quarta-feira, 20 de março de 2013

Apesar da desconfiança, israelenses estão prontos para ouvir Obama


Funcionários do governo Obama deixaram claro que o principal item da agenda da visita do presidente, nesta semana, é conquistar os corações do povo israelense. Ele tem muito trabalho pela frente.

"Eu não confio muito nele", disse Rachel Burger, 65, no domingo (17), em um shopping center de Jerusalém.

"Lá no fundo, eu acho, ele não gosta de nós", disse Moshe Haim, um imigrante iraniano que dirige um táxi em Tel Aviv.

"As pessoas não sentem o amor de Obama", disse o rabino Levi Weiman-Kelman, que lidera a congregação Kol Haneshama reformista de esquerda e fez um vídeo encorajando os americano-israelenses a apoiarem a reeleição do presidente no ano passado. "Bush, Clinton e Carter, eles tinham uma paixão religiosa profunda por este lugar, e Obama não transmite isso", acrescentou.

"Ele é um cliente frio", disse Weiman-Kelman.

Apesar de vários líderes israelenses e americanos de todo o espectro político insistirem que a cooperação econômica, em segurança e inteligência entre os dois países nunca foi mais estreita ou mais forte, o elemento pessoal, mais emocional, do relacionamento está em grande parte vazio nos últimos quatro anos.

As tensões bem documentadas entre o presidente Barack Obama e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu contam apenas parte da história: até mesmo os israelenses que são duros críticos de seu próprio líder se sentiram esnobados quando o presidente americano pulou o país deles durante sua visita ao Oriente Médio em 2009.

Muitos nunca superaram o discurso que ele fez na época no Cairo, onde mencionou duas vezes a "Palestina" com verbo no presente, em vez de no futuro, e insinuou que Israel estava enraizado na tragédia do Holocausto e não na história antiga.

Outros ainda estão irritados com o que consideraram uma exigência indevida de Obama --sem resultado-- de congelamento da construção de assentamentos nos territórios da Cisjordânia, que Israel tomou em 1967, e pelo que consideraram um abandono rápido demais do presidente do Egito, Hosni Mubarak, um aliado confiável.

Assim, apesar de muitos israelenses, assim como pessoas de todo o mundo, serem inspiradas pela biografia de Obama e por sua campanha azarona em 2008, entrevistas com dezenas de pessoas nesta semana sugerem que o país o receberá com desconfiança, semelhante a um parente distante tentando se reconectar. A Casa Branca fez todo o possível para reduzir as expectativas de qualquer avanço ou grande iniciativa diplomática, deixando as pessoas em busca de algo muito mais difícil de definir.

"Parece que as pessoas estão à procura de um líder", disse Tchelet Semel, 32, que trabalha em cinema e teatro em Tel Aviv. "Elas desistiram de uma liderança interna e esperam que alguém diga as palavras capazes de reacender a esperança dentro do povo israelense."

David Grossman, o escritor que é uma espécie de musa nacional, disse que os israelenses estão "apavorados" e "desconfiados", e precisam que Obama seja "um verdadeiro amigo de Israel", acrescentando, "um amigo deve nos dizer a verdade, e não o que queremos ouvir".

"Eu desejo que ele demonstre empatia com nossas ansiedades; parte delas é real", disse Grossman. "Mas desejo que ele não colabore com elas, com nossas ansiedades, a ponto dele justificadamente não fazer nada."

O presidente pregará para um público difícil. Uma pesquisa publicada na sexta-feira no jornal israelense "Maariv" apontou que apenas 1 entre 10 israelenses tem uma postura "favorável" em relação a Obama ("ódio" apresentou 17%, "desfavorável, mas sem ressentimento", 18%, enquanto a maioria –32%– disse não gostar de Obama, mas o respeita).

"Ele é bacana, mas só isso", disse Suzanne Betan, 70 anos, uma moradora de Gilo, um bairro na parte de Jerusalém que Israel anexou em 1967, que grande parte do mundo considera um território ocupado e onde a Casa Branca condenou construções. "Ele não está totalmente conosco, mas não está contra nós."

O rabino Shlomo Riskin, que veio de Nova York para Jerusalém em 1983 para fundar o assentamento de Efrat na Cisjordânia, disse: "Na ação, ele tem sido excelente conosco. Mas a música em suas palavras deixa muito a desejar, e isso é o que todo mundo gostaria de ouvir hoje".

Entre outros desafios, o momento complica a missão. Obama chega poucos dias antes da Páscoa, um período frenético de compras e férias escolares, de modo que as reclamações com bloqueios no trânsito serão especialmente febris. Os israelenses também estão preocupados com seu novo governo, que tomou posse na segunda-feira, relegando os artigos sobre a visita às últimas páginas dos jornais locais.

Com a previsão de pouso do Força Aérea Um ao meio-dia de quarta-feira, centenas de bandeiras americanas e israelenses foram hasteadas às margens das ruas, e cartazes com o logo "aliança inquebrável" da visita foram colocados na entrada de Jerusalém. Uma escultura em gelo de Obama está sendo preparada, e o gabinete do primeiro-ministro conta com um aplicativo para smartphone que permite aos usuários monitorar cada passo da comitiva.

Em um itinerário repleto de encontros diplomáticos e poses para fotos simbólicas, o destaque provavelmente será um discurso na quinta-feira, para uma plateia composta principalmente de estudantes universitários.

"Talvez a visita não tenha nenhum impacto imediato, mas Obama introduzirá suas ideias nos corações deles", disse Ruth Shafir, a porta-voz do sindicato dos estudantes da Universidade Ben Gurion, em Beersheba, uma cidade no sul. "E talvez a geração mais jovem possa levá-las ao próximo nível e então conduzi-las adiante."

Parte do desafio de Obama é competir com seus antecessores, particularmente o presidente Bill Clinton, que Moshe Halbertal, um professor de filosofia da Universidade Hebraica, disse que ainda poderia ser eleito primeiro-ministro de Israel. As palavras comoventes de Clinton ("Shalom, chaver" –adeus, amigo) no funeral do primeiro-ministro assassinado, Yitzhak Rabin, em 1995, estão gravadas na memória daqui como um totem de compreensão, quase impossível de igualar.

"Clinton foi realmente um mágico nesse aspecto", disse Tamar Hermann, uma especialista em opinião pública que é vice-presidente da Universidade Aberta. "Sua habilidade de projetar cordialidade é algo que abre corações aqui."

Hermann acrescentou sobre Obama: "Eu não estou dizendo que eles estão examinando objetivamente o que ele fez ou não fez. Ou você sente ou não".

Quando Obama foi eleito em 2008, Kippa Man, uma loja de quipás no shopping de rua Ben-Yehuda, estocou um de crochê com o slogan dele: "Sim, nós podemos". Apesar de ter vendido bastante, o dono da loja, Avi Benjamin, disse no domingo que não lhe ocorreu encomendar um item comemorativo para a visita desta semana.

Antes, lembrou Benjamin, "as pessoas achavam que ele era o messias".

Um cliente, Elyassaf Yakobson, suspirou: "Parece que teremos que esperar".

Um comentário:

  1. Até dos aliados ( seu > inimigo) ele sofre da desconfiança. Então, imponha a pax e entre p a história como o cara q resolveu uma guerra de + de 40 anos...use de empatia e visão do futuro. Experimente , td o planeta irá te agradecer...eu serei um deles.Sds.

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