segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sem eletricidade e comida, sírios lutam para sobreviver em Aleppo


Ajoelhada sobre o telhado, uma mulher usa um bastão para desentupir um cano longo. Sem eletricidade, os moradores agora usam diesel para o aquecimento, o que entope as chaminés com fuligem. Perto dali, na rua Bab al-Nayrab, cabras vasculham 400 metros de lixo. Seu odor pútrido se estende ainda mais longe.

À medida que o confronto na maior cidade da Síria entra em seu sexto mês, a economia se paralisou. Não há eletricidade, e os preços de bens essenciais como o pão e óleo de cozinha dispararam. Moradores estão vendendo suas posses para sobreviver.

A esperança dos rebeldes de uma vitória rápida em Aleppo deu lugar à realidade de que não há um fim à vista para esta guerra. Embora os rebeldes tenham tomado recentemente a base aérea de Sheikh Suleiman e a Escola de Infantaria nos arredores de Aleppo, o regime ainda controla grandes áreas da cidade e regularmente bombardeia zonas controladas pelos rebeldes.

A criação de um novo governo no exílio e um comando militar unificado significam pouco para as famílias na linha de frente, que esperam fervorosamente que a próxima bomba não caia em sua sala de estar. A nova Coalizão Nacional não atende suas as necessidades nem oferece a segurança com que eles sonham.

Ahmad Mustafa produz jeans em uma fábrica de roupas. O homem de 30 anos de idade, pai de dez filhos, não participou dos protestos que precederam ao conflito armado. "Eu só quero trabalhar", diz ele.

Sem eletricidade para ligar sua televisão por quase um mês, ele não está acompanhando os acontecimentos atuais. "Eu não sei nada sobre a Coalizão ou a política", diz Mustafa, acariciando a cabeça de uma de suas muitas filhas. "Eu só me concentro em sobreviver."

Filas para conseguir um saco de pão pita, de até sete horas de duração, são a novidade mais recente nos bairros controlados pelos rebeldes. Padarias melhor organizadas criaram sistemas de loteria; em outros, uma corrida louca acontece quando as portas abrem.

Homens corpulentos lutam para chegar à frente, enquanto os que estão atrás empurram, esmagando as pessoas no guichê de entrega. Na parte de trás da fila, Salwa Badri faz uma careta enquanto observa o empurra-empurra. "Isso é um pesadelo", exclama a mãe de 36 anos. "Por que Deus nos abandonou a isso?"

Na verdade, foi o regime de Bashar al-Assad que abandonou grande parte do leste de Aleppo aos rebeldes do Exército Livre da Síria, que não têm experiência em lidar com as tarefas diárias como distribuir farinha e óleo.

"Nós não achamos que o ELS fosse fracassar desta forma", diz Musab Muhammad, professor de engenharia elétrica da Universidade de Aleppo. "Seus erros estão fazendo com que ele perca o apoio do povo."

Enquanto o desempenho do ELS [Exército pela Libertação da Síria] está corroendo seu apoio, a Coalizão Nacional não tem nenhum apoio a perder. Uma casca sem nenhuma operação de base, ela não têm os meios necessários para satisfazer as necessidades diárias. Se a coalizão quiser ganhar algum apoio da população, terá de fazer sua presença mais conhecida. Seus membros terão de passar mais tempo lidando com a distribuição de farinha e menos nas capitais ocidentais buscando uma ajuda que não chega para Mustafa ou Badri.

Nos escombros do que já foi um centro cultural no bairro de Fardus, ao sul, várias centenas de pessoas estão realizando outra manifestação contra o regime. "Avance, ó Exército Livre! Agarre a determinação e a perseverança com ousadia. Sua terra retornará através do sangue. Levante-se, não deixe passar", grita Faisal Abdallah. "Nós não queremos que o regime nos oprima mais", explica.

Abdallah tem 21 anos, e os outros manifestantes parecem ter menos de 25. Os homens mais velhos observam de longe. Quando um estrangeiro se aproxima de um homem mais velho que está em pé com um saco de tomates e pepinos, ele rapidamente se afasta. "Eu não quero problemas", ele murmura, evidentemente temeroso de que uma conversa com um estranho possa chegar até o regime que ainda controla partes da cidade.

Por sua ausência das manifestações da oposição, a maioria silenciosa sinaliza que ainda não está preparada para jogar a sua sorte nas mãos dos rebeldes.

Muitas vezes ouvimos relatos de que o regime de Assad está perto do colapso, que a sequência de vitórias dos rebeldes levou o governo à beira da derrota. Mas, em Aleppo, há pouco sinal disso.

Depois do sucesso inicial dos rebeldes no início de dezembro, a guerra dentro da cidade parou. A batalha na linha de frente nos bairros de Bustan al-Pasha e Salah al-Din continua num impasse. Enquanto isso continuar assim – e é provável que isso aconteça por um longo tempo – Mustafa e Badri têm pouca esperança de acordar do pesadelo da batalha por Aleppo e encontrar suas casas aquecidas e com eletricidade.

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