quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Críticas de TV estatal síria ao Hamas evidencia fragilidade na relação do grupo com Assad


Khaled Meshal (dir.) se Bashar Al-Assad em Damasco 
A TV estatal na Síria fez um forte ataque na segunda-feira (1°) a um antigo aliado, o líder do grupo militante palestino Hamas, Khaled Meshal, o declarando um filho ingrato e um traidor corrupto, dizendo que ele estava tendo “uma crise emocional romântica” pelo levante sírio e o acusando de “trair a resistência pelo poder”.

A repreensão extraordinária, diferente do tom mais brando da maioria das declarações oficiais sírias, foi o primeiro ataque do governo contra o Hamas desde que a organização se distanciou do presidente Bashar Assad neste ano, quando a maioria dos líderes do Hamas deixou seu refúgio em Damasco e fechou seu escritório lá.

O ataque ocorreu em um editorial de televisão, feito por uma apresentadora de telejornal em tons alternadamente austeros e zombeteiros, que lembrou a Meshal que ele foi abandonado pelos países árabes, que não o receberam quando ele fugiu da Jordânia em 1999. Ela deixou implícito que ele se vendeu para Israel, dizendo ser essa a única explicação para a disposição do Qatar, seu novo anfitrião, em aceitá-lo.  

Damasco pareceu contra-atacar depois que Meshal apareceu em uma coletiva de imprensa do partido do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e depois que Erdogan e o presidente do Egito, Mohammed Morsi, declararam ser suas prioridades compartilhadas a oposição a Assad e o apoio aos palestinos –um golpe contra a antiga imagem atraente de Assad de campeão da resistência palestina contra Israel.

Provavelmente Damasco também se enfureceu por Meshal ter optado por residir no Qatar, um dos países, juntamente com a Arábia Saudita e os Estados Unidos, que ele acusa de financiarem a insurreição.

A Síria, o Irã, o grupo militante libanês Hizbollah e o Hamas há muito se consideravam o “eixo da resistência”, em contraste com os países árabes –notadamente o Egito– que buscavam uma política mais acomodacionista em relação a Israel e aos Estados Unidos. Mas as relações no eixo balançaram à medida que alguns palestinos sírios se juntaram à insurreição e à medida que alguns líderes do Hamas consideraram impossível não solidarizar com os muçulmanos sunitas na Síria, que formam grande parte do movimento anti-Assad e mais sofreram com a repressão brutal do ditador sírio.

O ataque verbal ocorreu em meio a uma espécie de ofensiva de relações públicas de Damasco, horas depois que o ministro das Relações Exteriores, Walid al Moallem, disse à Assembleia Geral da ONU que o levante de 18 meses da Síria era um movimento terrorista financiado pelos Estados Unidos e seus aliados para enfraquecer a Síria, e que os sírios que fugiram do país foram manipulados pelos vizinhos da Síria em uma trama fria para esses países exigirem ajuda estrangeira.

Quase 300 mil sírios buscaram refúgio no Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia, e a agência de refugiados da ONU chamou o fluxo de saída de um grande problema humanitário capaz de desestabilizar a região.

Na terça-feira (2), em um discurso para o Parlamento da Síria, o primeiro-ministro do país, Wael al Halki, afirmou que o mundo estava punindo a Síria por sua resistência aos Estados Unidos e Israel, e dobrou a resposta do governo à crise, dizendo que o exército era a única garantia da segurança e integridade da Síria e que o Parlamento apoia suas medidas contra a crise.

Ele não discutiu a fuga desesperada de sírios para outros países, mas reconheceu a existência de mais de 600 mil pessoas deslocadas internamente (a ONU conta mais que o dobro disso), culpando “terroristas” pela crise.

Finalmente, o presidente do Parlamento, Muhammad Jihad Allaham, condenou o filme anti-islâmico com origem obscura nos Estados Unidos, que provocou violentos protestos anti-Ocidente em grande parte do mundo muçulmano. Sua declaração pareceu ser o mais recente exemplo de apelo claramente incongruente aos muçulmanos por parte de um governo firmemente secular, que luta para manter o apoio popular durante um levante que os oponentes estimam já ter tomado 30 mil vidas.

A apresentadora que narrou o ataque a Meshal também atacou o Egito e a Turquia pelo que disse ser sua cumplicidade no apuro dos palestinos.

Em certos pontos seu tom se tornava claramente sarcástico: “Meshal, como você está tendo uma crise emocional romântica pelo que chama de sofrimento do povo sírio”, disse a apresentadora, “por que o povo palestino não provoca a mesma reação emocional?”

Ela lembrou de como a Síria desafiou outras potências para lhe conceder refúgio em 1999.

