quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"México tem que esmagar a máfia", diz presidente mexicano, Peña Nieto


Enrique Peña Nieto assumiu a presidência do México em dezembro passado. Em entrevista à Spiegel, ele discute seus planos para combater a pobreza e a violência relacionada ao tráfico de drogas, além de explicar por que a Europa deve aproveitar o boom econômico de seu país.

Enrique Peña Nieto
Spiegel: Sr. presidente, mais de 60 mil mexicanos perderam a vida na guerra contra as drogas nos últimos seis anos. Você está no cargo há dois meses. Qual a sua proposta para acabar com a carnificina?
Peña Nieto: Temos que combater a desigualdade social e a pobreza se quisermos restabelecer a paz e a segurança. Sete milhões de mexicanos vivem na extrema pobreza, e é por isso que eu lancei uma cruzada contra a fome. Nós também temos que melhorar nosso sistema educacional e estimular o crescimento econômico.

Spiegel: Apenas as políticas sociais dificilmente serão suficientes para enfrentar o problema.
Peña Nieto: Vamos fortalecer as forças de segurança e o Judiciário. A cooperação entre o governo central e os estados federais já melhorou. Vamos profissionalizar e equipar a polícia. E onde houver falta de policiais vamos providenciar equipes de segurança com treinamento militar, que serão supervisionadas por civis.

Spiegel: O número de assassinatos e sequestros aumentou recentemente na capital. E, no Estado do México, localizado nas proximidades da capital e seu estado de origem, as quadrilhas começaram recentemente a desovar corpos novamente.
Peña Nieto: A situação não vai melhorar do dia para a noite. Erros foram cometidos no passado, e temos que aprender com eles. A violência vai diminuir no médio prazo. Eu fiz essa promessa para os mexicanos.

Spiegel: Para você, é mais importante reduzir a violência ou rastrear os senhores do tráfico?
Peña Nieto: Nossa prioridade é reduzir o número de assassinatos e sequestros. Mas nós também temos que esmagar a máfia. Muitos assassinatos acontecem porque os criminosos estão lutando entre si para disputar território e mercados.

Spiegel: O seu antecessor, Felipe Calderón, colocou os militares para combater a máfia das drogas. Você vai chamar as tropas de volta para os quartéis?
Peña Nieto: Só quando a situação da segurança melhorar. Nesse momento, nós seremos obrigados, pela Constituição, a retirar os militares.

Spiegel: Grupos de direitos humanos acusam soldados de agredir pessoas inocentes. Você vai fazer os responsáveis responderem judicialmente por esses abusos?
Peña Nieto: Nós aprovamos uma lei que concede indenizações às vítimas de violência e nos obriga a esclarecer os crimes. Isso vai obrigar as forças de segurança a respeitar os direitos humanos.

Spiegel: Os moradores de algumas regiões estão formando milícias para se proteger dos bandidos. Será que o governo já não perdeu o controle do país?
Peña Nieto: Em algumas partes do país, a população está tão frustrada que as pessoas estão recorrendo à prática de fazer justiça pelas próprias mãos. Nós temos fortalecido a presença do governo nessas áreas. A justiça pelas próprias mãos só gera mais violência.

Spiegel: Os cartéis de drogas também derivam seu poder do fato de eles subornarem policiais e prefeitos. Isto é especialmente verdadeiro em relação a membros de seu partido, o Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Peña Nieto: Isso não tem nada a ver com filiação partidária. Essa prática também afeta os governos regionais liderados pela oposição. Alguns cartéis têm acumulado enormes quantidades de dinheiro e armas. Agora nós estamos adotando medidas contra a lavagem de dinheiro e, ao fazermos isso, vamos cortar os meio de sustento dos cartéis.

Spiegel: O seu antecessor também prometeu combater a corrupção. Por que os mexicanos acreditam que você vai ter sucesso agora?
Peña Nieto: Isso não é responsabilidade exclusiva do presidente. Os governos regionais têm que cooperar. Estamos dispostos a ajudá-los.

