segunda-feira, 1 de outubro de 2012

China altera sua estratégia em crise diplomática com o Japão

Chineses queimam uma bandeira chinesa durante protestos contra o Japão 

Após permitir manifestações antijaponesas que ameaçaram sair de controle, a China as conteve e se voltou para a diplomacia a respeito das ilhas disputadas no Mar do Leste da China, para reduzir qualquer dano potencial que o conflito possa causar à economia em desaceleração do país e à delicada transição da liderança.

Com as relações entre as duas potências asiáticas em um ponto baixo, a China decidiu seguir em frente com uma recepção reduzida na última quinta-feira (27), em homenagem ao 40º aniversário da retomada dos laços diplomáticos entre os dois países em 29 de setembro de 1972. Um membro do Comitê Permanente do Politburo, Jia Qinglin, esteve presente juntamente com várias outras autoridades chinesas.

Mas Pequim enviou uma mensagem nada sutil para Tóquio, ao não conceder permissão de pouso para o avião que traria um importante convidado japonês, o presidente da Toyota. Mas outros japoneses estiveram presentes no evento, e na ONU em Nova York, os dois lados se encontraram privativamente e brigaram em público.

Em torno das ilhas disputadas no Mar do Leste da China, chamadas Diaoyu pelos chineses e Senkaku pelos japoneses, uma flotilha de barcos patrulha chineses eram monitorados na sexta-feira (28) por metade da frota de escaleres da guarda costeira do Japão, noticiou o jornal japonês "Asahi Shimbun".

Os protestos em mais de 80 cidades, incluindo centros urbanos onde concessionárias de carros japoneses e fábricas de eletrônicos foram depredadas, sugeriram que a liderança chinesa aprovou a manifestação de nacionalismo em parte para se proteger das críticas do próprio partido durante a transição de poder, que está programada para ocorrer formalmente no 18º Congresso do Partido Comunista, com início marcado para 8 de novembro. Mas os protestos ameaçaram se voltar contra o próprio governo chinês, disseram diplomatas e analistas.

Apesar de a China ter superado o Japão como maior economia da Ásia, a forma como Pequim tem lidado com a disputa, precipitada pela decisão do governo japonês de comprar três das ilhas de seus proprietários privados japoneses, ressalta a interdependência das economias chinesa e japonesa e as limitações do que a liderança pode permitir.

As ideias de punir Tóquio economicamente por comprar as ilhas, cujo status não ficou claro após a Segunda Guerra Mundial, são irrealistas, disse Hu Shuli, editora-chefe do "Caixin Media" e uma das principais jornalistas econômicas da China. Tantos trabalhadores chineses são empregados por empresas de propriedade japonesa, ela disse, que qualquer escalada das tensões que levasse ao boicote de produtos japoneses poderia levar a um grande desemprego.

Isso seria desastroso para uma economia chinesa já trôpega, escreveu Hu na revista chinesa "Century Weekly”.

Em um momento em que o investimento estrangeiro geral na China está encolhendo, o investimento do Japão na China cresceu 16% no ano passado, notou Hu. A Organização de Comércio Exterior do Japão relatou US$ 12,6 bilhões em investimento japonês na China no ano passado, em comparação a US$ 14,7 bilhões nos Estados Unidos.

Não apenas a China, mas toda a Ásia poderia enfrentar uma recessão econômica séria caso os investimentos japoneses na China fossem ameaçados, disse Piao Guangji, um pesquisador da Academia de Ciências Sociais da China.

Exatamente como os protestos antijaponeses foram organizados, e por quem, permanece incerto.

Uma cronologia aproximada mostra que imediatamente após o anúncio pelo governo japonês da compra das ilhas, protestos começaram em Pequim e em outras cidades. Os protestos então se espalharam, atingindo o pico no aniversário de 18 de setembro de 1931, o incidente de Mukden, que levou à invasão japonesa à Manchúria. Depois disso, os protestos pararam.

Pareceu que a permissão para a semana de protestos foi discutida nos altos escalões, disse um diplomata estrangeiro que acompanhou os eventos de perto.

Analistas disseram que os protestos podem ter sido usados como arma por uma facção do partido contra outra, como parte das maquinações internas para conquista de posições no Comitê Permanente, mas precisamente como essas possibilidades se desenrolaram, se é que de fato ocorreram, não está claro.

Fotos coloridas ousadas nas primeiras páginas dos jornais estatais, particularmente dos protestos em frente à embaixada japonesa em Pequim, serviram como evidência de que a liderança do país aprovou as manifestações, e sugeriram que, em certos aspectos, até mesmo foram organizadas pelo governo, disseram diplomatas.

Fotos de protestos raramente são vistas na mídia estatal, eles notaram. Ao divulgá-las, o governo enviou uma mensagem ao povo chinês de que participar das manifestações era aceitável, disse um diplomata estrangeiro, que falou sob a condição de anonimato de acordo com o protocolo.

Funcionários municipais em Pequim, que normalmente patrulham os bairros locais, foram chamados por seus superiores às 4 horas da madrugada no dia de um dos protestos, conduzidos para os ônibus que os levaram ao local de protesto, em frente à embaixada japonesa, e lhes foi fornecido lanches, disse um dos funcionários. O trabalho deles era fornecer segurança, juntamente com a polícia.

À medida que aumentava a intensidade das manifestações, cresciam os sinais de que elas poderiam sair de controle. Vários manifestantes em Pequim carregavam cartazes dizendo "Diaoyu pertence à China, Bo pertence ao povo". Era uma referência a Bo Xilai, o ex-chefe do Partido Comunista que caiu em desgraça da cidade de Chongqing, no oeste, que contava com um crescente número de seguidores antes de sua queda do poder neste ano, depois que sua esposa foi acusada de assassinar um parceiro de negócios britânico.

Esses cartazes foram discretamente removidos das mãos dos manifestantes por seguranças à paisana posicionados entre a multidão, disse uma pessoa que assistia um dos protestos em frente à embaixada japonesa.

Alguns poucos cartazes exibindo retratos do falecido líder chinês Mao Tse-tung se destacavam entre as bandeiras chinesas carregadas pela maioria dos manifestantes. Um manifestante em Shenzen, no sul, foi ouvido na televisão dizendo: "Abaixo o comunismo!"

Mas o fim dos protestos não significa o fim da fúria contra o Japão.

Em uma reunião em Pequim neste mês, acadêmicos ocidentais ficaram espantados com a profundidade da hostilidade em relação ao Japão entre os especialistas em política externa chineses.

Houve conversa de "conflito" para ensinar uma lição ao Japão, disse John DeLury, um professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Estudos Internacionais da Universidade Yonsei, em Seul, Coreia do Sul, por algo que os chineses veem como uma tomada inaceitável de um território que historicamente pertenceu a eles.

Com uma nova liderança em Pequim prestes a assumir o controle, enquanto o Japão pode vir a ter um governo conservador liberal-democrata sob o mais linha-dura Shinzo Abe nas eleições do ano que vem, uma redução das tensões parece remota, disse Ren Xiao, um ex-diplomata chinês que serviu na embaixada chinesa em Tóquio.

"Eu considero menos provável que a nova liderança chinesa faça concessões", disse Ren, atualmente professor de política internacional da Universidade Fudan, em Xangai. "O mesmo vale para um possível governo do Partido Liberal Democrata no Japão. Esse é o motivo para eu estar muito preocupado com as relações sino-japonesas."

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