quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Refugiados sírios vivem situação de miséria

Trabalhador jordaniana monta uma tenda em um campo de refugiados para os sírios na cidade jordaniana de Zataari, próximo à fronteira com a Síria

Um homem que se identificou como Abu Tarik, da família Dhulash, contou que chegou ao campo de refugiados de Zaatari depois de enfrentar bombardeio intenso perto de sua casa, situada do outro lado da fronteira síria, em Daraa.

"Lá íamos morrer nos incêndios", disse Abu Tarik. "Aqui vamos morrer de frio. Não queremos morrer nesta barraca."

Numa crise humanitária crescente que ameaça desestabilizar ainda mais o Oriente Médio, mais de meio milhão de pessoas que já abandonaram a Síria acabaram em campos de refugiados e vilarejos na Jordânia, na Turquia e no Líbano. As agências humanitárias preveem que, neste ano, o número de refugiados sírios chegue a 1 milhão.

O campo de refugiados de Zaatari ocupa 23 km2 do deserto e é o maior da região, com mais de 50 mil pessoas. De acordo com os refugiados e mesmo alguns dos responsáveis pela administração do campo, a miséria aqui é terrível e inumana.

No início de janeiro, a situação ficou ainda pior quando dezenas de barracas desabaram sob a tempestade mais forte dos últimos 20 anos. Vários funcionários humanitários ficaram feridos num tumulto que explodiu durante a distribuição de alimentos.

Uma semana depois, crianças descalças andavam na lama num frio de quase zero graus. As pessoas faziam fila durante horas para receber panelas, baldes e utensílios. Um rapaz pagou US$ 3 para fazer a barba e cortar o cabelo numa barraca de folhas de zinco montada quatro dias antes por um barbeiro refugiado. Outro, mais jovem, escalou um poste de luz de nove metros para fazer uma ligação elétrica irregular.

"Não existe um lado positivo a ser apontado em condições tão sofridas", admitiu Andrew Harper, diretor da agência de refugiados das Nações Unidas na Jordânia. "O campo simplesmente é um lugar muito, muito ruim de estar."

Mas Harper afirmou que a ONU e as organizações sem fins lucrativos que a estão ajudando a administrar o campo estão fazendo o melhor possível com os meios de que dispõem, observando que a agência lançou um apelo por US$ 245 milhões em 2012 para assistir os refugiados sírios da região e recebeu apenas US$ 157 milhões.

A Jordânia, já onerada por uma crise financeira intensa e um movimento crescente de protestos, está se esforçando para fazer frente ao influxo de refugiados.

O campo de Zaatari é apenas o desafio mais visível. Quase cinco vezes mais refugiados estão vivendo em cidades e vilarejos da Jordânia, pesando sobre os recursos do governo e competindo por empregos escassos.

Anmar Hmoud, encarregado pelo governo jordaniano da coordenação de questões relativas aos refugiados sírios, disse que os sírios podem deixar Zaatari e o punhado de campos menores da Jordânia se um parente ou amigo puder lhes garantir apoio financeiro, mas que os recursos do próprio governo estão se esgotando.

Há alguma ajuda por vir. Hmoud disse que, no final de janeiro, será aberto um novo campo ao sul de Zaatari, perto de Zarqa, financiado pelos Emirados Árabes Unidos, permitindo que 6.000 dos moradores mais vulneráveis de Zaatari se mudem para casas pré-fabricadas. O novo campo poderá eventualmente chegar a receber 30 mil pessoas. A Arábia Saudita, que no último mês forneceu a Zaatari 2.500 casas pré-fabricadas, no valor de US$ 8 milhões, anunciou que dará mais unidades valendo US$ 10 milhões adicionais.

As queixas no campo de Zaatari são inúmeras. Os alimentos são parcos e faltam roupas. A eletricidade sofre falhas frequentes, é raro haver água quente e os banheiros são imundos. Há suspeitas de que funcionários de agências humanitárias estejam roubando cobertores. Mas, em vista das condições do tempo e do fluxo constante de refugiados que chegam, é surpreendente que as coisas não sejam muito piores.

Os responsáveis pelo campo disseram que ninguém morreu de frio. Khaled al-Hariri, 22, descrito num vídeo postado no YouTube por um ativista sírio como "mártir do descaso e do frio", na realidade, segundo um porta-voz da Organização Mundial de Saúde, morreu de câncer num hospital da região.

Uma organização chamada Ginecologistas Sem Fronteiras fez os partos de 172 bebês no campo. Um deles foi Sham, cujo pai, Yusef Mohamed Hasan, disse que pretendia retornar à Síria assim que sua mulher se recuperasse da cesárea. " Lá não é seguro", disse. "Mas aqui é humilhante."

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