quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O lugar da Catalunha na Espanha

Em protestos em favor da independência da Catalunha eis que surge uma faixa com o seguinte dizer em catalão: "Catalunha, novo estado da Europa"

Depois de ter-se empoleirado na onda independentista que se tornou visível na Diada, a CiU e seu candidato, Artur Mas, tentam dominá-la com um programa que já não abarca somente a próxima legislatura, mas até 2020, data em que o presidente da Generalitat e candidato à reeleição situa o horizonte de uma Catalunha convertida em um novo Estado europeu. O prazo prolongado pode ter a ver com um primeiro reconhecimento nacionalista das dificuldades que sua aventura encontrará para que a Catalunha seja admitida, simplesmente, como um Estado na Europa.

A correspondência conhecida agora entre o secretário de Estado para a UE, Íñigo Méndez de Vigo, e a vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding, joga água fria nas pretensões do nacionalismo. Diante da reivindicação do alto cargo do governo espanhol, no sentido de que a UE "não pode reconhecer uma declaração unilateral de independência de uma parte de um Estado membro" e de que, no caso hipotético de que ocorresse essa separação, o novo Estado teria de "solicitar sua adesão como qualquer outro postulante", a vice-presidente da Comissão Europeia responde: "Concordo plenamente com a análise do quadro constitucional europeu que desenvolve em sua carta". Não cabe portanto jogar com os eleitores para fazê-los acreditar que a UE acolheria uma parte desgarrada unilateralmente da Espanha.

Os dirigentes da CiU pretendiam contornar todo tipo de explicação sobre o mau equilíbrio econômico, financeiro e social da gestão desenvolvida pelo governo da Generalitat, pelo simples expediente de culpar a Espanha pelos problemas e prometer um futuro idílico dentro da Europa, mas o percurso dessa ideia é bem mais tortuoso.

De fato, o programa da CiU para 25 de novembro evita as palavras "independência", "separatismo" ou "secessão", e se limita a falar em "Estado próprio", fórmula que poderia servir tanto para uma saída federal como para a independência plena. A proposta se acumula a outras complicadas para o resto da Espanha, mas de índole supostamente construtiva diante dos eleitores catalães, como são a edificação de estruturas estatais (agência tributária, seguridade social) ou a co-oficialidade do idioma castelhano, de repente avaliado como um ativo de primeira ordem. Com esse discurso, Mas busca uma maioria absoluta parlamentar que lhe dê mãos livres, e depois se verá como se administra a continuidade do processo.

Enquanto o PSC (sem o apoio do PSOE) defende o direito a decidir em um referendo legal e a CiU se propõe a promover uma consulta "para que o povo da Catalunha possa determinar livre e democraticamente seu futuro coletivo", Mariano Rajoy redescobre o conceito da "Espanha plural", tão caro em seu momento a José Luiz Rodríguez Zapatero. A pré-campanha catalã se caracteriza por uma confusão considerável, quando necessita é de clareza.

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