segunda-feira, 8 de outubro de 2012
El País: Um mundo com mais população idosa será conservador e pouco inclinado a revoluções
Se o século 20 foi o século dos jovens, o 21 será o dos velhos. Na metade do século, uma em cada cinco pessoas no mundo terá mais de 60 anos, superando pela primeira vez a população infantil, um fato insólito na história da humanidade. Não há nenhum segmento da população mundial que cresça em maior velocidade. Em 1950 eram cerca de 205 milhões de uma população mundial de 2,5 bilhões. Hoje, os que já completam 60 anos chega a 810 milhões sobre uma população de 7 bilhões, 11% da humanidade. E em 2050 espero não estar ainda entre os 2 bilhões com mais de 60 anos sobre uma população de 9,3 bilhões, porcentualmente o dobro de hoje; embora não possa excluí-lo, pois haverá 3,2 milhões de pessoas com 100 anos ou mais, número dez vezes maior que o atual.
Não será a única grande novidade do século em que navegamos há 12 anos. Também será o século da população urbana e das megacidades: há alguns anos os urbanitas é a maioria no planeta. E o século das mulheres: das trabalhadoras que serão incorporadas ao mundo laboral nos países já emergidos e que garantirão a continuação do crescimento; e das mulheres idosas. Hoje há 84 homens para cada 100 mulheres com mais de 60 anos, e 61 idosos para cada 100 idosas com mais de 80, uma tendência que se acrescentará se virmos a pauta do Japão, país que experimenta a tendência de forma mais radical, com seus atuais 31% de população com mais de 60 anos: ali há hoje mais de 40 mil centenários, que serão 600 mil em 2050 e dos quais 500 mil serão mulheres.
Todos esses números não são curiosidades sobre o mundo que nos espera, senão indícios de mudanças muito profundas que transformarão nossas vidas. As consequências escapam aos cálculos que possamos fazer hoje sobre a sustentabilidade dos sistemas de aposentadorias e de saúde, o prolongamento da idade ativa, o aparecimento de novos estilos de consumo e novos mercados, o empobrecimento das classes médias ou a segurança das cidades onde viverá essa população especialmente vulnerável e sensível à perda de rendas. Também haverá consequências políticas profundas: influirão no voto ou na forma de fazer política e de governar.
Esse novo mundo envelhecido é filho do sucesso. Embora muitos não o apreciem como horizonte, é uma excelente notícia para a humanidade, fruto do aumento da expectativa de vida. As causas são claras: melhoras nos sistemas de saúde, aumento da qualidade de vida e inclusive da paz e da estabilidade geopolíticas, mas também a queda da natalidade. Vivemos melhor e por mais tempo e nascem menos seres humanos. Essas duas tendências, que caracterizavam os países desenvolvidos, já afetam plenamente o conjunto do planeta, e sobretudo os chamados países emergentes, com novas e extensas classes médias que se incorporam ao consumo e a um incipiente Estado do bem-estar.
Em 2050 haverá 64 países que serão como é hoje o Japão quanto ao envelhecimento da população, entre os quais se incluem todos os desenvolvidos mas também muitos dos que pertenceram ao mundo em desenvolvimento. Na Espanha a tendência ao envelhecimento é maior que no resto da Europa, pois hoje os maiores de 60 anos representam exatamente os mesmos 22% que no conjunto do continente, mas em 2050 serão 38,3%, quatro pontos a mais.
Todos esses dados, bem conhecidos dos demógrafos, são notícia nestes dias graças à publicação de um valioso estudo realizado por um grupo de organismos internacionais coordenados pela ONU, intitulado "Envelhecimento no século 21. Uma comemoração e um desafio". Independentemente do olhar para o futuro, o relatório é de uma atualidade indiscutível, porque muitos dos problemas de amanhã já existem hoje em uma versão ainda limitada. Muito oportunamente a ONU indica que a população de idade avançada é especialmente vulnerável aos abusos, como ficou demonstrado na Espanha nos últimos meses com o desaparecimento das poupanças de muitos de nossos idosos, graças à péssima informação fornecida por bancos e caixas de poupança sobre produtos como as participações preferenciais, as cotas participativas ou a dívida subordinada.
As guerras e as revoluções correspondem à época da humanidade em que havia mais jovens que velhos. Um mundo com mais velhos que jovens será mais conservador e menos dado a aventuras e utopias que possam acabar mal. As propostas políticas que impliquem sacrificar as atuais gerações em favor das gerações futuras terão uma acolhida cada vez mais morna nessas sociedades envelhecidas. Uma sociedade mais velha é também uma sociedade que vive mais e melhor amarrada à resolução dos problemas de seu presente.
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