Apesar do caos que varreu sua cidade natal nas últimas semanas, Mohammadou Traore, 34, não perdeu seu senso de humor. É uma tarde de domingo e ele está exausto, esticado em uma cadeira de plástico bamba, do lado de fora de sua pequena loja no centro de Konna, na região central de Mali. Há penas 10 metros de distância, uma picape incendiada que pertencia aos combatentes islâmicos do norte de Mali serve como lembrete dos choques violentos que ocorreram na cidade neste mês.
Mas Traore sorri quando diz que para ele, pessoalmente, os combates foram um bom negócio. "Na manhã de quinta-feira (24), os islamitas compraram seis quilos de tâmaras na minha loja, então as tropas francesas chegaram à noite e me pagaram 20 euros pelo último engradado de água que eu mantinha no refrigerador."
Naquela quinta-feira, Konna estava na linha de frente da intervenção francesa contra os islamitas em Mali. Por meses, o norte do país esteve ocupado por rebeldes islâmicos fundamentalistas, compostos por uma aliança livre de três grupos jihadistas.
Em meados de janeiro, 300 combatentes rebeldes em um comboio de cerca de 100 picapes lançaram uma ofensiva contra o sul, se infiltrando na pequena cidade e emboscando os soldados malineses. Poucas horas depois, o presidente da França, François Hollande, tomou uma decisão unilateral em Paris de agir contra o avanço das tropas rebeldes e ordenou o envio imediato de caças franceses e de forças especiais transportadas por helicóptero.
A viagem a Konna dá uma ideia de quão pesados foram os combates. As laterais das estradas estão repletas de carcaças queimadas de jipes, muitos com metralhadoras instaladas. Suas partes desmembradas agora estão espalhadas em meio às moitas espinhosas do deserto malinês, como esqueletos de animais mortos. Os soldados malineses, que escoltaram um grupo de jornalistas até Konna no domingo, pararam e posaram de óculos ao lado dos veículos queimados, optando por esquecer quão impotentes eles foram contra os islamitas. Os rebeldes recuaram apenas graças à intervenção francesa.
‘Eu achei que estava tudo terminado’
Ahmadou Gourd tem pouca fé no exército malinês. O professor de árabe de 35 anos parece magro enquanto permanece no lado de fora de sua chácara modesta, observando as crianças brincando nas poças de lama enquanto sua esposa cozinha painço. "Quando os islamitas chegaram em Konna, cinco soldados do governo fugiram para minha chácara", ele diz.
Em pânico, eles lhe disseram que ficaram sem munição e que precisavam de ajuda. Gourd lhes mostrou uma pequena trilha de terra que levava à mata fechada distante de Konna. Logo depois que os soldados partiram, quatro homens barbados empunhando fuzis Kalashnikov bateram à sua porta. "Felizmente, consegui me livrar deles ao conversar com eles em árabe", lembra Gourd. "Se tivessem encontrado os soldados, eles teriam me matado."
Gourd é um dos poucos moradores que ainda prosseguem normalmente suas atividades. Com suas ruas de terra vazias margeadas por casebres de barro, Konna lembra uma cidade fantasma. De vez em quando passa um carro lotado de pessoas voltando para casa. "A maioria dos meus vizinhos fugiu assim que souberam do avanço dos islamitas", explica Gourd. Ele decidiu não abandonar sua casa e acredita que os rebeldes o pouparam apenas porque falava árabe. "Eu também lhes assegurei que era um muçulmano devoto, e isso provavelmente os aplacou", ele diz. Logo depois, ele ouviu a explosão das primeiras bombas. "Eu achei que estava tudo terminado", ele recorda. "Eu não sabia que eram francesas."
Primeiro, os islamitas tomaram áreas inteiras do país em suas picapes. Depois um ataque aéreo –militarmente superior, mas invisível para os moradores locais– começou a jogar bombas. Foram essas horas em que passaram presos no fogo cruzado de uma guerra desigual que mais traumatizaram a população de Konna.
"Eu ainda não consigo dormir", disse Dani Diana, uma mãe de três. "Eu acordo sobressaltada ao menor ruído." Ela teve uma experiência semelhante à de seu vizinho, Gourd. Os rebeldes islâmicos bateram à sua porta, com seus fuzis nos ombros, exigindo que ela lhes desse toda a comida que tinha. Logo depois, os caças franceses começaram a bombardear a cidade e, um dia depois, as forças especiais foram de casa em casa à procura de islamitas que pudessem estar escondidos.
Mal cheiro de carne em putrefação
Apenas agora, ao dirigir por Konna, que Ahmadou Gourd pode ver quão pesado foi o bombardeio. Crateras de três metros de profundidade dividem o solo próximo do pequeno porto da cidade e fábrica de processamento de peixe. Esse é o local onde os islamitas montaram acampamento, usando vários tanques leves tomados do exército malinês como barreira protetora.
Assim que Gourd e os repórteres passam pelos portões da fábrica em um jipe, os soldados malineses cochilando na sombra acordam instantaneamente e bloqueiam a rota. O local ainda não é seguro, eles insistem, dizendo que ainda há bombas não explodidas sob os escombros. Mas o mal cheiro de carne em putrefação sugere que a principal preocupação dos soldados é esconder a visão dos cadáveres.
Gourd aceita a inevitabilidade das vidas perdidas. Como a maioria das pessoas em Konna, ele soube pelo rádio que os franceses chegaram a Timbuktu no norte do país e que os islamitas fugiram. Na manhã de segunda-feira, oficiais militares franceses diziam que as forças terrestres apoiadas por helicópteros e soldados-paraquedistas franceses assumiram o controle do aeroporto e das estradas que levam à cidade do deserto, em uma operação na madrugada.
"Agora com a intervenção da França, há esperança para Mali", diz Gourd. Enquanto isso, a Alemanha promete apoiar as tropas africanas que estão combatendo os insurgentes com equipamento como caminhões, uniformes e botas. Até o momento, Berlim descartou fornecer armas, mas contribuiu com duas aeronaves de transporte Transall.
O jipe passa pelo prédio onde trabalha o prefeito de Konna. A bandeira malinesa foi novamente hasteada aqui há poucos dias. As cores ainda estão vivas –depois que o prefeito fugiu dos rebeldes, ele comprou a bandeira na cidade grande mais próxima e a trouxe consigo quando voltou para Konna.
A primeira fase, a França saiu-se muito bem quatro feridos. Agora resta saber como será a ocupação e rescaldo disso. O Mali, em termos, técnicos foi um Estado que sofreu colapso, isso é o governo central perdeu o controle de 50% do seu território para um grupo adversário, essas cicatrizes nunca são fácies de curar, além disso a seca destruiu praticamente a economia daquela região e os sequestros e o radicalismo alguma saída que seria via turismo.
ResponderExcluirAbraços
Só espero q ouitras nações africanas entrem nesse guerra de barreira p aliaviar a frança,(6) meses no máximo ela aguenta, pois a mesma está c o pires na mão e td a otan..caso contrtario td a africa vai mergulhar nessa lei bárbara, onde mulheres são proprie// e se corta mão de seres humano em nome de deus...p ontem.
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