sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ANÁLISE: Política externa dos EUA entra em xeque

Estratégia "light footprint" dos EUA entra em xeque

Tunisianos queimam bandeira americana 

As erupções do Oriente Médio constituíram, até agora, talvez o mais duro teste para a principal inovação do governo de Barack Obama na política externa, aquilo que a Casa Branca celebra como estratégia "light footprintp" [termo usado para expressar uma atuação menos abertamente combativa e mais discreta].

Atento à sensação popular de que uma década de guerras debilitou os EUA, e ávido por focar nos problemas econômicos internos, Obama rapidamente abraçou uma mistura de tecnologia por controle remoto e diplomacia à distância para conter os problemas mais explosivos do Oriente Médio, da Ásia Meridional e da África. O número de bombardeios teleguiados sextuplicou, armas cibernéticas secretas foram direcionadas para o Irã e forças especiais fizeram das incursões noturnas a moeda corrente do poderio americano.

Durante um tempo funcionou. Como perguntou tão sucintamente há um ano o recém-demitido diretor da CIA, David Petraeus: "Quem não gostaria de uma estratégia 'light footprint'?".

Mas estava implícito nessa pergunta o reconhecimento de que a estratégia tem utilidade limitada. E agora Obama está sob mais pressão do que nunca para se envolver com o Oriente Médio. Há no próprio partido do presidente comentários de que ele deveria intervir mais diretamente para conter a carnificina na Síria -instalando, por exemplo, mísseis Patriot na região, para abater o poderio aéreo de Bashar Assad- e renovar os esforços por um processo de paz israelo-palestino.

Aliás, ao enviar em 20 de novembro a secretária de Estado Hillary Clinton para o Oriente Médio, a fim de colocar o timbre americano no cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em Gaza, Obama se lançou num conflito que ele vinha, em geral, evitando.

Obama é inquebrantável no seu apoio público a Israel durante o confronto com o Hamas, grupo militante que governa Gaza. Mas ele também procurou o presidente do Egito, Mohamed Mursi, pedindo a ele que acalme a situação.

Também há a questão do Irã. Obama já declarou que deseja iniciar negociações diretas com Teerã. Esse é um último esforço, admitem seus assessores, para evitar um confronto militar que eles temem que possa acontecer até meados de 2013.

Obama esperava não se preocupar com essas crises nas últimas semanas do seu primeiro mandato. A expectativa era de que ele estivesse colhendo os benefícios de tirar os EUA do Iraque e do Afeganistão, para que pudesse se voltar àquilo que ele durante a campanha frequentemente caracterizava como "um pouco de construção nacional dentro de casa".

Desde 2009, Obama tenta evitar ser sugado para o conflito do Oriente Médio e para a disfunção que esgotou tantos antecessores seus.

Ele pediu à sua equipe de segurança nacional para que reavaliasse onde os EUA investiam demais e de menos.

A resposta, como lembrou recentemente seu assessor de segurança nacional, Thomas Donilon, veio rapidamente: "Estamos com peso excessivo em algumas regiões, como com nossos compromissos militares no Oriente Médio, e com falta de peso em regiões das quais depende a futura prosperidade dos EUA, principalmente outras regiões da Ásia".

Para os críticos de Obama, a raiz da aparente ausência de alavancagem americana no Oriente Médio atual é que a "light footprintp" está excessiva.

"Acho que a maneira de entender a abordagem de Obama -eu não chamaria de estratégia- é que ele tem uma preferência uniforme por manter os problemas à distância", disse Eliot Cohen, professor da Escola Johns Hopkins de Estudos Internacionais Avançados, em Maryland, que trabalhou na campanha presidencial de Mitt Romney. "É isso que a 'light footprintp' é. E ela perdeu o gás."

A Líbia se tornou o primeiro exemplo desse argumento. Obama relutantemente ofereceu apoio aéreo para a derrubada do regime de Muammar Gaddafi. Sua recusa em colocar soldados americanos no terreno e sua decisão de manter uma presença mínima da CIA e de diplomatas na Líbia pós-Gaddafi podem ter colaborado para que Washington não notasse sinais que levaram ao ataque à sua legação em Benghazi.

A Síria é agora o novo foco da discussão. Obama, desde o começo, resiste em se envolver nesse conflito, mesmo que pelo ar. Mas, com cerca de 40 mil mortes por causa do conflito sírio, Obama enfrenta cada vez mais pressão, inclusive de alguns democratas.

O senador republicano John McCain argumenta que "tudo de ruim que prevíamos que aconteceria se interviéssemos -instabilidade na Jordânia, Líbano e Turquia - já está acontecendo de qualquer maneira".

Os próprios assessores de Obama admitem que as expectativas dele, de que fosse possível se preservar e deixar a liderança com interessados mais diretos, foram frustradas.

A estratégia "light footprintp" não foi tão boa quanto pensavam.

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