terça-feira, 9 de outubro de 2012

Der Spiegel: "Assad não impõe ameaça ao Oriente Médio ou à paz mundial", diz ministro iraniano

Ali Akbar Salehi

Na semana passada, a violência na Síria quase se espalhou para além das fronteiras do país e se tornou um conflito regional. O "Spiegel" conversou com o ministro de Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, sobre a continuidade do apoio de seu país ao autocrata sírio Bashar Assad; sobre o papel delicado da Otan na região e sobre o programa nuclear iraniano.

A residência do cônsul geral iraniano em Frankfurt é uma mansão amarela no bairro opulento de Sachsenhausen, com grama artificial na frente da entrada e tapetes persas nos corredores e quartos. Há tigelas com pistache e figos na mesa na recepção, e as paredes são adornadas com retratos do falecido líder revolucionário iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini e seu sucessor, Ali Khamenei.

Por algumas horas, na última quinta-feira (4), esta casa serviu de sede para o ministro de relações exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, 63, que chegou de Nova York ao meio dia, em uma parada em Frankfurt em sua viagem de volta para Teerã. Salehi tinha acabado de participar da Assembleia Geral da ONU e de uma reunião com seus colegas do Egito, Turquia e Arábia Saudita para falar sobre o aumento das tensões no Oriente Médio. Essas quatro nações formam o quarteto sírio, que está tentando pôr fim à guerra civil no país. Salehi é um dos poucos políticos iranianos que conhece tanto o Ocidente quanto o Oriente. Ele estudou na Universidade Americana de Beirute e fez doutorado em engenharia no MIT, em 1977. Em 2009, ele se tornou diretor do programa nuclear iraniano. Hoje, ele também é o representante do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad no exterior.

Um dia antes da entrevista, as tropas sírias atiraram morteiros contra uma cidade de fronteira turca, matando cinco pessoas e, na sexta-feira (5), outra rodada de morteiros ultrapassou a fronteira. Pelo menos 34 soldados sírios teriam morrido com os ataques retaliatórios turcos. A Turquia é membro da Otan enquanto a Síria é aliada do Irã. Assim, Salehi assumiu um papel importante no conflito.

Der Spiegel: Senhor ministro, está parecendo que uma guerra poderá irromper na fronteira da Otan com a Síria. Qual é o perigo na região?
Salehi: Em nome de Deus, misericordioso e compassivo, temos que impedir que ocorra uma catástrofe. Chamo os dois lados a exercitarem contenção. Na Síria, milhares estão combatendo o governo de Bashar Assad e têm armamentos de ponta. Se a Turquia retaliar em grande escala nas próximas semanas ou meses, eles não farão objeções. Eles querem tornar impossíveis as iniciativas de paz. Eles estão em busca do agravamento da situação.

Der Spiegel: O senhor está se referindo à oposição armada síria? Ou aos terroristas da rede internacional Al Qaeda?
Salehi: Não pretendo associar a violência a um país ou organização específica. Mas uma coisa é certa: as forças que estão se infiltrando na Síria querem internacionalizar o conflito. Se a região incendiar-se, essas forças terão atingido seu objetivo.

Der Spiegel: Parece que foram os militares sírios que atiraram pela fronteira, não os rebeldes ou perpetradores da violência aos quais o senhor está se referindo. O senhor condena os ataques retaliatórios da Turquia?
Salehi: Todo país tem o direito de proteger-se quando é atacado. Quando os sírios derrubaram um caça turco em junho, porém, Ancara evitou lançar um contra-ataque. Na época, expressei meu reconhecimento ao primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan –foi um gesto de estadista sábio. Hoje, devemos manter um sentido de proporcionalidade ou cairemos na armadilha de extremistas.

Der Spiegel: Pelo fato de a Turquia fazer parte da Otan, a organização está mantendo-se ao seu lado e condenando o incidente como "ato agressivo".
Salehi: Não seria apropriado eu dar conselhos à aliança militar ocidental. Mas a Otan não pode se dar ao luxo de errar e piorar a situação.

