terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Universo republicano está fadado à extinção


Minhas colegas de quarto na faculdade e eu costumávamos comprar alimentos e cozinhar juntas. A única comida em que parecíamos concordar era milho, por isso comíamos muito milho. Minha mãe me ligava periodicamente para advertir em um tom terrível: "Você sabe por que os incas foram extintos?"

Sua ameaça me deixou com um medo profundamente incutido de fazer parte de uma civilização que estava envolvida, distraidamente, em um comportamento que levaria a sua extinção.

Pena que o Partido Republicano não teve minha mãe para mantê-lo esperto. Então talvez não tivesse sido tão apocalíptico sobre nós - tornando-se a primeira civilização na história moderna a cair em espiral, como os incas, astecas e maias.

Os maias estavam certos, afinal, quando previram que o mundo acabaria em 2012. Era apenas um mundo selecionado: o universo republicano de homens brancos, retrógrados, mandões, privilegiados, conservadores e arrogantes.

Apenas mais uma tribo em desaparecimento que combatia as marés culturais e demográficas da história.  Algum dia será tema de um especial da National Geographic, ou um filme de Mel Gibson, em que arqueólogos decifram quem era a tribo perdida, de onde ela veio e o que lhe aconteceu.

Especialistas vasculharão as ruínas da Biblioteca Presidencial Reagan, os estojos de armas de Dick Cheney, os hieróglifos da monitoração de pesquisas Orca, remanescentes de arengas triunfais de Dick Morris na Fox News, fotos desbotadas de Clint Eastwood e uma cadeira vazia e restos de fita antiga em que um homem alto e rígido, seu nome há muito esquecido, range os dentes sobre os 47% de parasitas e os "presentes" que receberam.

Em vez de varíola, pragas, seca e conquistadores, o declínio republicano será atribuído a uma insistente recusa a se adaptar a um mundo onde pessoas pobres e doentes, pessoas negras e marrons, pessoas femininas e pessoas gays contam.

Como observou o historiador Will Durant, "uma grande civilização não é conquistada por fora enquanto não tiver se autodestruído por dentro".
A margem de vitória do presidente Barack Obama está se expandindo, conforme mais votos são contados. Ele não apenas venceu Mitt Romney; continua vencendo. Mas outro sinal da negação da velha guarda veio sexta-feira, um mês depois da eleição, quando a campanha de Romney anunciou de forma ebuliente que havia levantado US$ 85,9 milhões nas últimas semanas da campanha, tornando sua iniciativa de coleta de fundos "a mais bem-sucedida na história do Partido Republicano".

Por que a campanha de Romney continua se gabando? Não se pode comemorar em um enterro. Vão embora e aprendam a interpretar dados na internet. Fora do reino murado republicano de negação e ilusão, todo mundo podia ver que o partido antes inteligente e impiedoso estava se comportando de maneira obtusa e antiquada que indicava a ruína.

O partido inventou um candidato de que ninguém gostava ou compreendia e fez uma campanha de que ninguém gostou ou compreendeu - uma campanha animada pela ideia de que servos indolentes e cobiçosos devem ser mantidos sob controle, mesmo que isso signifique criar barreiras para não permitir que votem.

Embora Stuart Stevens, o estrategista de Romney, hoje afirme que Mitt "captou a imaginação de milhões de pessoas" e disputou "com uma graça natural", havia muito poucas chances de que o estranho gazilionário um dia fosse presidente. Mas, estranhamente, os republicanos continuam alucinados por sua perda, agarrando-se a detalhes como o furacão Sandy como desculpa.

Alguns deputados republicanos continuam tentando empurrar o presidente por cima do penhasco fiscal. Romney vaga atordoado, com seu cabelo não perfeitamente fixado. E seus assessores de campanha continuam expressando incredulidade de que uma campanha, convenção e candidato desastrosos, assim como a falta de familiaridade com o que Stevens desdenhosamente chama de "tecnologia de comparecimento eficaz", pudessem levar à derrota.

Quem jamais pensaria que os negros sairiam em apoio ao primeiro presidente negro? Quem teria imaginado que as mulheres evitariam o partido das sondas transvaginais? Quem pensaria que os gays trabalhariam contra um partido que os trata como imorais e sub-humanos?  Quem teria pensado que os jovens abandonariam um partido que ignora a ciência e intimida em questões sociais? Quem iria imaginar que os latinos desprezariam um partido que espera que eles terminem suas tarefas e se autodeportem?

Os republicanos sabem que estão em dificuldade quando W. surge como a voz moral do partido. O ex-presidente falou ao partido na terça-feira sobre ser mais "benevolente" com os imigrantes. Enquanto Eva Longoria supera Karl Rove como elemento poderoso, os republicanos agem de modo tão chocado quanto a aristocracia sulina derrotada pelos ianques em "E o Vento Levou". Como o filme elogiava: "Aqui estavam para ser vistos os últimos cavaleiros e suas belas damas, senhores e escravos. Procure-os apenas nos livros, pois não é mais que um sonho lembrado, uma civilização que o vento levou".

As vendas de armas cresceram desde a reeleição do presidente, com as compras na "Sexta-Feira Negra" marcando recordes enquanto os perdedores correm para se armar. Mas a história sem dúvida registrará que os republicanos em decadência foram finalmente eliminados da terra em 2016, quando a incansável (e descansada) conquistadora Hillary entrou marchando, o general Bill a cavalo atrás dela, e acabou com eles.

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