terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Oferta de ajuda à França no conflito em Mali é arriscada para Alemanha

Um caça francês Dassault Rafale é preparado para uma missão de bombardeiro a Mali

A força aérea da França está atacando alvos há mais de quatro dias. O país está em estado de guerra, mesmo que as autoridades governamentais em Paris relutem em dizer isso. Elas preferem falar em "intervenção" a pedido do governo de Mali. Mas os fatos contam uma história diferente. O piloto de um helicóptero de ataque francês morreu e mais de cem pessoas teriam sido mortas desde sexta-feira (11). A situação em solo não é clara. Na segunda-feira (14), rebeldes islamitas conquistaram a cidade de Diabali, a cerca de 400 quilômetros ao norte da capital, Bamaco.

O governo francês estabeleceu um limite à sua assistência militar. "A intervenção durará apenas semanas", disse o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius.

Esse é um prognóstico bastante ousado.

Ninguém pode dar uma estimativa realista de quanto tempo durará a ação militar da França. É um empreendimento de risco para o presidente francês François Hollande. A visão da maioria dos autores de políticas em Berlim é de que ele deve receber ajuda, mas é uma caminhada pela corda bamba para a Alemanha. Em nove dias, os dois aliados celebrarão o 50º aniversário da assinatura do Tratado de Amizade Franco-Alemão, com uma grande cerimônia em Berlim da qual participarão membros dos governos e Parlamentos dos dois países.

Mali está na agenda de Berlim há meses. Em outubro, a chanceler Angela Merkel disse que apoiaria uma missão conjunta da União Europeia para treinamento e apoio às forças de Mali. E o ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, não deseja uma repetição das críticas sofridas pela Alemanha por causa da Líbia em 2011, quando ele foi acusado de ter hesitado demais e então ter deixado a Alemanha de lado, ao se abster na votação no Conselho de Segurança da ONU da zona de exclusão aérea em apoio aos rebeldes líbios.

Em uma coletiva de imprensa de rotina do governo na segunda-feira, o porta-voz de Westerwelle, Andreas Peschke, disse que estava claro que a Alemanha "não deixará a França nessa situação difícil".

Berlim está oferecendo a perspectiva de apoio logístico, médico e humanitário. Está claro que o governo de Merkel deseja evitar o envio de tropas de combate alemãs. O porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, descartou isso categoricamente.

O principal partido de oposição, o Partido Social Democrata (SPD), concorda. O candidato do SPD adversário de Merkel na eleição geral de setembro, Peer Steinbrück, disse: "Não há nenhuma dúvida a respeito de uma missão de combate envolvendo tropas alemãs".

Um envio sem fim?

Mas mesmo se a Alemanha não enviar tropas de solo, seu envolvimento em Mali está repleto de riscos. Ao auxiliar a França, a Alemanha estaria na prática participando de um ataque contra radicais islâmicos com laços estreitos com a Al Qaeda, que já está ameaçando ataques em retaliação a Paris e a todos os países que participarem da operação, mesmo fora de Mali. Além disso, a experiência mostra que assim que uma nação oferece apoio logístico, pode rapidamente ser pedido que ela ofereça mais. No final, a Alemanha poderia ser arrastada para um conflito muito longo.

Ninguém em Berlim quer um segundo Afeganistão. Esse é o motivo para tanto a coalizão de governo de Merkel quanto a oposição política estarem se mostrando tão cautelosas em sua reação.

Philipp Missfelder, o porta-voz de política externa do partido de Merkel na câmara baixa do Parlamento, o Bundestag, disse: "Eu sou a favor de sermos cautelosos e realizarmos uma ampla análise. A França conta com nosso apoio político, mas temos que ser muito cuidadosos ao pesarmos os riscos envolvidos em cada envio da Bundeswehr".

Mas quão longe irá o apoio logístico da Alemanha? Será que aeronaves de transporte Transall alemãs também seriam usadas, por exemplo, para transporte de tropas africanas da missão da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental ao país? Os planos atuais preveem a formação de uma força de 3.300 soldados, provenientes de Burkina Fasso, Níger, Senegal, Benin, Togo e Costa do Marfim. Missfelder disse não descartar a possibilidade, mas que ela exigiria "ampla revisão".

Na oposição, o articulador de política externa do SPD no Parlamento, Rolf Mützenich, não disse nada sobre transporte de tropas, mas fez exigências à coalizão de Merkel.

"O governo federal precisa informar nesta semana as suas intenções, suas capacidades e os pedidos que estão sendo feitos", ele disse. "Além disso, há questões de lei internacional que precisam ser respondidas."

Dentro do Partido Verde, entretanto, uma disputa pública estourou a respeito da missão francesa em Mali. Jürgen Trittin, o líder dos verdes no plenário do Parlamento, defendeu a ação francesa, mas a porta-voz de política externa, Kerstin Müller, a descreveu como "arriscada demais".

Treinadores alemães voltarão em breve para Mali?

Além de fornecer ajuda à França, Berlim também deseja esforços acelerados para o estabelecimento de um programa de treinamento para o exército malinês, que já foi repetidamente adiado. A operação de treinamento da UE já está em funcionamento há meses e um plano detalhado pede por até 200 treinadores (incluindo até 30 alemães) para deixar em condições os malineses mal treinados e fornecer a eles pelo menos um ano de apoio em seu combate contra os islamitas.

Tudo já foi planejado, incluindo 5 milhões de euros em financiamento, mas isso ainda não saiu do papel. Em Berlim, as autoridades do Ministério das Relações Exteriores disseram que decisões serão tomadas "nas próximas semanas". E o que isso significaria em termos concretos?

-Ao norte da capital, Bamaco, um punhado de alemães forneceu treinamento para soldados malineses até o golpe militar em Mali, em março de 2012. Eles os ensinaram a dirigir grandes caminhões, a erguer acampamentos e construir pontes provisórias.

-Assim que uma decisão política for tomada, a Bundeswehr poderia continuar esse treinamento, e assim cumprir sua parte na missão da UE. Fontes dentro do Ministério das Relações Exteriores disseram que a Alemanha não poderia fazer muito mais que isso.

Mas mesmo essa missão traz riscos. Se ainda não eram, depois dos franceses lançarem seus ataques, as tropas estrangeiras no país passarão a ser vistas como participantes de uma guerra contra os islamitas.

As bases alemãs poderiam enfrentar ações de retaliação. Dúvidas ainda persistem sobre quão eficaz é o treinamento. Desde o golpe, o país é liderado por um governo interino instalado pelos militares, mas não se sabe ao certo quem de fato lidera o exército. Até a incursão francesa, a posição era de que a UE não iniciaria sua missão em Mali até que as reformas políticas no país se tornassem visíveis.

Com a ação unilateral da França, isso agora será difícil.

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