sexta-feira, 16 de novembro de 2012

El País: Oposição síria tenta se unir novamente


Agora é a vez de um cristão. O Conselho Nacional Sírio (CNS), grupo que representa cerca de 60% da oposição ao regime de Bashar el Assad, elegeu na última sexta-feira (9) como novo presidente George Sabra, 65. Seu primeiro objetivo é evitar um novo fracasso na trincheira política da primavera síria. Cristão, antigo comunista e professor de geografia aposentado, Sabra substitui o político sírio curdo Abdulbaset Seida, que desde junho passado tentou conduzir o rumo do CNS sem grandes avanços, além de haver sofrido um sonoro golpe desferido recentemente pela secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton. A norte-americana retirou de forma explícita seu apoio incondicional a Seida, e abriu seus braços para novas figuras da oposição síria, tanto de dentro como de fora do país.

No sábado (10) à noite a oposição síria alcançou um princípio de acordo para unir suas diversas formações, segundo informa a agência France Presse. "Entendemo-nos em pontos essenciais para a formação da coalizão nacional síria e no domingo (11) poderemos discutir os detalhes", explicou o opositor Souheir Atassi.

Talvez pudesse ser mais alta, mas não mais clara, a primeira mensagem de Sabra enviada de Doha (Catar), onde esta semana se realizou a assembleia do CNS: precisam de "armas para conter a hemorragia" que desde março de 2011 tirou a vida de mais de 36 mil pessoas, entre soldados, civis e desertores, de acordo com os cálculos do grupo ativista Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Pedem armas à comunidade internacional, mas não para eles, senão para as brigadas do Exército Livre da Síria (ELS), que comanda as operações contra as forças do regime e administra amplas zonas do noroeste liberado. "Infelizmente não conseguimos nada deles [a comunidade internacional], exceto algumas declarações e demonstrações de ânimo", manifestou Sabra em declarações colhidas pela rede Al Jazira, do Catar.

Antes de Sabra, natural de Qatana, na província de Damasco, veio Seida e antes o sunita (ramo majoritário do Islã na Síria) Burhan Ghaliun, primeiro líder da organização de oposição nascida seis meses depois da eclosão das primeiras manifestações em prol da democracia. Ghaliun foi criticado por não saber unir as diferentes famílias que formam o CNS e deixar-se levar pelo forte empurrão da Irmandade Muçulmana. A sombra da Irmandade não desapareceu durante o mandato de Seida, uma presidência que, embora tenha conseguido estabelecer vínculos com o terreno através do ELS e dos Comitês Locais de Coordenação, ganhou a rejeição de Washington. Para animar qualquer sinal de guerra sectária, o CNS elevou ao comando um ativista que já conheceu a prisão tanto nos tempos de Bashar Assad como nos de seu pai, Hafez, por suas atividades no Partido Comunista, agora chamado Partido Popular e Democrático Sírio. A vice-presidência do CNS será ocupada por Faruk Tayfur, membro da Irmandade.

A renovação da cúpula do CNS coincide com as reuniões mantidas desde domingo passado também em Doha pelo resto do leque que forma a oposição ao regime, entre ativistas do interior da Síria - que conseguiram viajar através das fronteiras porosas -, políticos no exílio e líderes rebeldes. É nesse conclave que os EUA estão de mira posta. Como expressou recentemente Clinton, depois de atacar o CNS, o objetivo de Washington é unir o maior número de grupos da oposição. A espiral de violência está dada e é o momento para Washington apostar na trincheira política. Para isso, e diante do fracasso do CNS, o ex-embaixador dos EUA na Síria Robert Ford esteve trabalhando nos últimos meses em uma lista de indivíduos, de fora e dentro da Síria, que na sua opinião "demonstraram liderança". A equipe de Ford levou essa lista a Doha, entre acusações da Irmandade por considerar "inaceitáveis" a "tutela e ordens" de Washington.

Com ou sem lista, sobre a mesa do conclave de Doha está a formação da Iniciativa Nacional Síria (INS), uma mesa de diálogo de grupos da oposição que poderia ter o aval dos EUA, Catar e Liga Árabe. A INS seria formada por 60 membros: homens do CNS, ativistas, comandos dos grupos armados e representantes religiosos.

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