A resposta foi uma bomba de gás lacrimogêneo que pôs em fuga a ele e seus companheiros de luta. Talvez tenha sido esse gás lacrimogêneo, muito utilizado pela polícia do Cairo, que iniciou o costume de os manifestantes levarem o rosto coberto com balaclavas pretos, gorros-máscaras que protegem o nariz e a boca. Talvez fosse uma forma de se manter unidos em uma espécie de anonimato uniforme. O certo é que essa máscara se transformou em um símbolo, e agora o governo quer levá-la a julgamento.
O Black Bloc (Bloco Preto) é a última "besta negra" do governo de Mohammed Mursi, e por isso a última moda nas ruas do Cairo. Na terça-feira (29), o promotor-geral egípcio, Talaat Abdullah, ordenou a prisão dos membros desse grupo, por considerá-los instigadores de muitos episódios de vandalismo e violência que deixaram o país em chamas nos últimos dias, justamente no contexto do segundo aniversário da revolução.
Talaat, que chegou a qualificar os membros mascarados desse movimento de "terroristas", acabou lhes dando um renome que não tinham até esta semana. Agora, em Tahrir, junto das bandeiras egípcias e das máscaras de proteção contra fumaça, vendem-se centenas de balaclavas pretas.
Kimo, com o rosto coberto de preto e uma pedra na mão, é um perito revolucionário. Está há dois anos nas ruas. Começou com os protestos contra Hosni Mubarak, atirando pedras contra a polícia. Depois viu chegar o exército e, depois deste, Mursi. Após todo esse tempo, uma coisa é clara para ele: "Não quero que Mursi governe meu país. Não fizemos a revolução no Egito para que ele e a Irmandade Muçulmana venham e fiquem com tudo. Eles têm bombas de gás e metralhadoras. Nós temos pedras". E sobre sua filiação ao Black Bloc? "Sobre isso não há muito que dizer."
É uma resposta comum. Assim é o Black Bloc: um clube no qual é fácil identificar seus membros, mas que não tem na realidade uma organização ou ideias claras. São centenas de manifestantes unidos por uma máscara. Na realidade, a prática de cobrir o rosto de preto nasceu na Europa dos anos 1970 e 80, recurso preferido por todo tipo de grupos ativistas, fossem antinucleares ou anarquistas. Começou a ser visto no Egito nas últimas semanas, no contexto de uma crescente insatisfação popular com as reformas de tipo islâmico de Mursi.
"Para Mursi, o Black Bloc é uma 'shama'a'", explica Ahmed Omar, 22, simpatizante do grupo. "Uma shama'a, no árabe do Egito, é um cabide. Foi o que fez Mursi, buscar um cabide no qual pendurar todos os seus problemas." Omar esteve preso cinco vezes durante os protestos contra Mubarak. Para ele, a chave do futuro da revolução está em grupos como o Black Bloc, com sua vontade de manter a uniformidade e o anonimato, em uma espécie de maré negra da qual o governo Mursi não poderá se livrar facilmente.
"É um fato que, do ponto de vista político, os manifestantes têm a sensação de estar encurralados. E não é de surpreender que tenham decidido se expressar com esses episódios de violência de rua", acrescenta Omar. "Basta comparar as armas de que a polícia dispõe: metralhadoras, pistolas e bombas de gás lacrimogêneo. E o que têm os manifestantes? Pedras. Na realidade, chamo a isso de protesto pacífico."
Na segunda-feira (28), alguns membros do Black Bloc conseguiram uma façanha: roubaram um veículo blindado da polícia, o conduziram à praça Tahrir e o incendiaram. O veículo continua calcinado em plena praça. É um símbolo e uma recordação de que o Black Bloc acaba de chegar ao protesto egípcio, e veio para ficar.
Era previsível, a Irmandade nunca foi o fator principal da oposição da Tahir, eram jovens desempregados e parte da classe média que não dependia dos empregos do Estado.
ResponderExcluirA situação não melhorou, afinal como melhorar a economia egípcia aquilo é um caos e há muita frustração, não houve dialogo com parte da sociedade organizada que agora apoia as manifestações.
São manifestações que seguiram meses, praticamente é um caso único de ocupação de praças para protestos, isso leva uma memória e um endurecimento das exigências.
E Egito nem é o primeiro caso nem o último que transições em economia em caos são difíceis, só olhar para história de cada país que passou com um processo de 1970 para cá, uns conseguiram, outros não, mas todos tiveram muitos saques e "desordens" (inclusive o Brasil em abril de 1983, 5 mil desempregados derrubaram as grades do palácio dos bandeirantes). A excepcionalidade é o tamanho das manifestação e tempo de ocupação do espaço público.
Abraços
Abraços.