terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Origem turca de suposto assassino de militantes curdas enfraquece hipótese de acerto de contas

Milhares de pessoas participam da cerimônia de funeral das três ativistas curdas mortas à tiros em Paris, em Diyarbakir, a maior cidade da Turquia de origem curda

Quem é o suposto assassino da Gare du Nord, o homem suspeito de ter matado friamente três ativistas curdas afiliadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no dia 9 de janeiro, em pleno centro de Paris? As fotos disponíveis na internet mostram um homem elegante, de óculos escuros e bolsa de couro, posando encostado em uma Ferrari, na avenida de Iéna, oeste de Paris.

No perfil que criou na rede social Facebook, Omer Güney declara trabalhar no aeroporto de Roissy-Charles de Gaulle (Val-d’Oise). Ele teria sido contratado como faxineiro temporário durante vários meses no ano de 2012. Esse cidadão turco de 30 anos, que residia em Garges-lès-Gonesse, foi indiciado e preso na segunda-feira (21) por "assassinatos relacionados a uma atividade terrorista" e "participação em associação criminosa".

Omer Güney foi um dos últimos a verem com vida Sakine Cansiz, Fidan Dogan e Leyla Söylemez e foi indiciado, segundo os primeiros elementos da investigação, graças às câmeras de segurança e a vestígios de pólvora detectados em uma bolsa que lhe pertencia.

Antes do assassinato das três ativistas, ele havia sido encarregado pela organização clandestina de atuar como acompanhante para Sakine Cansiz, uma das fundadoras do PKK em 1978. Esta última estava de passagem pela França para renovar seu visto e ela se preparava para voltar à Alemanha, onde morava, quando foi morta.

Durante seu interrogatório, Omer Güney teria declarado ser membro do PKK há dois anos. Para Ancara, esse elemento é suficiente para concluir que o triplo assassinato de Paris foi resultado de um "acerto de contas interno".

O comando militar do PKK, através de seu líder Murat Karayilan, negou que Omer Güney pertencesse ao movimento. O jovem havia se aproximado das estruturas francesas do PKK e aderiu a uma de suas inúmeras associações de fachada, pagando uma taxa de 50 euros ao centro cultural curdo de Villiers-le-Bel, em novembro de 2011. "Não se torna membro do PKK em um ano, para isso é preciso passar por campos de formação ideológica", observa um representante político curdo. "Ele não é curdo, muito menos um militante curdo", declarou Mehmet Ülker, presidente da Federação de Associações Curdas da França.

Na mídia turca, a família do suposto assassino também negou que ele pertencesse ao PKK. Seu primo, evidentemente um policial, posa em seu perfil do Facebook com seu distintivo, em uma viatura policial. Segundo seu tio Zekai Güney, Omer não teria tido absolutamente nenhuma ligação com a rebelião armada ativa na Turquia em trinta anos. "Somos uma família nacionalista", ele explicou. Além disso, segundo esse parente o suspeito teria um tumor no cérebro e estaria sujeito a frequentes lapsos de memória...

Único homem de uma família de quatro filhos, originário do distrito de Sarkisla, uma cidade administrada por um pequeno partido de extrema direita, o jovem não vem de uma região curda. Pelo contrário, a província de Sivas é conhecida por seus militantes turcos ultranacionalistas. Em Polat Pacha, seu vilarejo, batizado com o nome de um general comandante da invasão de Chipre em 1974, "não há uma única família de ascendência curda", garante o jornal pró-governo "Sabah". Segundo o imame do vilarejo, entrevistado por redes de televisão, a família Güney sempre votou no Partido da Ação Nacionalista (MHP), os "Lobos Cinzentos".

Os mandantes do triplo homicídio do qual Omer Güney é acusado continuam desconhecidos. Uma equipe dos serviços de inteligência turcos, o MIT, foi enviada a Paris para conduzir a investigação. Omer Güney foi embora da Turquia aos 5 anos de idade, com sua família, para ir morar na França, onde seu pai trabalhava. Depois de se instalar e se casar na Alemanha em 2003, ele voltou para a França após seu divórcio, há dois anos. Desde então, apesar de sua pouca renda, ele passou a fazer várias viagens até a Turquia: uma dezena de vezes só no ano de 2012.

Em agosto, ele voltou para renovar seu passaporte, e em dezembro passou três dias em Ancara, em um hotel do centro da cidade. O motivo de suas viagens permanece sem explicação.

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