segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Rebeldes sírios recebem tratamentos gratuitos em hospitais turcos
Em Antakya, na Turquia, rebeldes sírios feridos estão recebendo tratamento gratuito nos hospitais públicos da cidade. Um paciente chamado Yasser está atualmente se recuperando de ferimentos por arma de fogo. Ele diz que deseja retornar à luta, mas só depois que tirar a sua família da Síria.
Hoje em dia os rebeldes sírios parecem saber mais sobre o hospital público da cidade turca de Antakya - conhecida na antiguidade como Antioquia - do que os profissionais de saúde que lá trabalham. As enfermeiras, os médicos e os funcionários turcos sequer sabem ao certo quantos sírios estão sendo atualmente tratados no hospital. Mas Yasser sabe. "Atualmente 50 combatentes do Exército Sírio Livre estão recebendo tratamentos médicos", afirma ele. "Três deles estão na unidade de ortopedia; por favor, me acompanhem". Ele segue mancando pelos corredores da ala de emergência, que está repleta de pacientes.
A única coisa que revela que Yasser é um rebelde ferido é a atadura grossa que envolve o seu pé esquerdo. Com a sua camisa Adidas, boné de beisebol e sandálias, esse homem de 30 anos de idade e ar jovial poderia muito bem passar por um viajante de férias. Ele está também tão debilitado que é difícil imaginá-lo portando um fuzil Kalashnikov AK-47. Mas, há apenas dois meses, ele estava usando uma arma dessas pela primeira vez para disparar contra os soldados do presidente sírio Bashar Assad.
"A minha casa estava ameaçada", conta Yasser. "Por isso, eu peguei a minha arma. Eu tinha que proteger a minha família". Ele é nativo de Haffa, uma pequena cidade na zona montanhosa ao longo da costa síria. Em junho, a cidade foi manchete nos jornais do mundo quando o exército sírio deu início a uma ofensiva contra ela usando artilharia e helicópteros de combate. O exército permitiu que observadores das Nações Unidas entrassem em Haffa pela primeira vez em meados de junho. Àquela altura, pouca gente podia ser encontrada em Haffa.
Ameaças de prisão e morte aos rebeldes feridos
A mulher de Yasser fugiu com a filha de dois anos de idade para a região do Monte Aqra, que fica algumas dezenas de quilômetros ao norte, onde ela ainda está se escondendo na companhia de outros refugiados. Mas Yasser não a acompanhou, tendo se escondido com um grupo de 35 outros rebeldes perto da cidade. Eles participaram de várias batalhas contra soldados sírios e milícias aliadas do regime de Assad. Essa situação persistiu até o dia 9 de julho. Naquela ocasião, Yasser teve um pressentimento negativo. "Eu sabia que algo de ruim iria acontecer naquela segunda-feira", conta ele. Naquela tarde, duas balas atingiram o seu pé, esfacelando os ossos do metatarso. Naquela noite, os rebeldes foram obrigados a recuar.
A seguir eles tiveram que fazer uma viagem perigosa. Os rebeldes feridos não podiam procurar tratamento nos hospitais sírios, já que os seus ferimentos fariam com que eles fossem imediatamente identificados como oponentes do regime. Quando são capturados, eles sofrem ameaças de prisão e até de morte. Por isso, os insurgentes criaram uma rede de clínicas improvisadas, mas mesmo estas instalações não são inteiramente seguras para os feridos. Se as tropas governamentais identificarem instalações médicas pertencentes aos rebeldes, elas podem rapidamente atacá-las.
Os rebeldes colocaram Yasser em um carro e o levaram até uma localidade próxima à fronteira com a Turquia. Eles o carregaram durante o último quilômetro para não possibilitar que ele fosse descoberto pelos guardas de fronteira sírios. A seguir, eles o colocaram deitado em um ponto do outro lado da fronteira e telefonaram para o hospital público de Antakya, que despachou uma ambulância para transportá-lo.
"Quero retornar o mais rapidamente possível"
"Eu estou seguro em Antakya", diz Yasser. "Aqui eu tenho como curar o meu pé ferido". Os médicos colocaram duas hastes de metal no pé dele para possibilitar a recuperação do osso fragmentado.
Todas as noites, ambulâncias seguem de Antakya para a fronteira entre a Turquia e a Síria para pegar homens feridos. Os rebeldes sírios são tratados gratuitamente em três hospitais desta cidade de 200 mil habitantes. Eles recebem acomodação em um campo de refugiados próximo e são transportados em ônibus para os hospitais. "Isso que o governo turco está fazendo por nós é muito bom", afirma Yasser. Ele deseja trazer a família para a Turquia. "A vida no campo de refugiados pode não ser boa, já que não temos nada para fazer, mas pelo menos aqui temos segurança".
Quase todos os sírios que aguardam tratamento no hospital de Antakya são oriundos da região da costa norte da Síria, onde sunitas estão travando combates com alauitas. Vários refugiados acusam as tropas governamentais e as milícias de expulsarem deliberadamente os sunitas da região, que é considerada a terra ancestral dos alauitas, uma seita muçulmana minoritária da qual Assad é membro.
Mas poucos dos feridos oriundos da província de Idlib, no norte do país, ainda podem ser encontrados em Antakya. Ao que parece, o controle dos rebeldes sobre Idlib é atualmente tão sólido que eles são capazes de fornecer tratamento aos feridos na própria região. "Não resta nada do regime de Assad em Idlib", afirma um rebelde.
Quanto a Yasser, ele não deseja permanecer em Antakya. "Eu estou aqui apenas para me recuperar", explica ele. O rebelde ferido quer ficar aqui por mais dez dias, quando, segundo ele, o seu pé deverá estar "mais ou menos bom". "Eu quero retornar o mais rapidamente possível para a luta", diz Yasser.
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