quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Fronteiras marítimas indefinidas entre países complicam avanço das perfurações em alto mar
O fundo dos oceanos são um repositório de muitos segredos. Naufrágios descansam nas profundezas, sem serem perturbados, durante séculos – assim como formações de coral e peixes de diversidade quase inimaginável.
Atualmente, cada vez mais, os segredos do fundo do mar estão sendo desvendados por empresas de perfuração que buscam petróleo e minerais. Como resultado, a situação da geopolítica internacional e do meio ambiente está ficando mais confusa e desorganizada.
"A perfuração em águas profundas é cara e difícil, e a tecnologia para realizar esse trabalho não existia até muito pouco tempo atrás", disse Sheila Smith, pesquisadora sênior da área de estudos sobre o Japão do Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos. Agora, as grandes potências estão disputando os direitos de perfuração em lugares como o mar da China Oriental, onde existe uma disputa entre os dois maiores consumidores de energia da Ásia: a China e o Japão. As tensões na região explodiram esta semana, após o Japão ter dito que a China mirou recentemente um radar militar em um navio japonês que navegava perto de ilhas que estão sendo disputadas pelos dois países.
O setor de perfuração continua avançando em direção a águas mais profundas e a novos depósitos. No Golfo do México, as perfurações estão ocorrendo em profundidades que chegam a cerca de 2.400 a 2.700 metros sob a superfície marítima, de acordo com Mike Lyons, advogado-chefe da Louisiana Mid-Continent Oil and Gas Association. Em comparação, a plataforma Deepwater Horizon estava realizando uma perfuração a cerca de 1.500 metros de profundidade no golfo quando explodiu após um escape repentino de material proveniente do poço perfurado, há quase três anos.
As novas tecnologias aceleraram o avanço em direção a águas mais profundas. "Hoje muitas perfurações realizadas no Golfo do México são feitas com navios-sonda, em vez de plataformas de perfuração convencionais, que eram usadas no passado", disse Lyons. Os navios podem se instalar em águas mais profundas e ser estabilizados sobre os locais de perfuração com o auxílio de computadores sofisticados, disse ele.
Amy Myers Jaffe, diretora-executiva de energia e sustentabilidade da Universidade da Califórnia, em Davis, disse que os avanços do setor para a exploração de águas mais profundas têm se mostrado constantes, mas graduais. "Eles não estão indo de 0 km a 100 km" por hora, disse ela. "Eles estão indo de 80 km para 100 km".
Com o aumento da capacidade surgem análises mais minuciosas, especialmente depois de eventos como o acidente com a plataforma Deepwater Horizon, em 2010, e o vazamento de petróleo na costa do Brasil, em 2011, além de um vazamento de gás natural no ano passado – ocorrido em uma plataforma de perfuração do Mar do Norte, localizada a aproximadamente 240 km de Aberdeen, na Escócia.
Jaffe diz que as empresas de perfuração talvez tenham considerado as operações em águas profundas uma coisa rotineira demais. "Eu acho que nós estávamos agindo de maneira um pouco blasé em relação às dificuldades que esse tipo de operação traz", disse ela. "E, talvez, hoje o setor esteja lutando para reduzir seu nível de tolerância a erros de 2% para 0%". Zero por cento deve ser a nova meta a ser perseguida, especialmente em lugares que passaram recentemente por protestos públicos relacionados a vazamentos, como Austrália, Brasil e Estados Unidos, disse ela.
A dificuldade da Shell em perfurar sob as águas do Ártico, na costa do Alasca, ilustra com mais ênfase os desafios tecnológicos da exploração em novos terrenos – que, em geral, apresentam condições adversas.
O setor está ansioso para "ter acesso a essas áreas frágeis e complicadas", como o Ártico, disse Frederic Hauge, presidente da Fundação Bellona, grupo ambientalista sediado em Oslo. Mas os riscos são imensos, disse ele, acrescentando que, na Noruega, ele sentiu que as empresas não tinham planos de emergência adequados para as plataformas que ficam mais distantes da costa.
Como a tecnologia está ajudando a impulsionar o setor e levá-lo a locais ainda mais distantes da terra firme, as dificuldades geopolíticas estão se intrometendo nos negócios. Muitos países têm fronteiras marítimas que se sobrepõem. Líbano e Israel reivindicam as mesmas áreas do leste do Mar Mediterrâneo, que são ricas em gás natural. Estados Unidos e México também se estranharam em relação aos direitos de exploração no Golfo do México, embora os dois países tenham assinado um acordo de cooperação para atividades de perfuração há um ano.
No Mar da China Oriental e no Mar do Sul da China, as disputas continuam, enquanto a China, com seu crescente apetite por energia, entra em confronto com seus vizinhos para determinar seus direitos de perfuração e fazer reivindicações de soberania.
"Se essas fossem regiões sem nenhuma contestação, tenho certeza de que as pessoas já teriam seguido adiante" com as perfurações, disse Smith, do Conselho de Relações Exteriores.
Se o setor de perfuração se aventurar por águas ainda mais profundas, complicações políticas adicionais aguardam suas operações. A Convenção sobre o Direito Marítimo da Organização Nações Unidas (ONU), assinada por mais de 150 países – embora não ratificada pelos Estados Unidos – dá à Autoridade Internacional do Solo Marítimo, com sede na Jamaica, o poder de fiscalizar a exploração mineral em águas que se encontram além da chamada zona econômica exclusiva dos países, que normalmente se estende por 200 milhas náuticas, ou 370 quilômetros da costa.
Adam Cook, biólogo marinho que trabalha na autoridade do solo marítimo, disse que, embora o grupo tenha firmado 17 contratos de exploração com empresas, a maioria dessas companhias estava em busca de minerais, como nódulos de manganês, que são formações rochosas. Até agora, nenhuma companhia pareceu interessada em procurar petróleo ou gás natural, e o consenso é que "muito provavelmente não haverá nenhuma perfuração para a exploração de petróleo e gás para além das jurisdições nacionais no futuro próximo", disse Cook.
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