quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Crise espanhola reanima separatismo

Em protestos em favor da independência da Catalunha eis que surge uma faixa com o seguinte dizer em catalão: "Catalunha, novo estado da Europa"

A Catalunha pode ser a catalisadora de uma onda renovada de separatismo na União Europeia, com a Escócia e Flandres vindo logo atrás. O grande paradoxo da União Europeia, erguida sobre o conceito da soberania compartilhada, é que ela reduz os riscos para regiões que buscam tornar-se independentes.

Recentemente, o presidente catalão, Artur Mas, abalou a Espanha e os mercados com um chamado por eleições regionais antecipadas, prometendo um referendo sobre a independência da Catalunha em relação à Espanha. A Escócia planeja promover um referendo no outono de 2014, também para decidir sobre sua independência. Os flamengos em Flandres já conquistaram autonomia quase total, mas ainda se ressentem do que vêem como sendo os resquícios da hegemonia dos francófonos da Valônia e da elite de Bruxelas, emoções que virão à tona nas eleições provinciais e de comunas marcadas para 14 de outubro.

Como é o caso dos casais, inúmeros fatores mantêm países unidos mesmo quando existe insatisfação: história, guerras, filhos e inimigos compartilhados. Mas a crise econômica na União Europeia também vem destacando reivindicações antigas.

Muitos catalães e flamengos, por exemplo, afirmam que pagam aos Tesouros da Espanha e da Bélgica, respectivamente, mais do que recebem, ao mesmo tempo em que os governos nacionais reduzem os serviços públicos. Nesse sentido, o argumento regional é o argumento da zona do euro em dimensões menores, na medida em que os países mais ricos do norte do bloco, como Alemanha, Finlândia e Áustria, reclamam que sua riqueza e seu sucesso são drenados para manter países como Grécia, Portugal e Espanha.

"Todo o desenvolvimento da integração europeia reduziu os riscos da secessão, porque as entidades que emergem sabem que não precisarão ser plenamente autônomas e independentes", observou Mark Leonard, diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores. "Elas sabem que terão acesso a um mercado de 500 milhões de pessoas e a algumas das proteções da UE."

Heather Grabbe, que foi durante cinco anos assessora política do comissário de ampliação da UE, concorda: "Se você é um país pequeno, como Malta ou Luxemburgo, provavelmente estará sobre-representado em Bruxelas com relação a suas dimensões". Hoje diretora em Bruxelas do Instituto Sociedade Aberta, Grabbe disse que a variável chave para o separatismo não é tanto uma questão de dinheiro e, sim, de língua e reivindicações históricas. "Os fantasmas da história retornam, e, embora a economia exerça um papel, as pessoas votam com o coração", disse.

Mas a crise também está reduzindo a atração da União Europeia. A Escócia, por exemplo, presumia que, se ficasse independente, entraria para o bloco, já que os escoceses já são cidadãos da União Europeia. Mas será que a Escócia herdaria a não-adesão britânica ao euro, ou, como Estado novo da UE, teria que comprometer-se com a moeda única? E, se o fizesse, quem seria responsável por socorrer o Bank of Scotland, se fosse preciso? À medida que o "euroceticismo" ganha terreno no Reino Unido, essas dúvidas atormentam Alex Salmond, o líder do Partido Nacional Escocês, cujo slogan é "a Escócia na Europa".

Tradicionalmente, a União Europeia é bem vista pelos líderes das regiões que pedem independência, diz Josef Janning, diretor de estudos do Centro Europeu de Políticas Públicas. "Eles consideram que o fortalecimento do poder de Bruxelas reduz e relativiza os governos nacionais, processo que é acelerado pelo mercado único na Europa."Muitos deles formaram agrupamentos regionais que passam ao largo dos governos centrais -caso da Catalunha (Espanha), de Baden-Württemberg (Alemanha), de Ródano-Alpes (França), e da Lombardia (Itália). Estas regiões são centros de poder que se descrevem como "os quatro motores da Europa" e, juntos, têm um PIB maior que o da Espanha.

"Mas agora", Janning prossegue, "vem a crise", que cria um dilema para as regiões, pois também significa uma reconcentração do poder por parte das capitais nacionais, numa tentativa de reduzir os orçamentos nacionais.

"Agora as atenções estão mais uma vez voltadas a Madri, Roma, Paris e Berlim, de modo que as oportunidades regionais estão reduzidas, e as regiões ricas são forçadas a pagar a conta."

Enquanto líderes europeus acham que a resposta à crise é "mais Europa", algo que normalmente agradaria às regiões separatistas, os eleitores e contribuintes europeus estão abalados, céticos e revoltados.

Janning diz: "Essas entidades e esses líderes europeus precisam estar em sintonia com o sentimento público e com a identidade regional. Mas estão divididos".

Leonard contou que esteve recentemente em Barcelona, onde autoridades catalãs lhe perguntaram obsessivamente sobre a Escócia. "O conhecimento que tinham dos assuntos internos da Escócia era muito maior do que o meu. Está claro que estão todos atentos uns aos outros."

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