ele encontrou imitadores em toda a Europa. Os partidos estabelecidos veem a ascensão de Stronach como uma bênção mista. Ela complica a tarefa de formar um governo nacional, mas pode pôr fim às aspirações da extrema direita.
Na Itália, a situação é menos clara. Um comediante de sucesso, o cabeludo Beppe Grillo, 64, liderou os protestos populares na Itália contra a corrupção no governo, pedindo que seus seguidores confrontassem os poderes estabelecidos.
Um blogueiro incansável, ele manifesta a insatisfação dos italianos comuns, que o ajudaram a conquistar 25% dos votos nas últimas eleições nacionais.
"O movimento Grillo é mais novo e mais jovem e, em muitos sentidos, muito diferente dos movimentos populistas antigos", diz o professor Pelinka. "É um populismo além da divisão entre direita e esquerda."
O Movimento Cinco Estrelas pede uma renda básica garantida para todos os cidadãos, assim como a restauração da "soberania econômica", que poderia levar à saída da zona do euro.
O sucesso de Grillo levanta o espectro de um membro fundador da UE entrar em um período de caos e de novos problemas para o euro.
A reação às crises políticas na Europa -anunciadas por esses novos movimentos- pode servir para expressar o descontentamento dos eleitores, mas não oferece soluções reais. Os novos atores políticos precisam mostrar que são capazes de criar políticas que levem ao crescimento econômico, mais do que apenas usar a revolta do eleitorado.
Apesar dessas ameaças à UE, o professor Pelinka não acredita que a Europa esteja terminada. "É preciso considerar que desde 2008 os profetas do apocalipse sempre afirmaram que a UE vai implodir -e isso não aconteceu", diz. "A UE ainda é capaz de lidar com situações críticas. O interesse comum ainda é forte. Poderíamos dizer que o projeto europeu é grande demais para fracassar."
Erhard Stackl foi editor-gerente de "Der Standard", em Viena, e é o autor do livro "1989 -The Falling of Dictatorships"
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