terça-feira, 5 de março de 2013

Governo chinês estuda cortar ajuda e aceitar sanções à Coreia do Norte

Sul-coreanos assistem o anúncio da TV estatal norte-coreana sobre o último teste nuclear do país 

A China foi o principal benfeitor e o mais próximo de um sócio que teve a Coreia do Norte desde o fim da guerra da Coreia (1950-53). O teste nuclear efetuado por Pyongyang no mês passado, em resposta à "hostilidade" dos EUA, entretanto, azedou as relações mútuas e pôs à prova o compromisso histórico de Pequim com seu vizinho, que a nova geração de dirigentes chineses, liderados pelo presidente entrante, Xi Jinping, terá de analisar.

No mesmo dia do teste atômico, o ministro das Relações Exteriores chinês, Yang Jiechi, convocou o embaixador norte-coreano e lhe informou que a China estava "muito descontente" e que se opunha "firmemente" ao teste. Também pediu que a Coreia pusesse "fim a toda retórica ou atos" que pudessem "piorar a situação" e retornasse ao "diálogo".

Não poderia ser de outra forma. O governo chinês havia advertido publicamente a Coreia do Norte que não seguisse adiante com os planos de realizar a terceira explosão nuclear de sua história, e Pyongyang fez caso omisso. Assim, o país pôs Pequim em uma posição delicada, que teve de enfrentar uma crescente pressão internacional para que modifique sua política com o regime de Kim Jong-un.

"A atitude chinesa foi clara. Pequim fez o possível para convencer a Coreia do Norte a não realizar o teste nuclear porque representaria uma ameaça para a segurança da região, mas Pyongyang não escutou, o que demonstra que, na questão atômica, a China tem uma capacidade de influência limitada sobre a Coreia", afirma Su Hao, professor no departamento de diplomacia da Universidade de Relações Exteriores de Pequim.

A resposta chinesa irá além das de outras ocasiões? Por enquanto, a China não disse que ações empreenderá --se é que empreenderá alguma-- ou que sanções aceitará que o Conselho de Segurança da ONU aplique, já que, como membro permanente, tem direito a veto. Como fez em outras vezes, pediu às partes envolvidas que mantenham a cabeça fria e resolvam a crise no âmbito das negociações multilaterais para o desmantelamento do programa de armas atômicas norte-coreano, paralisadas desde 2008. Participam das conversações, além da Coreia do Norte e dos EUA, China, Coreia do Sul, Rússia e Japão.

Especialistas e analistas consideram pouco provável que Pequim aprove medidas radicais contra seu vizinho, já que teme que uma Coreia do Norte isolada recorra a ações imprevisíveis e desestabilize a região; a última coisa que a China, centrada em seu crescimento, deseja. Pequim vê com inquietação as consequências que poderia ter o naufrágio do regime norte-coreano, como um êxodo de refugiados através da fronteira comum e uma potencial reunificação da península, que colocaria a Coreia do Sul, estreito aliado dos EUA, em suas portas.

Os observadores políticos acreditam que o novo governo de Xi Jinping, que será nomeado presidente da China na sessão anual do Parlamento, em março, poderia aproximar posições com os EUA e aceitar novas sanções --e inclusive cortar sua ajuda a Pyongyang como forma de mostrar seu descontentamento por ter sido ignorado. Outros pensam que poderia inclusive chegar a um acordo com Washington para adotar algum tipo de medida no quadro da Iniciativa de Proliferação de Segurança (Proliferation Security Initiative, PSI) para impedir que a Coreia do Norte envie armas ao estrangeiro.

"A incapacidade chinesa para dissuadir a Coreia do Norte de realizar seu terceiro teste nuclear revela de forma muito clara a influência limitada que Pequim tem sobre as ações de Pyongyang", disse Suzanne DiMaggio, vice-presidente de programas de política global na Asia Society, uma ONG com sede em Nova York que se dedica a divulgar o conhecimento sobre a Ásia.

As diferenças entre China e Coreia do Norte vêm crescendo. Antes do teste atômico, a imprensa oficial chinesa instou o governo a responder duramente a Pyongyang se concretizasse sua intenção. "Se a Coreia do Norte insiste em realizar um terceiro teste nuclear apesar das tentativas de dissuadi-la, deve pagar um alto preço. A ajuda que recebe da China deveria ser reduzida", indicou o jornal "Tempos Globais", que é ligado ao "Diário do Povo", o órgão de propaganda do Partido Comunista Chinês.

Daí que o analista Su acredite que Pequim também tomará medidas unilaterais para mostrar seu descontentamento. "A China não dirá em público, mas o que a Coreia do Norte fez ameaça seriamente a segurança nacional chinesa e afeta a paz e a estabilidade na região Ásia-Pacífico. Creio que será preciso fazer a Coreia do Norte saber que tem de pagar pelo que fez e lhe dar uma lição. Mas de que forma a castigará? Teremos que esperar e observar."

Para Washington, a maior preocupação, segundo os especialistas, não é que a Coreia consiga desenvolver uma bomba atômica, mas sim que o material nuclear prolifere e acabe nas mãos de clientes potenciais como o Irã ou de terroristas. Para Pequim, o temor é que, diante do progresso núcleo norte-coreano, outros países como Coreia do Sul ou Japão também decidam possuir armas nucleares.

Com a última manobra, Kim Jong-un criou um dilema para Pequim, onde há um intenso debate entre os analistas e conselheiros políticos, alguns dos quais defendem que a relação com Pyongyang gera mais dores de cabeça que benefícios. A China aprovou a resolução da ONU pelo lançamento do foguete, depois de longas negociações destinadas a suavizar o castigo. Que decisão adotará agora dirá muito sobre o rumo que pretende seguir o governo de Xi Jinping em suas relações com Washington e Pyongyang.

2 comentários:

  1. É, e quando ocorreu o primeiro teste nuclear norte-coreano eu disse que os chineses não ficariam quietos tendo outro concorrente pertinho deles, disseram-me que eu falava bobagem (noutro blog militar), que a China queria era aliados pra acabar com os ianques e não sei o quê.

    Pra mim isso mostra que a China não só não quer outro concorrente mas, principalmente, tem medo de uma guerra na região que a envolva (leia-se EUA).

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  2. Isso ñ irá ocorrer, nem sanções e nem corte da ajuda, q poderá até aumentar se os mesmos se comportarem melhor.Esse estado de guerra contra os iankss interessa aos Chineses,sua 1 linha de combate, ainda q na moita.Quem viver verá.sds.

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