terça-feira, 2 de outubro de 2012

A pouco mais de um mês para renovação oficial, Partido Comunista chinês ainda está incerto em relação às mudanças


Restando apenas seis semanas para a apresentação formal dos novos líderes da China, os anciões e as mais importantes autoridades do Partido Comunista ainda estão trabalhando para concluir as decisões sobre quem ascenderá aos mais altos órgãos de governo e qual será a direção das políticas que a nova equipe adotará, disseram analistas e pessoas de dentro do meio político.

Após quase um ano no qual o planejamento da sucessão foi perturbado por uma série extraordinária de escândalos, os líderes e anciões finalmente concordaram em 8 de novembro como sendo a data para início do 18º Congresso do Partido, o clímax daquela que é apenas a segunda transferência pacífica de poder na era comunista da China. Grande parte do vai e vem em torno da sucessão, que as autoridades tentaram manter em segredo, envolve negociações em troca de posições de liderança entre uma facção liderada pelo presidente Hu Jintao e a leal ao seu antecessor, Jiang Zemin.

Em recentes negociações, Jiang e seus aliados, que incluem Xi Jinping, o suposto sucessor de Hu, pareceram estar em vantagem, disseram várias pessoas de dentro do meio político. A presença de Jiang em um concerto no centro de Pequim em 22 de setembro foi interpretada por alguns como um sinal para o público de que ele ainda era uma força, e talvez triunfante, no jogo político.

Um golpe sofrido por Hu recentemente foi o desdobramento discreto de um escândalo envolvendo um político poderoso, Ling Jihua, que é o negociador de Hu. Agora outro ponto de estresse está se tornando evidente: Hu parece estar na defensiva em torno de seu legado, devido às crescentes críticas de que as políticas aprovadas durante sua década no poder foram responsáveis pelo crescimento excessivo das forças de segurança e estagnaram as reformas da economia chinesa, que eram necessárias para manter seu dinamismo.

“No momento, eu acho que Hu deve estar se sentindo muito preocupado, por causa das críticas que tem recebido de tanta gente de dentro e de fora do partido”, disse um intelectual do partido, com laços com a liderança. “Alguns dizem que ele é o pior líder da China desde 1949. Os conflitos na sociedade se intensificaram; as tendências monopolistas e antimercado na economia se intensificaram; e não ocorreu nenhum progresso real nas reformas.”

Os planos para a agenda política e algumas vagas na nova liderança foram fortemente disputados e realizados de modo fechado. Várias pessoas com laços com os líderes, que geralmente tomam conhecimento dos detalhes do congresso do partido com bastante antecedência, disseram que nem mesmo tinham conhecimento da data de início até pouco antes do anúncio.

Nas últimas semanas, uma disputa territorial com o Japão e estatísticas econômicas decepcionantes que apontam para uma desaceleração preocupante adicionaram estresse às negociações políticas. Mas um fator mais importante por trás da incerteza e demora, dizem pessoas de dentro do meio político, foi a série de escândalos.

As ondas ainda estão sendo sentidas. Na sexta-feira (28), juntamente com o anúncio da data do congresso do partido, os líderes chineses disseram que Bo Xilai, que caiu neste ano devido a um escândalo sísmico, seria expulso do partido e processado por uma série de acusações, incluindo aceitação de propina e abuso de poder.

“Pequim precisa limpar isso antes do 18º Congresso do Partido”, disse Li Datong, um ex-editor de uma seção liberal do “China Youth Daily”, um jornal estatal. “Ele não pode deixar os problemas deste governo para o próximo.” Fora a queda de Bo – que foi precipitada pelas acusações de que sua esposa assassinou um empresário britânico– o maior escândalo foi a morte do filho de Ling, que foi chefe do Escritório Geral do partido. O filho morreu sob circunstâncias indecorosas, envolvendo um acidente com uma Ferrari em março. Em parte como consequência, Ling foi transferido em 1º de setembro de seu posto no Escritório Geral para outro cargo, muito antes da mudança de cadeiras que deveria ocorrer.

Em meio à intriga e às disputas entre facções, pessoas de dentro do meio político disseram que as reuniões no final de julho e em agosto em Pequim e em Beidaihe, um resort praiano ao leste da capital, não produziram resultados substanciais. Os anciãos e líderes do partido não tomaram grandes decisões sobre políticas para a liderança de entrada e nem finalizaram as nomeações para o Comitê Permanente do Politburo, que atualmente conta com nove membros e governa a China por consenso.

A composição do comitê permanente será a decisão observada mais atentamente no congresso. No último dia, as pessoas escolhidas para ocupar as cadeiras deverão marchar até um palco no Grande Salão do Povo, a oeste da Praça Tiananmen.

Xi,filho de um reverenciado líder guerrilheiro comunista, deverá assumir o cargo principal como chefe do partido, e Li Keqiang, escolhido para ser o próximo primeiro-ministro, quase certamente receberá o segundo cargo mais importante. Xi desapareceu dos olhos públicos por duas semanas no início de setembro, supostamente devido a uma lesão, e isso alimentou os rumores sobre tensões em torno dos preparativos para o congresso. Seu reaparecimento não acalmou os rumores.

Corre a especulação em torno dos outros candidatos potenciais ao Comitê Permanente, que muitos preveem que poderá encolher para sete membros. Além dos dois principais, três homens são vistos no momento como apostas seguras: Li Yuanchao, o atual chefe do poderoso Departamento de Organização e que deverá ser o próximo vice-presidente; Wang Qishan, o vice-primeiro-ministro; e Zhang Dejiang, o chefe do partido de Chongqing.

Mas após numerosas reviravoltas, vários outros candidatos de ponta não parecem ter garantido uma cadeira. Eles incluem Yu Zhengsheng, o chefe do partido de Xangai; Wang Yang, chefe do partido da província de Guangdong; Zhang Gaoli, chefe do partido de Tianjin; e Liu Yunshan, diretor do Departamento de Propaganda. Se o comitê permanente permanecer com nove membros, Liu Yandong, a mais alta autoridade chinesa do sexo feminino e integrante do Conselho de Estado, teria uma maior chance de ter uma cadeira, disseram analistas.

Tanto Hu quanto Xi estão entre aqueles pressionando pela redução do tamanho do Comitê Permanente, para fortalecer a tomada central de decisões, segundo várias pessoas que têm acompanhado as negociações. Um corpo menor provavelmente significaria uma subordinação da pasta de lei e ordem, que supervisiona o aparato de segurança doméstica que muitas acham que se tornou poderoso demais.

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