Spiegel: Os Estados Unidos estão ampliando a ajuda militar destinada ao combate do crime organizado no México. Você vai permitir que conselheiros militares norte-americanos a fiquem estacionados no México?
Peña Nieto: Queremos ampliar nossa cooperação com Washington, mas sem violação de nossa soberania. A cooperação não pode se limitar à situação da segurança. Queremos aproveitar a nossa proximidade com os Estados Unidos para avançar com a integração econômica.

Spiegel: A maioria das armas da máfia das drogas vem dos Estados Unidos.
Peña Nieto: É por isso que o México apoia o presidente dos EUA, Barack Obama, que se mostrou favorável a controles mais rígidos sobre o comércio de armas. A coisa mais importante é regular a venda de armas de grande calibre e fuzis de assalto.

Spiegel: Alguns estados dos EUA relaxaram a proibição à maconha. Isso não tira a credibilidade da guerra contra as drogas?
Peña Nieto: Isso deve, pelo menos, incentivar um debate. Eu sou contrário à legalização da maconha, pois ela atua como uma droga de passagem.

Spiegel: As empresas estrangeiras estão investindo no México mais do que nunca e, aparentemente, não se sentem intimidadas pela violência das drogas. A Volkswagen acaba de abrir uma nova fábrica de motores e pretende produzir o novo Golf no México. A Audi também está construindo uma nova fábrica no país.
Peña Nieto: O México oferece uma economia estável e a dívida é mínima, a inflação está abaixo de 4%, nosso déficit orçamentário é quase inexistente e temos uma grande quantidade de reservas em moeda estrangeira. Isso tudo, naturalmente, atrai investidores.

Spiegel: Será que a Europa pode aprender alguma coisa com a América Latina?
Peña Nieto: Queremos agilizar a integração com a América do Sul e o Caribe para que possamos competir de forma mais eficaz com outras regiões econômicas. O México pode crescer a um ritmo ainda mais forte do que os especialistas financeiros preveem. A Europa deveria tirar proveito de nosso boom econômico.

Spiegel: O México costumava desempenhar um papel importante como mediador na América Latina. Você é capaz de ajudar em potenciais reformas políticas em Cuba ou na Venezuela?
Peña Nieto: Nossa política externa perdeu um pouco do seu ímpeto nos últimos anos, em parte devido a problemas internos. No futuro, queremos concentrar nossos esforços na integração de toda a América Latina. Mas não vamos interferir nos assuntos internos de outros países. Queremos expandir nossas relações com Cuba.

Spiegel: O seu partido governou o México durante mais de 70 anos, até a oposição tomar o seu lugar, no ano 2000. Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de literatura, uma vez descreveu o sistema de controle praticamente monárquico do PRI como "a ditadura perfeita". Será que o retorno do partido ao poder descarta a possibilidade de reformas democráticas?
Peña Nieto: Nossa democracia é estável. Meu governo fechou um acordo com todos os principais partidos de oposição, o "Pacto para o México". Esse acordo estabelece a realização de reformas e a democratização. Esse processo ainda não está completo.

Spiegel: Por que os mexicanos acreditam que o retorno do PRI ao poder não é sinônimo de um retorno de seu comportamento autoritário?
Peña Nieto: O México mudou. Não há espaço hoje para os mecanismos do passado. O PRI, como qualquer outro partido, vai se submeter às regras democráticas do jogo. Nós fazemos parte de uma sociedade pluralista, crítica e informada. Não há nenhuma chance de voltarmos ao passado.

Sobre Enrique Peña Nieto
Enrique Peña Nieto, 46 anos, nasceu em uma família de políticos e estudou administração e direito antes de iniciar sua carreira política. Ele foi deputado estadual de 2003 a 2005, antes de atuar como governador do Estado do México, entre 2003 e 2011. Ele assumiu o cargo de presidente do México em 1º de dezembro de 2012, fazendo o Partido Revolucionário Institucional (PRI) retornar ao poder depois de um hiato de 12 anos – que se seguiu a 71 anos de domínio ininterrupto do país pelo partido, iniciado depois da Revolução Mexicana, em 1929. Enquanto foi governador, ele protegeu seus antecessores de acusações de corrupção, e seu governo foi abalado por escândalos. Ele tem a reputação de ser um estrategista político hábil e é casado com uma atriz de telenovelas.

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