terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ex-parceiro da Alemanha lidera islamitas na linha de combate no Mali

Iyad Ag Ghaly, líder do grupo Ansar Dine

O homem no centro do combate contra os islamitas no norte de Mali tem um histórico inesperado com a Alemanha. Em 2003, ele foi crucial na facilitação de um pagamento de resgate para libertação de turistas alemães mantidos como reféns na Argélia.

O tuaregue é um homem musculoso com barba negra como azeviche e, nas poucas ocasiões em que sorri, ele parece quase gentil. Ele já foi apenas o líder da tribo Ifora, que vive nas montanhas de arenito no deserto do Saara. Mas agora o governo francês vê Iyad Ag Ghaly como um dos maiores inimigos do Ocidente.

Hoje, Ag Ghaly lidera o maior grupo islamita no Mali, o Ansar Dine, e seus aproximadamente 1.500 combatentes. Seus homens controlam atualmente 60% do país. Desde a semana passada, o exército francês tem combatido os islamitas com bombardeiros, helicópteros e tropas terrestres. Berlim está auxiliando os franceses com o fornecimento de aviões de transporte.

Os alemães estão familiarizados com Ag Ghaly de seus tempos como parceiro do governo de Berlim. Em 2003, ele ajudou a negociar o pagamento do dinheiro de resgate para libertação de um grupo de turistas sequestrados no Saara, dez deles alemães.

Uma versão brutal da lei Sharia
Ag Ghaly não era um islamita na época, nem tinha a reputação de ser particularmente religioso. Mas sob pressão de dois grupos concorrentes, a Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) e o Movimento para a Unidade e Jihad na África Ocidental (MUJAO), cada um com até 500 combatentes, Ag Ghaly também se tornou religioso há cerca de um ano. Ele introduziu uma versão brutal da lei da Sharia nas regiões controladas pelo Ansar Dine e agora faz discursos inflamados contra os infiéis.

É claro, seu dogmatismo religioso não corresponde ao seu estilo de vida. Até os primeiros ataques aéreos franceses, o homem cujos apoiadores veneram como o "Leão do Deserto" residia em uma chácara luxuosa que o ex-ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, construiu para si perto do aeroporto em Kidal.

Mas segundo informação obtida pela BND, a agência de inteligência estrangeira da Alemanha, Ag Ghaly coopera estreitamente com duas afiliadas regionais da Al Qaeda. Até recentemente, o governo em Bamaco esperava que dinheiro convenceria a força tuaregue de Ag Ghaly a abandonar a aliança islamita.

Ag Ghaly era seu parceiro de negociação. Mas a BND alertou o governo alemão desde cedo que o líder rebelde se gabava para seus associados que as negociações eram uma farsa, e que ele estava apenas tentando ganhar tempo para preparar sua ofensiva militar contra o sul.

‘Ele era nosso homem’
Ag Ghaly já foi um conhecido político malinês e, por algum tempo, o governo malinês até mesmo o enviou para a Arábia Saudita como diplomata. Em 2003, após um grupo de turistas ter sido sequestrado no Saara, ele ajudou os alemães realizando a diplomacia entre a capital, Bamaco, e o grupo islamita argelino GSPC. No final, Ag Ghaly conseguiu negociar um acordo. Em agosto de 2003, 14 reféns foram libertados em troca de um pagamento de 5 milhões de euros.

O então secretário de Estado alemão Jürgen Chrobog levou o dinheiro para Bamaco em uma mala a bordo de jato Challenger da força aérea alemã. Ele o entregou para o governo malinês, que por sua vez o enviou para Ag Ghaly, na região de fronteira entre Mali e a Argélia. Como colocou um ex-alto funcionário do governo alemão, "ele era nosso homem".

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