quinta-feira, 11 de outubro de 2012

El País: A quarta vitória do comandante Chávez

Hugo Chávez 

Não foi a devastação do adversário como nas três eleições presidenciais anteriores, que o presidente ganhou por mais de 20 pontos, mas Hugo Rafael Chávez Frías se presenteou um quarto mandato, até 2019.

Seu rival, Henrique Capriles Radonski - 45% dos votos -, salvou os móveis e pode se apresentar como líder de uma oposição unida se o antichavismo continuar sendo uma. Mas teve de se inclinar diante do monstro eleitoral de Miraflores, que, caso seja verdade que o câncer remitiu, pode continuar sonhando com comemorar no poder o 200º aniversário da morte do libertador Simón Bolívar, em 2030. Teria 76 anos.

O romancista Roberto Bolaño, já morto, disse em 2002 que "a América Latina era o manicômio da Europa, selvagem, empobrecida e violenta". E hoje poderia acrescentar que esse sanatório tem um líder de dimensão internacional e atrativo popular indiscutível, onde a erradicação da pobreza começa a funcionar e que, com a respeitosa social-democracia brasileira, em nenhum outro país se conheceu êxito maior nessa  luta.  

Em 1999, quando Chávez inaugurou sua primeira presidência, mais de 50% dos cidadãos viviam abaixo do limite de uma penosa subsistência e, em 2011, esse índice havia caído mais de 20 pontos. Essa é a chave do triunfo do líder bolivariano: um maior número de venezuelanos vivem hoje melhor que 13 anos atrás e ainda é maior a procissão dos que acreditam que a petrocarteira do comandante é inesgotável.

Quem é esse rei da loquacidade política que hipnotiza multidões, às quais parece não importar o tipo de artimanhas que utiliza para hipotecar seu voto? Carlos Fuentes, como lembrava Ibsen Martínez em "El País", dizia que devia ter a cabeça como uma loja de ferragens abarrotada de ferramentas pseudointelectuais, porcas e parafusos que se chocam e slogans semicozidos, mas inspiradores para um chavismo do povo que atrai votos sem parar.

Mas, se espontaneidade festiva e extravagância teatral se encontram em tantas demonstrações de poder na Venezuela, seria um grave erro crer em um script improvisado, porque até o último passo da dança, o menor gesto, o discurso aparentemente mais extemporâneo em suas intermináveis redes nacionais, respondem a um conhecimento epidérmico da venezuelanidade. E diante disso, embora seja verdade que o candidato da oposição é um homem alheio ao tempo anterior a Chávez, não deixa de ser por isso um membro conspícuo da ordem estabelecida. Tanto por Capriles como por Radonski, o candidato derrotado transpira poder social e econômico. E bastaria pôr as fotos do presidente e do aspirante lado a lado para adivinhar com quem se identifica mais facilmente o venezuelano de médio para baixo.

O suposto grande trunfo de Capriles era, apesar de tudo, o precipício de violência pelo qual despenca incessantemente o país e, em particular, Caracas. Desde que Chávez chegou ao poder, houve não menos de 200 mil enterros de sobra e, segundo pesquisadores independentes, a capital anda perto de 80 homicídios por 100 mil habitantes por ano. Somente em julho passado houve mais de 500 assassinatos, quantidades muito superiores às da vizinha Bogotá, onde este ano não passam de 20. Caracas é superada somente pelas cidades mais perigosas da América Central.

Mas ocorre que tanta morte afeta muito menos a grande massa crítica de leitores chavistas - os menos favorecidos - do que as classes médias nas quais seu rival se abastecia de votos. As camadas mais humildes da sociedade sempre tiveram a vida dura na Venezuela e, por isso, o crescimento da criminalidade foi percentualmente menor, assim como percebido com pânico controlado por esses eleitores em comparação com o que sofrem os que têm muito mais a perder. Finalmente, a incompetência manifesta de uma burocracia inchada de clientes por razões políticas e a corrupção generalizada tampouco serviram para frear a vitória chavista porque são "negócios como sempre" e dificilmente maiores que durante a Quarta República, a chamada Venezuela saudita.

Há alguns anos dirigi um curso em um dos jornais mais importantes do país. Durante 15 dias tive um motorista afrodescendente, como se diz agora, que inicialmente resistia a abrir-me seu coração, mas acabou por fazer amizade e um dia, como quem pronuncia o irrefutável, disse: "Senhor jornalista espanhol, quando Chávez deixar de ser presidente eu volto a ser invisível". Mas esse momento ainda não chegou.

4 comentários:

  1. Alguns insistem em ''derrubar'' Chaves a todo custo,houve até um golpe mal sucedido apoiado pelos EUA,contra ele ! Mas Chaves continuou forte,alguns chegam ao cúmulo de dizer que Chaves é um perigo para o Brasil,e muita gente repete esse mantra e eu discordo disso e acredito que os inimigos de Chaves são também inimigos do Brasil que de forma dissimulada se dizem amigos, mas seus atos demonstram o contrário !
    Por fim se Chaves elegeu-se novamente de forma lícita,não usando de nenhuma irregularidade e respeitando a Constituição Venezuelana,só me resta parabenizá-lo como fez seu oponente apôs reconhecer a derrota nas urnas.
    Chaves no passado tentou um golpe militar e foi punido por isso,mas se hoje as leis lhe dão direito de se reeleger,quem somos nós para atentar contra a soberania Venezuelana?
    Viva a Venezuela,felicidades a essa nação !
    GUTO.

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    1. Cara eu gostei do teu comentário! Digitou e disse!

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  2. Reeleger quantas vezes se quer um presidente ou qualquer representante do poder executivo e até bem mais democrático do que simplesmente duas vezes, pq isso beneficia apenas os partidos que tem como ter um poder muito maior sobre os candidatos e aos seus financiadores. Mais também verdade seja dita sobre tanto os avanços na Venezuela quanto no Brasil, é mentalidade muita pequena alguém achar que países com tantos problemas básicos em segurança, saúde, justiça entre outros setores possam estar indo bem, perai tudo bem que tirar milhões da miséria é um grande feito,mais os problemnas que esses dois países possuem em setores básicos da vida humana como segurança, saúde e aplicação da lei, não podem em hipótese nenhuma serem ignorados, não adianta tirar uns da miséria e deixar outros morrerem nas mãos de criminosos que depois se quer são punidos, ou até mesmo deixar morrer por incompetência médica do saúde publica. Diga-se de passagem no caso da Venezuela o próprio Chávez fui se cuidar em Cuba, e envia muita gente para se cuidar em Cuba.Então ás melhoras no Brasil e na Venezuela são muito pequenas, chegam a ser bem ilusórias, mais não me surpreenda de chamar atenção na Europa, afinal de contas o continente deles está cada vez piorando.

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    1. Em relação aos problemas básicos,no nosso caso temos e não é de agora,mas no âmbito seguraça, quem criou os monstros sociais foram a própria mídia,sociedade e policiais corrúptos, que em troca de algo deixaram algo acontecendo! Até mesmo os filhos dos que se dizem representantes da ordem e progresso são os bandidos mais perigosos, a tolerância aos bandidos daqui é significativa, com a desculpa de direitos humanos, sou contra o abuso de força e poder, mas estupidez não é sinônimo de tolerar!

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