segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Le Monde: Presença de franceses na Al Qaeda em Mali faz crescer temores sobre ida de cidadãos da França para organizações terroristas
É uma simples foto, mas ela ilustra, pela primeira vez, temores que até então nunca puderam ser comprovados: a presença de cidadãos franceses dentro das katibas (brigadas combatentes) da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), operando essencialmente no norte do Mali, o Azawad, uma região que hoje é controlada por grupos jihadistas e rebeldes tuaregues.
Essa foto, obtida no final de agosto pelos serviços secretos franceses, mostra dois homens com cerca de trinta anos. Embora a nacionalidade deles pareça comprovada, de acordo com os especialistas que estudaram essa foto, os detalhes de sua trajetória ainda devem ser estabelecidos.
Não seriam perfis parecidos com o de Mohamed Merah [jihadista francês que matou sete pessoas em março deste ano em Toulouse e Montauban, na França]. Eles são mais velhos e mais endurecidos, e não fazem viagens frequentes até a França. Antes de entrar para esses grupos, eles teriam atuado em outros grupos armados radicais. Um deles teria participado da revolução Líbia antes de entrar para essa katiba, cujo nome não foi fornecido ao “Le Monde” por questões de segurança.
Até hoje, nem a Direção Central da Inteligência Interna (DCRI), nem a Direção Geral da Segurança Externa (DGSE) possuíam informações que assinalassem a integração de franceses a uma katiba da AQMI.
Segundo um membro da Otan, em Cabul, somente jihadistas franceses haviam sido identificados nas zonas tribais paquistanesas, ou seja, uma dezena de indivíduos. Essa foto confirma o papel de sedução que essa região do Azawad agora exerce junto a jihadistas e a expansão da AQMI.
Porém, segundo um diretor dos serviços de inteligência francesa, esses grupos radicais islamitas seriam “movimentos endógenos com um pensamento regional, que por enquanto são incapazes de se projetaram para fora dessa zona, sobretudo em solo francês”.
Segundo essa mesma fonte, “essas katibas hoje estão mais preocupadas em consolidar suas bases no norte do Mali e cuidar de seus reféns, do que montar operações visando a França, cuja menção nos comunicados denota mais um reflexo anticolonialista do que uma ameaça imediata”.
A identificação desses dois franceses finalmente está dando corpo a suspeitas surgidas após vários sequestros de francófonos nessa região do Sahel. Alguns deles, depois de serem libertados, foram ouvidos demoradamente por agentes da inteligência sobre seu cativeiro e permitiram deduzir que membros de dupla nacionalidade figuravam nessas células combatentes islamitas, segundo um diplomata francês. “Suspeita-se que eles faziam o papel de tradutores”, acrescenta esse diplomata.
Para evitar as muitas adesões de franceses às células da AQMI, o Ministério das Relações Exteriores revela, extra-oficialmente, sua vontade de ver a Argélia demonstrar uma “maior transparência”. No Ministério das Relações Exteriores, lembram que a maior parte dos líderes da AQMI são argelinos e várias figuras da rebelião tuaregue viveram na Argélia. “Ainda que Argel agora seja visada por grupos dissidentes da AQMI, como o Mujao,” explica um diplomata, “os argelinos cuidam sobretudo de seus interesses ao conterem a ameaça do lado de fora de suas fronteiras, e é de se pensar até que ponto eles não estão privilegiando uma espécie de pacto de não-agressão com a AQMI no lugar de sua erradicação”.
Assim, a caça aos franco-argelinos ou aos franceses dentro da AQMI não seria a principal preocupação do departamento argelino de inteligência e de segurança, que não teria muita pressa em transmitir suas informações às autoridades francesas.
Se algum dia essa foto chegar às mãos da Justiça, ela sozinha poderá justificar a abertura de um inquérito na França. Em relação às condições do projeto de lei antiterrorista que deve ser discutido na semana que vem, o governo pretende ampliar seu escopo para a simples presença de um francês em um grupo ou em um lugar associado a um empreendimento terrorista.
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