segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Chuck Hagel pode ser uma voz independente no Pentágono

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (centro), anuncia em Washington (EUA), nesta segunda-feira (7), a nomeação do ex- senador republicano Chuck Hagel, à esquerda, que ocupará o cargo de secretário de Defesa e John Brennan vai comandar a CIA (Agência Central de Inteligência)

Os críticos estão caindo em cima do presidente Barack Obama por ele ter escolhido Chuck Hagel para secretário de Defesa, e afirmam que o indicado é leniente demais com o Irã, tem tendências antimilitares e até mesmo antissemitas. Esta é uma caricatura grotesca de um homem que daria um ótimo secretário de Defesa.

É verdade que Hagel nutre um saudável ceticismo em relação ao envio de tropas norte-americanas para zonas de conflito. Isso porque ele traz no peito estilhaços que ganhou no Vietnã e valoriza os custos humanos quando vê funcionários do Pentágono moverem seus pinos nos mapas.

No Vietnã, Hagel resgatou seu irmão inconsciente (que serviu na mesma unidade que ele) de um veículo que transportava soldados e havia atingido uma mina. O incidente deixou Hagel com os tímpanos furados, além de graves queimaduras e uma lição importante.

"Eu não sou um pacifista. Eu acredito no uso da força, mas apenas depois de um cauteloso processo de tomada de decisão", disse Hagel posteriormente à Vietnã Magazine*.

"Na noite em que Tom e eu levantamos voo e fomos evacuados daquela aldeia para receber tratamento médico, em abril de 1968, eu disse a mim mesmo: se eu sair dessa e, algum dia, estiver em posição de influenciar as políticas do governo, eu farei tudo o que puder para evitar guerras desnecessárias e sem sentido".

Como é revigorante imaginar que as decisões relativas à guerra serão tomadas por pombos corajosos, e não por falcões covardes.

"Com demasiada frequência, em Washington, a questão das intervenções se transformou em uma abstração, um debate político", observou Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations (Conselho para as Relações Exteriores) e ex-funcionário sênior do Departamento de Estado. "Eu gosto da ideia de que alguém sentado à mesa de negociações conseguirá ver esse tipo de coisa da perspectiva das pessoas".

Brent Scowcroft, ex-conselheiro de segurança nacional e decano de grandes pensadores republicanos da área de política externa, me disse: "Eu acredito que ele seria um excelente secretário de defesa".

Scowcroft observou que altos funcionários às vezes são tentados a entrar para as forças armadas "como uma forma de conseguir eliminar os problemas rapidamente", sem avaliar as complexidades, enquanto Hagel seria um contrapeso que entende a confusão que reina nas situações de combate.

Isso seria útil, pois o maior erro incorrido pelos EUA em relação à política externa neste novo século foi o envio excessivo de tropas para zonas de conflito. O maior tropeço dado por Obama foi triplicar o número de soldados norte-americanos no Afeganistão. Até agora, nós desperdiçamos US$ 640 bilhões no Afeganistão e mais de US$ 800 bilhões no Iraque – ao todo, de acordo com meus cálculos, foram mais de US$ 12 mil por família norte-americana.

Imagine se essas quantias fossem gastas, digamos, na educação de crianças norte-americanas que estão na primeira infância. Ou para aumentar o número de pessoas que concluem a faculdade. Ou na educação em geral: se aproximadamente 1% do total desperdiçado no Iraque e no Afeganistão fosse gasto anualmente com educação ao redor do mundo, todas as crianças do planeta poderiam concluir o ensino básico, o que acabaria o analfabetismo mundialmente.

A insinuação mais desagradável e mais vergonhosa sobre Hagel é que ele é antissemita. Uma coluna do Wall Street Journal chegou a sugerir isso, e Elliott Abrams, ex-funcionário do governo de George W. Bush, afirmou que Hagel "parece ser um euro-antissemita". Eu apoio Hagel atualmente, em parte, porque acho essa afirmação muito ofensiva.

A "prova" é que Hagel se referiu, certa vez, ao termo "lobby judaico" em vez de "lobby de Israel", e que ele tem se mostrado, no geral, mais disposto a criticar as políticas israelenses do que muitos dos fracos políticos dos EUA.

Para começar, "lobby judaico" é um termo que tem sido amplamente utilizado: uma busca pelo termo "lobby judaico" no site do jornal israelense Haaretz retorna 27 páginas de citações. E o Haaretz criticou as políticas israelenses de forma muito mais contundente do que Hagel.

Líderes de organizações judaicas utilizaram o termo "lobby judaico". Malcolm Hoenlein, vice-presidente executivo da Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations (Conferência de Presidentes das Principais Organizações Judaicas Norte-americanas), usou o termo algumas semanas atrás.

É uma forma de bullying e de xingamento denunciar pessoas como antissemitas por elas não estarem dispostas a abraçar as políticas de um governo israelense de extrema-direita, que, com frequência, dispara contra seu próprio pé. Em um mundo no qual o antissemitismo segue firme, esse tipo de comportamento desvaloriza o termo a ponto de transformá-lo e um simples e palavroso insulto direitista. Talvez por conta disso, a Jewish Voice for Peace (Voz Judaica pela Paz), organização judaica norte-americana de tendência liberal, tenha anunciado que seus simpatizantes enviaram um total de 10 mil e-mails para Obama em apoio à candidatura de Hagel.

Quanto ao Irã, Hagel terá de soar mais agressivo em público para conseguir se entrosar com o governo – e é bom que o Irã se preocupe com um ataque militar. Mas eu espero que Hagel, em especial, continue sendo cauteloso. Obama demonstrado estar em uma situação difícil, de forma que, se um acordo nuclear com Teerã não for fechado, ele se verá obrigado a ordenar a realização de bombardeios ao país durante 2013 ou 2014. Um cético no Pentágono seria um ganho útil para esse debate.

Como jornalista que passa boa parte do tempo em campo, muitas vezes fico alarmado com o fato de as políticas formuladas por Washington se transformarem em uma câmara de eco, reforçando os preconceitos de quem está no comando, sem dar peso às complexidades inconvenientes que surgem nos locais onde a ação acontece. Com sua experiência de combate, Chuck Hagel pode oferecer não um eco, mas uma voz independente e capaz de refletir sobre as coisas.

*A Vietnã Magazine é uma revista bimestral que publica matérias sobre a Guerra do Vietnã. A revista foi fundada em 1988 pelo falecido coronel Harry G. Summers Jr. O coronel Summers serviu no Exército dos EUA na Coréia e no Vietnã, onde foi ferido duas vezes e condecorado por bravura.

Um comentário:

  1. Pelo visto o IRÃ vai vala com ou sem esses dois anjinhos. Quem não obedece, não outra coisa, senão mortes c/destruição total do seu país=INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA=MORTES COLATERAIS=FOI SEM QUERER QUERENDO=SALVAÇÃO DA DEMOCRACIA ... . Eu desejo um futuro promissor p/os EUA/iSSrael/OTAN/CCG e q DEUS os guarde de todo mal da RÚSSIA/CHINA/IRÃ/CUBA/SÉRVIA/C. do Norte/VENEZUELA/BOLÍVIA/SÍRIA (se existir até o bombardeio do IRÃ). O texto já prediz o FIM do MUNDO, é só esperarmos sentados, nós e os Maias. Por favor, EUA, avisem a DEUS que o mundo vai acabar em 2014, ou seja, menos 1 MUNDO p/Ele tomar conta.

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