segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

No Iêmen, a lentidão da transição política alimenta a impaciência dos revolucionários


O diálogo nacional deve reunir os diferentes partidos para implementar reformas até a eleição de um novo presidente, em fevereiro de 2014

No Iêmen, o ano de 2012 terminou em euforia. Por todo o país, foram muitos os que, em dezembro, comemoraram a expulsão do clã de Ali Abdallah Saleh do aparato securitário e militar. Por isso, o ex-presidente, enxotado do governo em 2011 por manifestações populares, se via privado de meios potentes para, à sua maneira, influir na transição política agora encarnada por Mansour Hadi, chefe do Estado.

No entanto, a tão esperada implementação da reforma das Forças Armadas não foi recebida como acerto final por aqueles que participaram da queda do antigo regime. A luta contra a corrupção, o estabelecimento de um Iêmen civil, fundamentado sobre o direito e a igualdade, a abolição dos privilégios e de clãs armados ainda estão no centro das reivindicações dos "revolucionários".

A "revolução" pode estar menos visível nas "praças da mudança", sem seus ocupantes, mas ainda está viva. E "atenta", completa Rajeh Badi. Esse opositor de primeira hora é hoje conselheiro do primeiro-ministro Mohammed Salim Basindawa. "A revolução está presente como uma garantia para o futuro do Iêmen. Isso porque essa revolução está incompleta. Ela terminará quando o povo entrar em uma cabine de votação para eleger, honestamente, seu presidente", informa Badi.

Ou seja, no dia 21 de fevereiro de 2014, ao final de dois anos de transição política. "A mudança demorará para chegar, mas pelo menos o povo precisa sentir que ela está em andamento. Senão, ele perderá a paciência e ficará decepcionado. Então pode haver ali uma revolução dos famintos… sem garantia de que ela seja popular ou pacífica. Não seria do interesse de ninguém", adverte o conselheiro.

No Iêmen, o momento é de impaciência e de alerta. "O país está na encruzilhada do desconhecido", diz Ali Saif Hussein. Para o diretor do Fórum para o Desenvolvimento Político, um centro de reflexão independente, há dois caminhos abertos para ele, "o diálogo ou a queda". "A revolução criou um equilíbrio entre todas as forças. Os partidos políticos não estão nem frágeis o suficiente para serem destruídos, nem fortes o suficiente para atacar os outros. É preciso saber aproveitar essa situação para construir uma ponte na direção do futuro", ele propõe.

A constituição de um governo de união nacional, em fevereiro de 2012, enfraqueceu a posição do Congresso Popular Geral, dirigido por Ali Abdallah Saleh. Mas ele também obriga o Al-Islah, o partido islamita, e o Partido Socialista, dois partidos que lideraram a revolução de 2011, a deixarem de lado suas críticas.

O Diálogo Nacional agora está concentrando todas as atenções. Retomado por Mansour Hadi, ele deve reunir os principais atores do cenário político e civil iemenita, 565 participantes no total. Cabe a eles recolocar o país no caminho da estabilidade e da segurança, ao abordar as questões mais delicadas: a reforma da Constituição, a justiça na transição, a rebelião no norte do país, a tentação separatista do Sul…

A tarefa promete ser delicada. No entanto, é a "chave do futuro do Iêmen", diz Ali Saif Hussein. Isso porque "em caso de fracasso, não haverá uma nova revolução. As pessoas não voltarão a sair às ruas na condição de povo, como em 2011, mas na condição de grupos, cada um defendendo suas próprias aspirações", ele avisa.

Após vários anúncios feitos, esse Diálogo Nacional poderá ocorrer neste mês de janeiro em Sanaa, a capital. No entanto, nem todos os obstáculos foram removidos. Os movimentos de jovens criticam uma subrepresentação e sua marginalização. Os sulistas poderão se apresentar de forma desorganizada para negociar uma opção federal, uma vez que os defensores da separação territorial preferem boicotar o evento.

O Congresso Popular Geral, que obteve 112 cadeiras, ou seja, menos que o total dos outros partidos, exige mais representantes. O partido presidido por Ali Abdallah Saleh está tendo até dissensões entre partidários e opositores à transição política.

Mas essas dificuldades todas não alteram o otimismo de Abderrahim Sabir, o conselheiro político do enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para o Iêmen, Jamal Benomar. "Sim, o país está  em uma encruzilhada. Mas lembremo-nos da situação há 14 meses. Dois exércitos se enfrentavam, os jovens protestavam. Hoje, a vida está retomando seu curso, alguns perigos sumiram. Estamos às portas de um Diálogo Nacional e o percurso não foi fácil", ressalta Sabir. "Sempre há desafios, entre eles a corrupção, as diferenças políticas e o exercício da autoridade do Estado em todo o território, mas um processo está em andamento, com a vontade dos atores de chegar a um consenso. O Diálogo Nacional vai redefinir o novo Estado iemenita. A estrada será longa, mas estamos no caminho certo".

E para onde iria o Iêmen se o Diálogo Nacional terminar em fracasso? "Muitos perguntam isso aqui", responde Sabir. "Mas é preciso acabar com esses desafios, pois há outros à espera. O desenvolvimento, as crises humanitárias, a desnutruição…" No Iêmen, não faltam pessoas impacientes por mudanças.

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