Ataque a representação americana na Líbia indica que a rede Al-Qaeda se adapta aos golpes sofridos desde 2001 e continua sua cruzada contra o Ocidente, passados 11 anos do 11 de setembro e um ano da execução de Osama bin Laden
Acima, Ayman Al-Zawahiri, atualmente o líder da Al-Qaeda |
O pretexto alegado para a fúria antiamericana foi o filme A inocência dos muçulmanos, produção de qualidade sofrível lançada na internet, que retrata de maneira pejorativa o profeta Maomé, fundador do islã. Autoridades líbias e americanas prontamente identificaram uma ação planejada e premeditada, mais que uma manifestação espontânea. A própria rede terrorista fundada por Osama bin Laden encarregou-se de desfazer dúvidas e assumiu a autoria do atentado, como vingança pela perda de Al-Libi. No mesmo comunicado, assinado pela Al-Qaeda da Península Arábica (AQAP, em inglês), o braço da organização no Iêmen, veio a convocação para novos ataques e manifestações "com um único objetivo: expulsar as embaixadas norte-americanas dos países muçulmanos".
"A Al-Qaeda não está acabada e os elementos associados e inspirados por ela multiplicaram o risco para o Ocidente", alerta, em entrevista ao Correio, Aviv Oreg, coautor de Global jihad movement (Movimento da jihad global, em tradução livre) e oficial de inteligência israelense. Ele avalia que a organização de Bin Laden sofreu grandes retrocessos nos últimos anos, mas sobreviveu à ofensiva americana no Afeganistão e regenerou-se no Território Federal das Áreas Tribais — região semiautônoma no vizinho Paquistão, controlada por tribos da etnia pashtuns, a mesma que predomina do lado afegão. Ali, a Al-Qaeda preservou parte de sua infraestrutural formal e manteve em atuação seus mais importantes comitês. "É essa estrutura hierárquica precisa e estrita que tem protegido a rede do colapso total", comenta Oreg. De acordo com o especialista, a rede é capaz de preencher rapidamente as posições e reabilitar sua cadeia de comando, mantendo a performance operacional e logística.
Desde a ofensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a Al-Qaeda perdeu quatro chefes das Unidades de Operações Especiais, quatro líderes do Comitê Militar e cinco comandantes regionais e facilitadores logísticos. Mesmo nesse cenário, conseguiu reagrupar-se e mobilizar substitutos. Segundo Oreg, a organização terrorista montou uma liderança clandestina no Irã, composta pelos líderes mais talentosos. Em 2010, esses comandantes começaram a retornar para o Pasquistão, no posto dos antigos chefes. "Relatos recentes sugerem que esses líderes voltaram para o Irã depois da morte de Bin Laden, por motivos de segurança", observa o israelense. Os mais importantes comitês ainda operam com uma liderança alternativa.
Pontos de vista
A Al-Qaeda ainda tem condições de atacar os Estados Unidos?
"A mais recente informação, datada do fim de 2009, dá conta de que centenas de agentes ocidentais foram treinados pela Unidade de Operações Especiais da Al-Qaeda e enviados para seus países de origem. Algumas dessas células foram desmanteladas — uma delas, liderada por Najibullah Zazi, pretendia explodir o metrô de Nova York. Outras planejam ataques. O atual chefe da Unidade de Operações Especiais da Al-Qaeda é Adnan Sukrijuma, que é piloto de aviação e cidadão norte-americano. Isso foca sua atenção especial no solo americano, para vingar Bin Laden."
Aviv Oreg, coautor de Global Jihad Movement e oficial de inteligência israelense
"A liderança da Al-Qaeda é uma concha vazia, se comparada a vários anos atrás. A morte de Abu Yahya Al-Libi, conselheiro religioso da rede e considerado seu homem mais carismático, eliminou qualquer esperança de recuperação dos danos causados pelo contraterrorismo. Sem essa liderança, os afiliados da Al-Qaeda e o movimento da jihad global voltarão ao status quo anterior, perseguindo agendas locais. Todas as células dormentes da Al-Qaeda foram ativadas ou desmanteladas. Seus líderes atuais têm uma capacidade operacional muito limitada."
Jarret Brachman, ex-analista da CIA e autor de Global jihadism: theory and practice (Jihadismo global: teoria e prática)
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