Der Spiegel: Pelo estabelecimento de uma zona tampão no norte da Síria e uma zona de exclusão aérea para a força de Assad?
Salehi: Desta forma, o Ocidente reagiria tão errado quanto fez em 2011 na Líbia. Esta foi uma interferência imprópria nos assuntos internos de um Estado soberano…

Der Spiegel: … mas provavelmente impediu um massacre em Benghazi e ajudou todo um povo a se livrar de um ditador.
Salehi: Devemos proceder de acordo com as leis internacionais. A Síria está no meio de uma crise; quatro ou cinco de suas 14 províncias estão em dificuldades. O governo de Bashar Al-Assad, no geral, tem a situação sob controle.

Der Spiegel: O senhor está minimizando as ações de um regime que está bombardeando seu próprio povo –a guerra civil já levou as vidas de 30 mil pessoas.
Salehi: O que está acontecendo na Síria é trágico, e não são apenas as tropas do governo as responsáveis. Assad não é impõe ameaça à região, ou à paz mundial. Não é que não tenhamos críticas a ele; o governo dele cometeu erros. Originalmente, só havia pedidos por democracia e mudanças. Então o movimento começou a ser cada vez mais controlado a partir do exterior.

Der Spiegel: O senhor está pensando nos EUA e em Israel? Ou Qatar e Arábia Saudita, que estão armando a resistência e agora estão pedindo pela criação de uma força de intervenção árabe?
Salehi: Qualquer que seja o caso, estamos lidando com uma pressão externa por mudança de regime.  Nossas experiências no Iraque mostram que alguns poderes estão dispostos a recorrer a qualquer meio e a todo tipo de manipulação. Para legitimar sua guerra contra Bagdá, os EUA acusaram Saddam Hussein de produzir armas de destruição em massa. Não podemos permitir que algo parecido aconteça com Assad.

Der Spiegel: Quase nenhum político internacional consegue falar com Assad. O senhor conversou com o presidente sírio há duas semanas em Damasco e foi uma discussão longa e intensa.
Salehi: Eu tinha acabado de chegar de uma reunião de nosso grupo da Síria no Cairo e apresentei ao presidente o que os quatro esperam dele: reformas, concessões e mudanças sinceras. Ele concordou comigo e disse que já começou a introduzir essas mudanças. Ele disse que queria trabalhar junto com uma oposição construtiva e cooperar com a ONU.

Der Spiegel: E o senhor de fato acreditou?
Salehi: Em Damasco, encontrei-me com um presidente que está perfeitamente consciente da situação crítica. Ele não parecia estar alienado, mas sim confiante e combativo. O presidente parecia confiante que pode vencer o conflito na síria militarmente.

Der Spiegel: Todos os dias, há novos ataques. A oposição agora pode atacar até instituições importantes como a televisão estatal e a sede da agência de inteligência. A cidade de Aleppo, o maior centro financeiro e comercial, está em chamas.
Salehi: O presidente é realista. Ele não acredita que a Síria possa ser pacificada de um dia ao outro. Ele assume que, como o Iraque, continuará havendo pontos problemáticos e bolsões de oposição.

Der Spiegel: Com a exceção do Irã, e talvez da Rússia e da China, praticamente todos os governos do mundo estão exortando Assad a renunciar.
Salehi: O presidente pareceu aberto a uma solução interna, mas ele rejeitou categoricamente uma renúncia forçada pelo exterior. E por isso rejeita a ideia de pedir asilo em algum lugar.

Der Spiegel: O presidente do Egito, Mohammed Morsi, está exigindo que Teerã repense sua posição. De acordo com informações de agências de inteligência do Ocidente, contudo, seu governo continua enviando armas a Damasco e está apoiando o regime com assessores militares e até forças de elite da Guarda Revolucionária.
Salehi: Isso é absurdo. A Síria tem um exército de 500 mil homens; eles não precisam de nossas forças. Mas é claro que vendemos armas a Damasco, antes da crise. É perfeitamente normal para nós enviarmos assessores militares nestes contextos: todo Estado envia especialistas a governos aliados. As sanções internacionais contra o Irã nos forçaram a montar nossa própria indústria de defesa, que obteve muito sucesso em vender seus produtos. São contratos perfeitamente legais. Não fazemos nada diferente dos alemães.

Der Spiegel: Em sua opinião, qual é o limite que Assad não pode cruzar? Seria o uso de armas químicas contra a oposição?
Salehi: Qualquer governo que use armas de destruição em massa contra seu próprio povo perdeu a legitimidade. Isso se aplica à Síria e também a nós.