“O avião que o levava era enviado de volta dos céus dos aeroportos como se ele fosse a peste”, ela disse. “Doha, Ancara, Amã e Cairo, todos lhe deram as costas porque Israel vetou sua acolhida, e apenas Damasco ousou desafiar o veto israelense.”

Dirigindo-se diretamente a ele, ela prosseguiu: “A única interpretação possível para a postura repentinamente acolhedora deles é que você não é mais procurado pela ocupação” –se referindo à ocupação dos territórios palestinos por Israel– “e não mais uma ameaça à segurança deles”.

“A Síria não se arrepende, porque não o fez esperando lealdade ou agradecimento”, ela disse. “A Síria está feliz que a pessoa que traiu a resistência por poder tenha partido.”

O editorial também atacou a tentativa da Turquia de se transformar em uma líder regional e campeã da causa palestina.

Para os turcos –que têm sido importantes aliados da insurreição síria, fornecendo refúgio para seus combatentes– esse papel é “demais para serem capazes de exercê-lo”, alertou a apresentadora. “A turquização da resistência é lida em árabe como seu abandono completo da causa.”

“Meshal, lembre-se de que o fogo precisa de óleo autêntico, ou a fumaça cegará seus olhos. E o óleo autêntico para o fogo da resistência é sírio, palestino, árabe.”

6 comentários:

  1. A única lógica q encontro pela atitude do Hamas, seria no aspecto financeiro, isso falar o português claro se vendeu pq vejamos: o Hamas nunca vai ser reconhecido internacionalmente, primeiro porque ganhou o rótulo hipócrita mais ganhou de terrorista, como se Israel fosse lá um exemplo de diplomacia... segundo ficar do lado dos árabes sunitas, e nada para o Hamas é a mesma coisa, fora á questão financeira de ajuda do Catar e Emirados árabes por isso falei do aspecto financeiro, todos os governos de maioria sunita são extremamente ligados aos EUA, o Egito pode ter diminuído um pouco á ligação, mais como aumentou demais á ligação com o Catar, na pratica mudou nada, então o que o líder do Hamas espera de seus supostos aliados sunitas, espera que peitem Israel por acaso? Na hora que o Mossad falar é hora Meshal morrer, eu duvido, mais duvido muito que o Al Thani vai impedir no Catar, e vai ser bem feito pra ele. Na hora que Israel invaidu Gaza foi da Síria que ele comandou o Hamas, se fosse no Catar, no minimo teria sido expulso, pq o Emir lá jamais vai permitir quye um inimigo de Israel faça qualquer coisa de dentro do território dele, tendo 15 mil soldados americanos no Catar, tem mais americanos do q soldados do Catar dentro do Catar.

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    1. Não vamos esquecer também que o apoio sírio e iraniano ao Hamas sempre foi hipócrita,uma vez vi um vídeo muito bom se achar colocarei aqui, mostrando como o Hamas nunca recebeu o mesmo apoio que o Hezbollah e porque será? pq o Hezbollahj é xiíta,próximo do Irã, e xiitas e alauitas tem ligação bem maior do que com sunitas. O Hamas basicamente se vira com armas locais como o Qassam e a Yasin para se defender contra Israel, o Hezbollah possui ATGMS, MANPADS bem mais modernos, o Hamas possui de forma escassa essas armas. E financeiramente o país que mais ajudou batpe hoje Gaza foi o Emirados Árabes Unidos, e o Catar vem ajudando agora também, então o líder do Hamas fez certo nessa posição, ele só podia ter saído sem falar mal do Al Assad, porque de fato foi quem abrigou ele por mais de uma década, ele deve a vida dele ao Al Assad isso tem que ser dito também.

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    2. Como não? Somente os EUA e países entreguistas não reconhecem o Hamas. Há muito mais países que reconhecem o Hamas como grupo beligerante do que como grupo terrorista. Fala-se tanto de Khaled Meshaal, mas não vejo ele como o alto líder do Hamas. Eu vejo o Mahmoud Al-Zahar mais importante para o Hamas do que o Mashaal. E quem manda no Hamas hoje é Ismail Haniyah. Quando Israel invadiu Gaza, Meshaal não fez nada, uma vez que o Hamas é um partido político. Quem pegou nas armas foram as Brigadas de Ezzedeen Al-Qassam e os outros braços armados do Hamas.

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    3. P.A, o apoio ao Hamas nunca foi pouco. Uma coisa é você financiar o Hizbollah, no Líbano, outra coisa, e completamente difícil é mandar armas para o Hamas em Gaza, esqueceu que Israel ocupa a Palestina?

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  2. Mais o apoio do Hamas sempre vem de quem não tem poder para criar a Palestina como país, então para eles o melhor mesmo é se apoiar em quem pelo menos apoie financeiramente, como Emirados árabes e agora o Catar.

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  3. Emirados Árabes e Catar vão apoiar Hamas a troco de quê?

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