Der Spiegel: Outra potência estrangeira traçou um limite para o seu governo. Diante da Assembleia Geral da ONU, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, levantou uma tabela para ilustrar em quanto tempo o Irã terá enriquecido suficiente urânio para construir uma bomba atômica -e usou isso para argumentar que seu país deve ser atacado.
Salehi: A apresentação foi bizarra; achei infantil ele mostrar uma caricatura de uma bomba. Se os israelenses quisessem e pudessem nos atacar, teriam feito isso há muito tempo. Em 1981, eles destruíram um reator iraquiano sem a menor advertência. Eles vêm nos ameaçando há anos, em todas as ocasiões e publicamente. Eles sabem o que aconteceria se atacassem. Não queremos guerra, mas vamos nos defender. Agressores pagarão um alto preço.

Der Spiegel: A Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica) em Viena tem páginas de evidências de uma "possível dimensão militar" do seu programa nuclear.
Salehi: Insistimos em nosso direito de enriquecer o urânio para o uso pacífico de energia nuclear. Não há provas que estamos perseguindo pesquisa nuclear para fins militares.

Der Spiegel: Há meses vocês se recusam a dar acesso a Aiea ao complexo militar de Parchin.
Salehi: Temos que distinguir as duas coisas: primeiro, temos nossas obrigações sob o tratado de não proliferação, que estamos cumprindo…

Der Spiegel: É o que vocês dizem…
Salehi: …segundo, há demandas que vão além disso, e que não somos obrigados a cumprir, como as relacionadas a um complexo militar como o de Parchin.

Der Spiegel: Os inspetores suspeitam que os cientistas testaram ogivas nucleares secretamente ali e que o Irã agora está tentando apagar todos os traços dos testes.
Salehi: Isso é ridículo. A pesquisa nuclear deixa marcas que nunca podem ser totalmente eliminadas. Eu não elimino a possibilidade de abrirmos Parchin -voluntariamente, como fizemos em outras ocasiões no passado.

Der Spiegel: Parece urgentemente necessário que vocês façam concessões nas negociações nucleares. Entre os diplomatas, há pouco otimismo que o conflito sobre o programa nuclear ainda possa ser resolvido pacificamente.
Salehi: Sou mais otimista. Se nosso direito ao enriquecimento for reconhecido, estamos preparados a oferecer algo. Voluntariamente nos limitaríamos à extensão de nosso programa de enriquecimento, mas em troca precisaríamos do fornecimento garantido de combustíveis relevantes.

Der Spiegel: Muitos políticos ocidentais acreditam que vocês estão apenas tentando ganhar tempo. Depois de quatro rodadas de sanções da ONU, a União Europeia agora pretende reforçar suas sanções contra o Irã no dia 15 de outubro.
Salehi: Nada demais. As sanções criam inconvenientes. Há mais de 30 anos que estamos vivendo com medidas de boicote que por fim nos tornam independentes e fortes.

Der Spiegel: Verdade? Só no ano passado sua moeda perdeu dois terços de seu valor contra o dólar. A inflação oficial taxa está em 25%. Em Teerã, lojistas descontentes recentemente fizeram uma manifestação e gritaram: “Abaixo o governo!”
Salehi: A sociedade iraniana está acostumada com dificuldades –talvez mais do que as pessoas na Espanha e na Grécia. Podemos contar com a paciência de nosso povo. E vocês na Europa?

2 comentários:

  1. Iso e obvio que nao , que ameaca Paz Mundial e os Americanos ( CIA ) ,que por traz da Primavera Arabe jogo os trouxas pra se matarem pensando na Ilusao da Democracia pregada pelos Americanos .quando na verdade e uma jogada de xadrez pra expandir a influencia sobre um Pais Independente da Mentira deles ( EUA)

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  2. Até hoje eu não entendo porque Israel se acha ameaçado por Iran! Primeiro eles é que são uma ameaça aos visinhos,desde que Obama mencionou a fronteira de 67, eu li e entendi que foi uma guerra com um certo equívoco,daí o Iran não suportá-los mais, antes eram aliados, eu já assisti na tv cultura,um documentário que Israel possui armamento nuclear,eles têm EUA para dá uma mãozinha,depois eles vivem enchendo o saco dos persas ameaçando-os o tempo todo, e uma, eles não tem corajem mesmo, sabem que não será como no Líbano,Síria e Iraque,não entendo mesmo!

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